BCE eleva juros de novo e corta subsídios a bancos
Por Balazs Koranyi e Francesco Canepa
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu aumentou as taxas de juros de novo nesta quinta-feira e anunciou mudança nos termos de seus empréstimos ultrabaratos a bancos comerciais, em uma tentativa de encolher seu balanço inchado e combater a inflação recorde.
Temendo que o rápido crescimento dos preços esteja se tornando arraigado, o BCE está aumentando os custos de empréstimos no ritmo mais rápido já registrado, com mais altas praticamente certas já que desfazer uma década de estímulo pode muito bem tomar o próximo ano e além.
O banco central dos 19 países que compartilham o euro aumentou a taxa de depósito em mais 0,75 ponto percentual, levando-a ao nível mais alto desde 2009, de 1,5%. Até julho, as taxas do BCE estavam em território negativo havia oito anos.
"O Conselho do BCE tomou a decisão de hoje, e espera aumentar ainda mais as taxas de juros, para garantir o retorno oportuno da inflação para...2%", disse o BCE.
Em entrevista à imprensa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou que embora a guerra na Ucrânia e outras incertezas globais signifiquem que a economia da zona do euro enfrenta uma série de riscos negativos, os riscos para a inflação são de alta.
"Dados de salários e recentes acordos salariais indicam que o crescimento dos salários pode estar acelerando", disse ela sobre o possível surgimento de futuras espirais salário-preços, destacando que o banco está monitorando as expectativas para a inflação no longo prazo.
Os mercados esperam que o ritmo de aumentos desacelere, com a taxa de depósito atingindo 2% em dezembro e depois um pico de cerca de 3% em algum momento de 2023, embora a perspectiva de volatilidade torne esse cronograma propenso a mudanças.
Questionada sobre preocupações demonstradas por alguns governos da zona do euro de que os aumentos de juros pelo BCE pode levar a região à recessão, Lagarde disse que o BCE tem o mandato de combater a inflação e pediu aos governos que busquem cuidadosamente suporte para os cidadãos diante da crise energética de forma a não piorar a inflação.
O BCE não deu indicações por enquanto sobre planos para começar a reduzir sua carteira de títulos, depois de acumular trilhões de euros em dívida emitida pelos governos da zona do euro desde 2015.
BALANÇO
Com a inflação a 9,9% na zona do euro, o BCE também deu os primeiros passos nesta quinta-feira para encolher seu balanço patrimonial de 8,8 trilhões de euros, uma medida que deve aumentar ainda mais os custos de empréstimos e pode funcionar como uma espécie de aumento disfarçado de juros.
Em uma medida que pode ser criticada pelos bancos comerciais, o BCE reduziu o subsídio que fornece a esses credores por meio de 2,1 trilhões de euros em empréstimos ultrabaratos de três anos, chamados Operações de Refinanciamento Direcionadas de Longo Prazo, ou TLTROs.
"Em vista do inesperado e extraordinário aumento da inflação, elas (TLTRO) precisam ser recalibradas para garantir que seja consistente com o processo mais amplo de normalização da política monetária e para reforçar a transmissão dos aumentos da taxa básica de juros às condições de empréstimos bancários", afirmou.
O BCE disse que a taxa de juros das operações de TLTRO será indexada às taxas de juros médias aplicáveis do BCE no futuro. O objetivo da mudança é incentivar o pagamento antecipado dos empréstimos.
Em outra mudança, o BCE também disse que as reservas mínimas serão remuneradas pela taxa de depósito, em vez da taxa principal, que está 0,50 ponto maior.