Sinalização dura de Bullard impulsiona dólar ante real
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -
O dólar passava a subir contra a moeda brasileira nesta sexta-feira, depois de chegar a ir abaixo de 5 reais mais cedo, após o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, afirmar que a inflação nos Estados Unidos está mais intensa do que o esperado.
Em entrevista à CNBC, Bullard disse que está entre as sete autoridades do Fed que esperam que medidas mais agressivas -- como um aumento de juros já no ano que vem -- contenham as pressões sobre os preços, que ele acredita que se provarão mais persistente do que as projeções.
Às 12:11, o dólar avançava 0,55%, a 5,0529 reais na venda. O contrato mais líquido de dólar futuro ganhava 0,88%, a 5,0575 reais.
No exterior, o índice do dólar e os rendimentos norte-americanos ganhavam terreno após a notícia, enquanto as ações globais recuavam. Peso chileno, peso mexicano e rand sul-africano, divisas emergentes pares do real, caíam mais de 1% nesta sexta-feira.
Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a favorecer a moeda norte-americana com o ingresso de recursos de investidores que buscam retornos mais altos e segurança.
SELIC MAIS ALTA À FRENTE
Por outro lado, o Brasil também conta com perspectivas de elevação de juros, o que ajudou o real a tocar 4,9823 reais na mínima desta terça-feira.
O Banco Central promoveu a terceira alta consecutiva de 0,75 ponto percentual da taxa Selic na quarta-feira, a 4,25%, e anunciou a intenção de dar sequência ao aperto monetário com uma nova alta de pelo menos a mesma magnitude em sua próxima reunião.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC também abandonou o uso da expressão "normalização parcial" para se referir ao atual ciclo de alta de juros, explicitando que pretende fazer um aperto maior do que vinha sendo sinalizado até então, levando a Selic para patamar considerado neutro.
Em nota, analistas da Genial Investimentos avaliaram que esses são todos sinais "positivos para a trajetória do real nos próximos meses, apesar da postura mais dura do Federal Reserve."
Um maior diferencial de juros entre o Brasil e países de economias avançadas tende a beneficiar o real, principalmente devido a estratégias de "carry trade". Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo e compra de contratos futuros da divisa de juro maior (como o real). O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.
Além da expectativa de juros mais altos no Brasil, Vanei Nagem, responsável pela Mesa de Câmbio da Terra Investimentos, disse que a notícia de conclusão da votação da medida provisória da privatização da Eletrobras também ajudou a moeda doméstica nesta sexta-feira. O Senado encerrou no início da noite de quinta-feira a votação da MP, e o texto volta para avaliação da Câmara.
"A aprovação da privatização da Eletrobras já ajudaria, mesmo com alguns gargalos, a atrair dinheiro para o mercado doméstico", o que tende a beneficiar o real, explicou.
Para ele, em meio a um cenário benigno, "continuamos trabalhando com uma tendência de baixa do dólar".
(Edição de Camila Moreira)