Dólar fecha estável ante real em sessão de reviravoltas e grande amplitude

Publicado em 13/10/2022 17:25

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou praticamente estável ao fim de uma sessão de reviravoltas e grande amplitude entre os menores e maiores patamares intradiários nesta quinta-feira, abandonando perdas registradas na parte da tarde depois de pela manhã ter saltado mais de 2%, acima de 5,38 reais, na esteira de dados de inflação norte-americanos mais altos do que o esperado.

A moeda norte-americana à vista fechou em 5,2723 reais na venda, praticamente inalterado em relação à cotação de encerramento de terça-feira, véspera do feriado do Dia de Nossa Senhora Aparecida no Brasil, de 5,2724 reais.

Na B3, às 17:16 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,37%, a 5,2955 reais.

Depois de saltar 2,08% pela manhã, a 5,3820 reais, o dólar perdeu fôlego ao longo da sessão e passou a ser negociado no vermelho por volta da metade do pregão. Na parte da tarde, a moeda acelerou as perdas momentaneamente e caiu 0,81% na mínima do dia, a 5,2298 reais, antes de recuperar algum terreno na reta final das operações. A diferença entre a cotação mais alta e a cotação mais baixa do dia foi superior a 15 centavos.

Para Leonel Mattos, analista de Mercado da StoneX, o momento de disparada do dólar visto pela manhã foi reflexo claro de dados de inflação dos Estados Unidos.

O índice de preços ao consumidor norte-americano subiu 0,4% no mês passado, acelerando a alta depois de avançar 0,1% em agosto, disse o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2%.

A surpresa para cima reforçou as expectativas de que o Federal Reserve adotará uma quarta alta consecutiva de 0,75 ponto percentual nos juros em sua reunião do próximo mês, e surgiu a possibilidade --antes desconsiderada-- de o banco central promover ajuste ainda mais agressivo, de 1 ponto completo.

Quanto mais agressivo é o Fed no aumento dos juros, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme investidores redirecionam capital para o mercado de renda fixa dos EUA.

"Porém, ao longo do dia, em um movimento ainda bastante inexplicado e confuso, o apetite por risco dos investidores foi se restabelecendo", disse Mattos. "É possível que os investidores tenham encontrado naquele pico (do dólar)... oportunidades de lucro, oportunidades de compra, e foram paulatinamente investindo em ativos arriscados."

Alguns participantes do mercado também citaram notícias de que o governo britânico estaria considerando mudar seus polêmicos planos de cortes de impostos como um fator de alívio para os mercados globais nesta quinta-feira.

Já Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, acredita que parte da resiliência do real --não apenas nesta quinta-feira, mas no ano como um todo, período em que o dólar cai 5,4% frente à divisa brasileira-- reflete fatores domésticos.

"Apostar a favor do dólar contra o real não tem sido fácil", disse ele à Reuters. "No relativo (a outras economias) a gente não está tão mal, pelo contrário. A gente está revisando o PIB para cima, o juro é alto para caramba, então é uma linha de defesa razoável para nossa moeda."

A taxa Selic está atualmente em 13,75%, após um ciclo intenso de aperto, tornando o real mais atraente para estratégias de "carry trade". Estas consistem na tomada de empréstimos em país de juros baixos e aplicação desses recursos em praça mais rentável.

"Os ventos contrários (externos) não parecem tanta novidade. Uma das pontas soltas que eu acho que a gente tem que entender e pode ter repercussões negativas para nosso câmbio é a definição da próxima regra fiscal que o Brasil vai viver", disse o economista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno do pleito presidencial, tem resistido a detalhar seus planos para a área fiscal do Brasil, mas afirmou diversas vezes que pretende abandonar o teto de gastos se vencer as eleições.

Já o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), cujo governo já flexibilizou o teto de gastos, pode precisar promover novas alterações nas regras fiscais do país caso reeleito de forma a conseguir cumprir promessas de campanha.

O Banco Original espera que o dólar encerre este ano em 5,25 reais, e vê patamar um pouco mais baixo para o final de 2023, de 5,15.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Cerca de 80 países chegam a acordo sobre comércio eletrônico, mas sem apoio dos EUA
Brasil terá bandeira verde para tarifa de energia em agosto, diz Aneel
Wall Street termina em alta com apoio de dados de inflação e ações de tecnologia
Ibovespa avança mais de 1% impulsionado por Vale e quase zera perda na semana; Usiminas desaba
Dólar acumula alta de quase 1% na semana em que real foi pressionado pelo iene
Podcast Foco no Agronegócio | Olho no mercado | Macroeconomia | Julho 2024