Ibovespa chega a cair mais de 3% com risco fiscal e IPCA alto
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa chegou a afundar mais de 3% nesta quinta-feira, caindo abaixo de 110 mil pontos, refletindo preocupações com os próximos passos do governo eleito, principalmente no campo fiscal, e pressionado ainda por um IPCA acima do esperado e nova leva de balanços corporativos.
Dados dos Estados Unidos sobre inflação chegaram a reduzir as perdas no pregão brasileiro, mas o Ibovespa voltou a acentuar o declínio, renovando mínima do dia, depois de declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Às 12:13, o Ibovespa caía 2,88%, a 110.305,72 pontos. Na mínima, chegou a 109.696,71 pontos. O volume financeiro somava 18,2 bilhões de reais.
Em Brasília, Lula afirmou que há gastos públicos que têm que ser considerados como investimentos e qual voltou a criticar o mecanismo de teto de gastos, afirmando que ele deve ser discutido com a mesma seriedade que questões sociais do país.
De acordo com o analista Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, o mercado já estava estressado com o IPCA acima das expectativas nesta quinta-feira e as sinalizações no campo fiscal na véspera, e as declarações de Lula minaram ainda mais o humor dos agentes financeiros.
Komura afirmou que a perspectiva de que despesas sociais sejam excluídas do teto de gastos permite a interpretação de que o governo teria uma "carta branca" para gastar, sem pensar em responsabilidade fiscal.
"O mercado está estressado e deve continuar por mais que tenha fluxo estrangeiro", avaliou, observando frustração entre agentes em razão de discursos recentes envolvendo a PEC da Transição.
Essa PEC está sendo proposta pelo futuro governo para garantir financiamento fora do teto de gastos para promessas de campanha, como a manutenção do programa social em 600 reais e o aumento real do salário mínimo.
"A equipe de transição de Lula caminha para solucionar o impasse do orçamento com a PEC de Transição aparentemente, o que adiciona mais gastos sem apontar fontes claras de financiamento. Um mal sinal para um começo de governo", afirmou a Guide Investimentos em relatório antes da abertura da bolsa.
Em Wall Street, o S&P 500 disparava 4% após dados mostrarem que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentaram menos do que o esperado em outubro. Isso alimentou expectativas de que o Federal Reserve possa reduzir o tamanho de futuras altas de juros.
Para Komura, isso mostra que a economia norte-americana está desacelerando, que política monetária está surtindo efeito, o que pode levar o Fed a "pegar mais leve" na próxima reunião, reduzindo o ritmo de alta do juro para 0,50 ponto percentual.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caía 2,86%, a 26,13 reais, ainda vulnerável a especulações sobre os potenciais reflexos da troca do governo a partir de 2023 nos negócios. No exterior, o preço do petróleo Brent tinha variação negativa de 0,22%.
- BANCO DO BRASIL ON perdia 1,78%, a 36,4 reais, contaminado pelo viés vendedor na bolsa e incertezas com a mudança de governo, que ofuscavam resultados trimestrais e projeções surpreendentemente positivas divulgadas na quarta-feira.
- VALE ON tinha alta de 2,34%, a 74,86 reais, freando a pressão de baixa no Ibovespa. O movimento vinha na contramão dos preços do minério de ferro na China, onde o contrato mais líquido na bolsa de Dalian caiu 1,4%.
- HAPVIDA ON despencava 10,01%, a 6,65 reais, apesar do salto no lucro líquido do terceiro trimestre, para 679 milhões de reais, enquanto voltou a registrar crescimento na sinistralidade.
- AZUL PN cedia 12,43%, a 13,31 reais, apesar de reduzir o prejuízo líquido ajustado no terceiro trimestre, em período marcado por receita líquida recorde, mas elevação de 85% no preço de combustível e efeito cambial negativo. No pano de fundo, o dólar avançava quase 3% ante o real.
- ULTRAPAR ON subia 0,81%, a 13,67 reais, a despeito do tombo de 78% no lucro líquido do terceiro trimestre, mas a receita líquida cresceu 24%, com destaque para a divisão Ipiranga, principal operação do grupo.
- REDE D'OR ON avançava 1,39%, a 32,75 reais, também entre as poucas altas do Ibovespa na sessão, tendo de pano de fundo expansão de 20% no resultado operacional medido pelo Ebitda, com aumento de margem.
- POSITIVO ON cedia 7,45%, a 10,06 reais, mesmo após reportar avanço anual de 37,4% no Ebitda ajustado do terceiro trimestre, com expansão de margem. O lucro líquido, porém, caiu 6%, em parte por causa de aumento nos custos de insumos.
- CARREFOUR BRASIL ON caía 9,62%, a 16,53 reais, em meio a uma queda de quase 60% no lucro líquido do terceiro trimestre, pressionado pelos efeitos da alta da taxa de juros na dívida da varejista, que inflou após aquisição do Grupo BIG, bem como dos custos de conversões de lojas da rival incorporada.
- BRF ON recuava 6,93%, a 11,15 reais, após prejuízo líquido de 137 milhões de reais para o terceiro trimestre, em meio a um cenário adverso para o consumo no mercado interno e necessidades de melhora operacional.
- NATURA&CO ON cedia 5,86%, a 12,37 reais, após tocar mínima intradia desde julho de 2017 a 11,82 reais, na esteira de seu terceiro prejuízo trimestral consecutivo. A empresa também descontinuou projeções à medida que aprofunda os esforços de reestruturação.
- MRV&CO ON declinava 7,2%, a 8,77 reais, diante da forte queda no lucro do terceiro trimestre, com recuo nas vendas no Brasil e receitas zeradas da unidade norte-americana Resia. Mas a empresa sinalizou melhora futura das margens com repasse aos clientes de preços maiores de insumos.