Dólar tem queda acentuada contra real com Copom e fiscal no radar

Publicado em 10/08/2021 14:53

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar acelerava as perdas em relação ao real nesta terça-feira, com os participantes do mercado reagindo à ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e digerindo as mudanças previstas na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios.

Às 14:10, o dólar recuava 1,04%, a 5,1914 reais na venda, após uma manhã marcada por volatilidade. A moeda oscilou entre 5,2640 na máxima e 5,1854 reais na mínima do pregão.

Na B3, o dólar futuro tinha queda de 0,60%, a 5,218 reais.

Fornecendo apoio ao real, a ata do Copom, divulgada mais cedo, indicou que apertos seguidos e sem interrupção nos juros básicos são necessários para levar a taxa Selic para patamar acima do neutro, para que assim as projeções de inflação fiquem na meta.

Dados desta terça-feira mostraram que a inflação oficial brasileira acelerou com força em julho e atingiu o nível mais alto para o mês em quase 20 anos ainda sob intensa pressão dos preços da energia elétrica, levando a taxa acumulada em 12 meses a encostar em 9%.

"As pressões inflacionárias altas e em disseminação, pressões intensas na inflação de custos e a perspectiva construtiva para a atividade durante o segundo semestre de 2021 e mais estímulo fiscal devem levar o Banco Central a continuar a normalizar a política monetária e, possivelmente, antecipar e acelerar o caminho até a neutralidade da política monetária", escreveu Alberto Ramos, do Goldman Sachs, em relatório.

Juros mais altos no Brasil tendem a elevar a atratividade do mercado de renda fixa local, intensificando a entrada de recursos estrangeiros e, consequentemente, elevando a oferta de dólares no país. Desta forma, a tendência é de desvalorização da moeda norte-americana.

Enquanto isso, no front fiscal, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, afirmou nesta terça-feira que o Brasil como ente soberano tem capacidade de honrar o pagamento na íntegra dos precatórios, mas que o governo propôs uma PEC para parcelar essa conta para compatibilizar o crescimento "extraordinário" dessa despesa com a regra do teto de gastos.

O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, disse que, sem a PEC, o governo será obrigado a pagar a conta de precatórios de 89,1 bilhões de reais em 2022, o que inviabilizaria várias despesas públicas.

Com a novela dos precatórios, que ressalta a fragilidade fiscal do país, salto da inflação e uma economia ainda em recuperação, "o cenário não é dos mais positivos internamente", explicou à Reuters Alexandre Netto, head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos.

Descrevendo a desvalorização do dólar nesta terça-feira como um "alívio pontual" devido à ata do Copom, ele disse que a tendência é de que os ruídos fiscais e políticos ganhem cada vez mais força à medida que a corrida eleitoral se aproxima. Os brasileiros vão às urnas escolher um novo presidente em outubro de 2022.

Enquanto isso, no exterior, o índice do dólar continuava em patamares elevados. Recentemente, sinais de melhora no mercado de trabalho dos Estados Unidos elevaram as apostas de que o Federal Reserve vai reduzir seu programa de compra de títulos.

Na segunda-feira, essas expectativas foram alimentadas por comentários mais "hawkish", ou preocupados com a inflação, de duas autoridades do banco central norte-americano.

A reversão de estímulos e eventual elevação de juros nos EUA são vistas por muitos economistas como possível fator de impulso para o dólar, uma vez que elevariam o ingresso de recursos na maior economia do mundo.

O dólar negociado no mercado interbancário fechou o último pregão em alta de 0,22%, a 5,2460 reais na venda.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Lula diz não ter decisão sobre nomes para o BC e espera Haddad
BC faz ajustes em segurança do Pix e estabelece junho de 2025 para lançamento de Pix Automático
Kamala chama legado de Biden de "inigualável" conforme lança sua campanha presidencial
Lula diz que governo fará bloqueio orçamentário "sempre que precisar"
Lula se diz assustado com retórica de Maduro e pede respeito a resultado da eleição na Venezuela
Wall St avança após liquidação enquanto investidores avaliam efeito da desistência de Biden