Dólar estende perdas recentes e se aproxima de R$5,10 com foco em inflação de Brasil e EUA
O dólar caía acentuadamente frente ao real nesta segunda-feira, estendendo movimento de forte depreciação visto no final da semana passada em meio a fluxos para o Brasil e refletindo alívio no sentimento internacional neste pregão, enquanto investidores aguardavam a divulgação de dados de inflação domésticos e norte-americanos ao longo dos próximos dias.
Às 10:22 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,16%, a 5,1089 reais na venda.
Na B3, às 10:22 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,11%, a 5,1450 reais, rondando as mínimas do dia.
As perdas desta manhã vêm depois de a moeda norte-americana spot ter fechado a última sessão, na sexta-feira, em queda de 1,03%, a 5,1689 reais na venda, movimento desencadeado, segundo alguns agentes financeiros, por entradas de recursos nos mercados brasileiros diante da perspectiva de parada na alta dos juros pelo Banco Central do Brasil.
Nesta sessão, somava-se às circunstâncias locais um estímulo externo, já que o índice do dólar frente a uma cesta de rivais fortes recuava 0,30% por volta de 10h (de Brasília), devolvendo parte dos fortes ganhos registrados no final da semana passada, na esteira de um relatório de emprego norte-americano surpreendentemente forte.
A notícia de forte criação de vagas de trabalho fora do setor agrícola dos EUA inicialmente reforçou expectativas de um aperto monetário persistentemente agressivo pelo banco central do país, o Federal Reserve, o que seria favorável ao dólar, disse à Reuters Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
No entanto, ele citou "acomodação" no sentimento internacional desde então, com alguns participantes do mercado argumentando que o cenário econômico pode não se desenrolar de forma tão negativa quando o temido atualmente, visão reforçada por balanços positivos de várias empresas norte-americanas, o que abriu espaço para a compra de ativos considerados arriscados nesta segunda.
Esse ambiente pode mudar, no entanto, caso dados de inflação norte-americanos com divulgação agendada para quarta-feira surpreendam para cima, alertou Izac, já que isso alimentaria apostas numa postura ainda mais agressiva por parte do Fed.
Também ficará no radar de investidores domésticos a divulgação, na terça-feira, da leitura de julho do IPCA, que virá pouco depois da publicação da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Na semana passada, a autarquia elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,75%, e, embora tenha dito que avaliará a necessidade de ajuste residual nos juros, boa parte dos mercados parece acreditar que este ciclo de aperto monetário já chegou ao fim.
"O IPCA terá maior relevância para as apostas da próxima taxa Selic, uma vez que (o dado) vindo abaixo do esperado poderá dar maior confiança sobre o fim da alta na taxa básica de juros", escreveram estrategistas da Travelex.
Num geral, custos dos empréstimos elevados no Brasil costumam beneficiar o mercado de renda fixa local, impulsionando seus rendimentos e, consequentemente, atraindo recursos de investidores estrangeiros, o que costuma ajudar na valorização do real.
A Selic já subiu 11,75 pontos percentuais ante uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia de Covid-19.
Izac, da Nexgen, disse que o dólar pode descer ainda mais, à casa de 5,10 reais, ao longo do segundo semestre deste ano, depois de em meados de julho ter disparado acima de 5,50 em meio a cenário internacional adverso.