Vendas no varejo do Brasil têm em junho maior queda desde fim de 2021, e acima do esperado

Publicado em 10/08/2022 09:16 e atualizado em 10/08/2022 12:27

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -As vendas no varejo do Brasil chegaram ao fim do segundo trimestre com a maior queda mensal desde o final do ano passado, recuando mais do que o esperado em junho, com perdas disseminadas entre as atividades em meio à inflação elevada e o crédito apertado.

Em junho o setor registrou contração de 1,4% nas vendas na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado é o segundo seguido no vermelho, com o setor acumulando nesses dois meses perda de 0,8% na comparação com o bimestre anterior. Também foi a contração mais intensa desde dezembro do ano passado (-2,9%), e mais forte do que a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 1,0%.

Apesar das duas leituras negativas seguidas, as vendas varejistas encerrarem o segundo trimestre com ganho de 1,1% na comparação com os três primeiros meses do ano.

"Há uma perda de fôlego no terceiro bimestre frente aos anteriores. O segundo trimestre ainda tem um abril positivo que destoa e fica distinto do movimento da ponta", explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

“O que está por trás disso...é o crédito mais caro com juros elevados. A inflação continua fazendo muita pressão nas atividades, uma vez que em junho ela era ainda era muito pronunciada para combustíveis e alimentos", completou Santos.

Na comparação o mesmo mês do ano anterior, as vendas recuaram 0,3%, também pior do que a expectativa de estabilidade..

O desempenho do setor varejista brasileiro veio mostrando perda de força ao longo do ano, com medidas de auxílio do governo e a recuperação do emprego sendo compensadas pela inflação elevada e pelo aperto de crédito.

De acordo com o IBGE e com analistas, a renda adicional proporcionada por medidas do governo na primeira metade do ano acabaram sendo usadas para pagamento de dívidas e eventualmente para poupança.

"Boa parte desses recursos não vão para o consumo dessa vez, vão para ... esse endividamento. Diferente do ano passado, de 2020, não vai dar aquela sensação de compras muito mais fortes", disse o estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz.

O segundo semestre, entretanto, pode registrar novo fôlego, com a combinação da redução do ICMS de itens essenciais e aumento da renda das famílias com a PEC dos Benefícios, que tem por objetivo aumentar ou criar novos benefícios sociais.

ROUPAS E SUPERMERCADOS

Entre as oito atividades pesquisadas, sete tiveram retração no mês. As maiores influências sobre o índice geral foram exercidas pelas contrações de 5,4% nas vendas de tecidos, vestuário e calçados e de 0,5% em hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo.

A única atividade a apresentar crescimento das vendas em junho foi a de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, de 1,3%.

“Esse é um tipo de produto que, na maioria das vezes, você não consegue substituir. Isso aumenta o dispêndio de uma família que pode ter que gastar nessa atividade e diminuir o consumo em outras”, avaliou Santos.

O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve recuo no período de 2,3%. Tanto o setor de veículos e motos, partes e peças (-4,1%) quanto o de material de construção (-1,0%) recuaram.

O Banco Central elevou na semana passada a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,75%, em sua tentativa de domar a inflação elevada. Embora o BC tenha dito que avaliará a necessidade de ajuste residual nos juros em sua reunião de setembro, boa parte dos mercados parece acreditar que este ciclo de aperto monetário já chegou ao fim.

A autoridade monetária também alertou que o prolongamento de políticas temporárias de apoio à renda pode elevar prêmios de risco do país e as expectativas de inflação.

(Edição de Luana Maria Benedito)

Fonte: Reuters

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