Dólar à vista fecha em queda de 1,36%, a R$5,0524 na venda, e tomba 4,71% na semana
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar tombou nesta sexta-feira a seu patamar mais fraco em mais de dois meses, aproximando-se da marca de 5 reais, acompanhando a fraqueza da divisa norte-americana no exterior em meio a expectativas de relaxamento de restrições sanitárias na China e a dados de emprego mistos nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a manutenção de ingressos de recursos estrangeiros no Brasil após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi uma pressão adicional para o dólar, que registrou nos dias que se seguiram ao segundo turno presidencial no domingo seu pior desempenho semanal desde o final de julho.
O dólar à vista caiu 1,36% nesta sexta, a 5,0524 reais, menor patamar para encerramento desde 29 de agosto(5,0330). Na semana, que foi encurtada por feriado nacional na quarta-feira, a moeda norte-americana despencou 4,71%, maior queda desde o período findo em 29 de julho (-5,91%).
Colaborando para o apetite por risco global nesta sessão, a China fará mudanças substanciais em sua política de "Covid-zero" nos próximos meses, disse uma ex-autoridade de controle de doenças do país em uma conferência organizada pelo Citi, de acordo com uma gravação da sessão ouvida pela Reuters.
Os preços do petróleo saltaram em meio ao otimismo sobre a China, assim como outras commodities importantes, como o minério de ferro. Isso impulsionou várias moedas sensíveis a esse tipo de produto, como dólar australiano e rand sul-africano, que ganhavam cerca de 3% nesta tarde.
Enquanto isso, nos EUA, dados mostraram que empregadores do país contrataram mais trabalhadores do que o esperado em outubro, mas o aumento da taxa de desemprego para 3,7% sugere algum afrouxamento nas condições do mercado de trabalho, o que permitiria ao Federal Reserve passar a adotar aumentos menores da taxa de juros a partir de dezembro.
Várias autoridades do banco central norte-americano disseram nesta sexta que estão abertas a desacelerar o ritmo de aperto monetário, embora algumas tenham alertado para a possibilidade de o patamar final dos juros ficar acima do que o esperado pelos mercados, ecoando mensagem recente do chair do Fed, Jerome Powell.
Na esteira dos dados de emprego e dos comentários de autoridades de política monetária, o índice que compara o dólar a uma cesta de pares fortes despencava 1,9% nesta sessão.
Já na cena doméstica, alimentou a força do real nesta sexta e no acumulado da semana o início de uma transição de poder mais "saudável" do que os mercados temiam após o resultado das eleições presidenciais, disse à Reuters Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research.
Alguns investidores também têm atribuído a boa reação dos mercados ao resultado da eleição à visão benigna de agentes estrangeiros sobre a agenda de Lula, muito mais alinhada à governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) do que a do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com Sung, o foco do mercado deve ficar a partir de agora nas discussões em torno da "PEC da transição", que sugerirá exceções à regra do teto de gastos no ano que vem para garantir o cumprimento de promessas de campanha do presidente eleito, bem como nas especulações sobre quem chefiará a pasta econômica de Lula.
Com o risco de uma "bomba fiscal" para 2023, a indicação de um ministro da Fazenda que traga uma "âncora de credibilidade" para os mercados é essencial para acalmar temores sobre a agenda econômica do próximo governo e pode ter impacto positivo sobre os ativos brasileiros, disse o economista da Suno.
A Santander Asset disse em relatório desta sexta-feira que o "ambiente econômico (brasileiro) se mostra mais construtivo para o momento pós-eleições".
A inflação brasileira vem dado sinais de arrefecimento e o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% em suas duas últimas reuniões. Agentes do mercado notam esse cenário como um fator de impulso para os ativos do Brasil, principalmente na comparação com economias desenvolvidas, que estão sofrendo com uma pressão de preços persistente e um aperto monetário intenso ainda em andamento.
A Santander Asset espera que o dólar encerre tanto este ano quanto o próximo em 5,10 reais.
(Edição de Isabel Versiani)