Dólar salta a R$5,07 com temores inflacionários antes de reuniões de BCs
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar saltava nesta segunda-feira, operando com folga acima da marca psicológica de 5 reais, com os mercados ainda abalados por dados recentes de inflação norte-americanos, em semana que terá como destaques as reuniões de política monetária dos bancos centrais de Brasil e Estados Unidos.
Às 10:15 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,72%, a 5,0752 reais na venda, rondando os maiores patamares do dia. Caso mantivesse esse patamar até o fim dos negócios, a divisa registraria uma máxima para encerramento desde 12 de maio passado (5,1424 reais).
Na B3, às 10:15 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,77%, a 5,1060 reais.
O real não estava isolado no vermelho em relação ao dólar. A maioria das principais divisas do mundo caía acentuadamente no dia, com peso mexicano, peso chileno e rand sul-africano entre os destaques negativos, cedendo de 1,5% a 2,2%. Frente a uma cesta de rivais de países ricos, a moeda norte-americana ganhava 0,25% no dia, aproximando-se de um pico em duas décadas atingido no mês passado.
Os mercados "estão dando continuidade à forte aversão a risco verificada na segunda metade da semana passada e acelerada após a divulgação dos dados de inflação nos EUA na sexta-feira", disse em blog Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou no final da semana passada que seu índice de preços ao consumidor acelerou a alta a 1% em maio, contra 0,3% em abril e expectativa de taxa de 0,7%. O avanço acumulado em 12 meses foi de 8,6%, o mais intenso desde dezembro de 1981, com os preços da gasolina atingindo um pico recorde.
A leitura desencadeou fortes temores de que o Federal Reserve optará por aumentos mais agressivos dos juros de forma a conter a disparada da inflação, o que poderia minar a atividade da maior economia do mundo num momento já desafiador, em meio à guerra na Ucrânia e a riscos de novos lockdowns da Covid-19 na China.
Isso levou a uma inversão na curva de juros entre os rendimentos dos títulos soberanos de dois e dez anos dos Estados Unidos --movimento que geralmente prenuncia uma recessão nos próximos um ou dois anos.
"A inversão da curva de juros nos EUA... é um indicador preocupante para a dinâmica dos mercados. O Brasil, por ora, será refém desta aversão a risco internacional", disse Kawa.
Contratos futuros vinculados aos juros básicos dos Estados Unidos mostravam nesta manhã probabilidade de 30% de adoção de aumento de 0,75 ponto percentual pelo Federal Reserve em sua próxima reunião de política monetária, que começa na terça e termina na quarta-feira desta semana. Para o encontro de julho, a chance de elevação de 0,75 ponto era de mais de 80%.
O Fed aumentou os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual em março passado, ajuste que foi seguido de alta mais intensa, de 0,50 ponto, em maio. Até poucos dias atrás, o consenso nos mercados era de que o banco central norte-americano manteria esse ritmo de aperto pelas próximas duas reuniões, pelo menos.
No Brasil, o Banco Central também se encontra para discutir a política monetária nesta semana, nas mesmas datas que o Fed. A maior parte dos participantes do mercado espera a adoção de um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, para 13,25%.
O Goldman Sachs compartilha dessa visão, disse o banco em relatório do final da semana passada, embora espere que o Copom deixe a porta aberta para outra alta moderada da Selic na reunião de agosto. A instituição também não descarta o fim do ciclo de aperto monetário na reunião desta semana com um ajuste acima dos 0,50 ponto esperado pelo mercado, citando "efeitos defasados de uma postura monetária já claramente restritiva" e "maior incerteza geopolítica e econômica global em meio à alta volatilidade financeira".
Quanto mais alta a Selic, mais atraente tende a ficar o real para investidores que utilizam estratégias de "carry trade", que buscam lucrar com a compra de moedas de retornos elevados.
Com o desempenho desta sessão, o dólar ficava 10% acima da mínima de encerramento deste ano, de 4,6075 reais, embora ainda caia 9% no acumulado de 2022.