Após 2 meses de alta do Ibovespa, investidor mira vacinas, balanços e inflação
Um movimento de embolso de lucros selou um ciclo de recuperação de dois meses do principal índice de ações brasileiro nesta sexta-feira, com o mercado agora conferindo a performance de empresas e governos para superar os efeitos da pandemia.
O Ibovespa nesta sessão caiu 0,98%, a 118.893,84 pontos. Na semana, caiu 1,36%, mas ainda garantiu alta de 1,94% no mês. O giro financeiro deste pregão somou 41,7 bilhões de reais.
Com a alta de quase 10 mil pontos do Ibovespa desde o início de março, diante da superação de receios de curto prazo sobre o Orçamento federal e governos regionais voltando a flexibilizar medidas de isolamento enquanto a vacinação ganha tração, os investidores passam a temer outros fantasmas.
De um lado estão os novos focos de aceleração da Covid-19, como na Índia, onde o crescimento cavalar dos números de mortes e infecções já contaminou os mercados de commodities.
Nos últimos dias, ações de gigantes de commodities, que vinham sendo destaques positivos do Ibovespa desde março, como Vale e JBS, começaram a ser alvos de realização de lucros.
Na outra ponta, a recuperação em regiões como os Estados Unidos e a relativa resiliência no Brasil, como destacado em relatório do Bradesco nesta sexta-feira, levanta receios de apertos monetários para conter a inflação. Na semana que vem, o Banco Central deve anunciar novo aumento do juro.
"O mercado tem três grandes testes pela frente: safra de resultados, aceleração da vacinação e inflação", afirmou Roberto Attuch, presidente da Ohmresearch. "Os dois primeiros parecem estar sendo superados. Mas os números de junho e julho serão essenciais para sabermos se a inflação é realmente transitória."
No plano mais micro, o escrutínio vai se concentrar em como cada empresa está conseguindo superar os efeitos da crise iniciada no Brasil há 13 meses. Nesse sentido, a maioria dos balanços do primeiro trimestre revelados nesta semana, incluindo de Vale, Santander Brasil, CSN, Embraer e Fleury, trouxe dados positivos. A temporada ganha tração na próxima semana com números de Bradesco, Itaú Unibanco e GPA, entre outros.
Além disso, investidores seguem atentos à intensa atividade de fusões, com empresas que buscaram capital durante a crise de olho em oportunidades em rivais fragilizados ou para participar de concessões públicas.
Nesta semana, por exemplo, o Grupo Soma acertou a compra da Cia Hering, enquanto a Aegea, investida que recebeu na terça-feira a Itaúsa como sócia, arrematou nesta sexta dois lotes da companhia de saneamento Cedae, em leilão na B3.
DESTAQUES
- LOJAS RENNER subiu 1,08%, a 40,40 reais, após a companhia ter concluído uma oferta primária restrita de 102 milhões de ações, precificada a 39,00 reais cada, num total de 3,978 bilhões de reais. O dinheiro vai, entre outros fins, para também para comprar rivais.
- FLEURY teve oscilação positiva de 0,08%. A companhia de diagnósticos médicos informou na noite da véspera que teve lucro líquido de 118,6 milhões de reais no primeiro trimestre, mais que o dobro do obtido um ano antes. Em nota a clientes, o Credit Suisse elogiou a evolução das receitas, mas pontuou que a pandemia ainda limita maior visibilidade sobre o valor das novas linhas de negócios da empresa. Em teleconferência, executivos da empresa afirmaram que o foco da empresa está em crescimento acelerado via expansões orgânicas e até grandes aquisições.
- UNIDAS teve ganho de 1,7%, também na esteira de balanço de janeiro a março, quando a locadora de veículos e gestão de frotas teve lucro líquido recorde de 231,4 milhões de reais, quase três vezes maior que um ano antes. Em teleconferência, executivos da companhia afirmaram que esperam resultados melhores a partir do segundo semestre, com uma melhora das entregas de veículos pelas montadoras.
- EMBRAER teve alta de 1,99%. A fabricante de aeronaves teve o preço-alvo de seus a ADRs elevado pelo Credit Suisse e pelo UBS após ter divulgado que fechou um pedido firme de venda de 30 jatos E195-E2 para cliente não divulgado com entregas a partir de 2022.
- BANCO MODAL caiu 7,3% em sua estreia no pregão, após ter concluído na quarta-feira sua oferta inicial de ações (IPO) de 1,17 bilhão de reais.
- CSN perdeu 2,1%, puxando a fila das perdas no setor de aço e mineração. VALE recuou 2,6%. No setor de petróleo, PETROBRAS ficou estável.
- JBS perdeu 2,21%, BRF encolheu 2,1%, com grandes exportadoras brasileiras perdendo fôlego diante da queda recente do dólar contra o real.
- BRADESCO subiu 0,34%, reagindo parcialmente às fortes perdas da véspera, com ações do setor financeiro mostrando rotas distintas. ITAÚ UNIBANCO avançou 0,77%, enquanto SANTANDER BRASIL teve baixa de 1,28%. BANCO DO BRASIL teve estabilidade.