Dólar firma alta e supera R$5,35 com cena eleitoral tensa
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar firmava alta nesta terça-feira, estendendo seus ganhos depois de na véspera saltar ao ritmo mais acentuado em seis meses e operando acima dos 5,35 reais, à medida que o noticiário eleitoral doméstico ainda tenso elevava a demanda pela segurança da moeda norte-americana.
Às 10:06 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,03%, a 5,3560 reais na venda, abandonando indefinição de mais cedo. A divisa norte-americana estava nas máximas do pregão e rondando os níveis mais altos desde o último dia 13.
O real tinha o pior desempenho entre uma cesta de moedas globais nesta sessão.
Na B3, às 10:06 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,00%, a 5,3600 reais.
Investidores continuavam monitorando a cena política doméstica, depois que a prisão turbulenta de Roberto Jefferson, ex-deputado e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), desencadeou forte onda de aversão a risco nos mercados brasileiros na segunda-feira.
A moeda norte-americana à vista fechou a última sessão em alta de 2,94%, a 5,3012 reais, maior valorização diária desde 22 de abril (+4,07%) e patamar de encerramento mais alto desde segunda-feira da semana passada (5,3014 reais).
Agravando um cenário eleitoral já tenso, a campanha à reeleição de Bolsonaro afirmou na segunda-feira que rádios do país não têm veiculado adequadamente as inserções eleitorais do atual presidente, supostamente favorecendo o adversário no segundo turno da corrida pelo Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A situação me parece grave e uma escalada razoável na situação eleitoral", avaliou em nota Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. "Caso a campanha de Bolsonaro não apresente provas, a medida será vista como tentativa de fraude eleitoral e tentativa de 'bagunçar' e criar ruídos às vésperas da eleição."
Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, também citou incômodo dos mercados com novas críticas de Lula às atuais regras fiscais do país. O petista voltou a se manifestar contra o teto de gastos e também disse que não anunciará sua equipe econômica antes de ganhar o segundo turno da eleição presidencial.
"Cenário eleitoral está pesando aqui hoje", disse Bergallo. "Acredito que o mercado deve operar sem direção única até o final da semana. Principalmente pela agenda, e por conta do cenário externo, mas com a volatilidade acentuada em alguma medida por conta desta derradeira semana antes das eleições."
No exterior, o humor acanhado de investidores respaldava a alta do dólar no mercado doméstico. As ações listadas nas principais bolsas globais alternavam estabilidade e leve queda, enquanto a moeda norte-americana tinha desempenho misto frente a divisas de países emergentes, com agentes financeiros pesando temores sobre a saúde econômica da China contra esperanças de que o Federal Reserve modere seu ritmo de alta de juros.
De volta ao Brasil, investidores aguardavam a conclusão da reunião de política monetária do Banco Central, com expectativa de que a autarquia mantenha a taxa Selic em 13,75% ao ano na quarta-feira. Dados desta terça mostraram que o IPCA-15 teve em outubro alta de 0,16%, acima do esperado, depois de apresentar deflação por dois meses seguidos.