Bolsonaro indica que tomará novamente cloroquina se for reinfectado por Covid

Publicado em 26/03/2021 10:28

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro usou sua live semanal nesta quinta-feira para indicar que se for reinfectado com o coronavírus vai tomar mais uma vez a cloroquina, remédio sem eficácia comprovada contra a Covid-19, num momento em que o governo tem um novo ministro da Saúde que defende a importância da ciência no combate à pandemia.

Em uma live atípica por ser mais curta que nos últimos meses, Bolsonaro adotou um tom mais moderado do o que o de costume e tossiu seguidas vezes.

O presidente tem sido duramente criticado pelo Congresso e a sociedade pela falta de ação e os erros do governo federal no enfrentamento à pandemia, uma vez em que o Brasil atravessa sua pior crise, com mais de 2.000 mortes por dia em média.

A insistente defesa de Bolsonaro pelo uso de medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina e a ivermectina, em vez de buscar desde o início as vacinas, é um dos motivos de ataque ao presidente, que recentemente parou de nomear os medicamentos após uma decisão judicial que impediu o governo de promover qualquer tratamento sem embasamento científico.

Em uma live de apenas 20 minutos, ao contrário de transmissões anteriores superiores a 1 hora, Bolsonaro fez apenas uma defesa discreta dos medicamentos, sem citá-los, dizendo que voltará a tomá-los caso seja reinfectado.

"Não tem um medicamento certo para isso ainda de forma clara, não existe medicamento para isso, mas o médico tem alternativas e pode salvar a sua vida com essa alternativa", disse o presidente.

"Se eu, por ventura, for reinfectado, eu já tenho meu médico e já sei o que ele vai receitar para mim, o que me salvou lá atrás", acrescentou o presidente, que fez uma forte defesa da hidroxicloroquina quando contraiu a Covid-19 no ano passado.

Anteriormente, Bolsonaro costumava alegar que já tinha sido infectado pela doença quanto questionado porque não usava máscara e não mantinha distanciamento social, mas ultimamente o presidente passou a usar máscaras, em uma mudança de posicionamento em meio ao aumento das críticas.

A mudança nesse comportamento do presidente coincide também com a chegada do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tem defendido a importância da ciência no combate à pandemia, incluindo pontos básicos e simples como, justamente, o uso de máscaras.

Na véspera, em sua primeira entrevista coletiva, Queiroga afirmou que o Brasil tem que "olhar para frente" e buscar o que existe de comprovado, ao ser questionado a respeito do uso da cloroquina.

Na segunda-feira, a Associação Médica Brasileira (AMB) afirmou que a utilização dos medicamentos hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina deve ser banida do combate à pandemia, destacando que esses remédios não possuem eficácia científica comprovada no tratamento ou prevenção da Covid-19.

LOCKDOWN E VACINAS

Mesmo em tom mais moderado do que em outras transmissões nas redes sociais, o presidente voltou a criticar nesta quinta as medidas de restrição adotadas por prefeitos e governadores para conter a Covid-19 no pior momento da pandemia, apesar de na véspera ter anunciado a criação de um comitê para definir ações do combate à Covid-19 em coordenação com os governadores.

"Se economia parar, se a política do fechar tudo de forma radical continuar, não sabemos onde vai parar o Brasil", afirmou.

Ao mesmo tempo, o presidente mais uma vez defendeu a vacinação da população, repetindo o pronunciamento que fez esta semana, em mais uma mudança de postura para alguém que passou meses questionando a eficácia das vacinas e chegou a proibir, inicialmente, a compra da chinesa CoronaVac --a mais utilizada na vacinação brasileira até agora.

Ao exaltar a capacidade de produção da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan --este responsável pela produção da CoronaVac no país-- Bolsonaro disse que em breve o país será autossuficiente na produção de imunizantes e, futuramente, poderá inclusive exportar vacinas, mediante a grande procura internacional.

"A questão de vacinas tem problemas no mundo todo", afirmou.

"O mundo todo quer. Alguns acham que comprar vacina é pegar um avião aqui, ir lá fora e trazer pra cá. Não é assim. Não tem vacina dessa forma disponível no mercado... Poderemos lá na frente, depois de vacinarmos toda a população, começar a exportar vacinas."

Guedes diz que setor privado poderia trazer 500 milhões de doses de vacinas

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um apelo nesta quinta-feira a empresários do setor privado para que auxiliem no processo de doação de vacinas, dizendo ser possível obter 500 milhões de doses para aplicação na população caso haja participação de pelo menos cem empresários, que poderiam doar 5 milhões de doses cada.

Em rápida fala à imprensa, Guedes, que estava acompanhado dos empresários Luciano Hang e Carlos Wizard, anunciou que ambos os empresários vão se reunir com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na sexta-feira, para anunciar a doação de 10 milhões de doses de imunizantes ao país.

"Agora, imaginem cem empresários. São dois aqui (Hang e Wizard). Então seriam cinquenta vezes essa doação, de dez milhões, e nós temos cem empresários que possam querer fazer essas doações, não é? Então seriam também 500 milhões de vacinas, com cem empresários brasileiros", explicou Guedes.

Apesar das declarações do ministro, há escassez na oferta de vacinas no mundo inteiro. O Ministério da Saúde já fechou acordo com a Janssen, vacina do laboratório da Johnson & Johnson, que prevê o início da entrega de imunizantes apenas a partir do segundo semestre deste ano.

Já a Pfizer, que firmou acordo com a pasta recentemente, projeta a entrega, em abril, de apenas uma pequena parte do lote contratado.

Em sua fala, Wizard afirmou que há a necessidade de sensibilização dos parlamentares e autoridades para que ocorra uma "flexibilização" da legislação que permita fazer a doação.

"O que nós defendemos é o aspecto de agilidade. Por quê? Nós entendemos que a máquina pública tem uma lentidão que é tradicional. A partir do momento que a iniciativa privada tem uma agilidade na entrega, nós antecipamos essa imunização da população e o mais importante, nós poupamos vidas", afirmou.

Já Hang afirmou que a possibilidade do empresariado de adquirir doses de imunizantes contra a Covid-19 e doarem aos seus funcionários "tiraria" as pessoas do Sistema Único de Saúde (SUS).

"Hoje nós viemos aqui, visitando os ministérios, os congressitas, pedindo alteração na lei, que dê a liberdade para o empreendedores poderem comprar as vacinas, doar para o SUS, e poder imunizar os nossos colaboradores", disse.

Guedes também voltou a reiterar que as projeções do governo para os próximos 60 dias apontam para vacinação diária de "quase um milhão de pessoas". De acordo com ele, caso isso se concretize, o país vacinará em menos de dois meses a população mais vulnerável, grupo esse que abarca a faixa etária de idosos, que gira em torno de 35 milhões de pessoas.

"Como 80%, 85% dos óbitos estão acima de 60 anos, a taxa de mortalidade deve cair bastante, então essa ajuda que vem do setor privado pode acelerar ainda mais esse processo. Então eu estou agradecendo muito ao Luciano Hang, Carlos Wizard, e estamos fazendo essa convocação a todo o setor privado, que siga esse exemplo", complementou, ressaltando que o foco principal está na velocidade das imunizações.

O processo de vacinação contra a Covid no Brasil tem sido lento desde meados de janeiro, o que tem contribuído para o pior momento da pandemia no país, com média de mortes superior a 2.000 por dia nas últimas semanas.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, 12,4 milhões de pessoas foram vacinadas com a primeira dose no país, o equivalente a cerca de 6% da população.

Na tarde desta quinta-feira, a Justiça Federal em Brasília considerou inconstitucional a lei aprovada pelo Congresso que obriga a doação ao SUS de 100% de vacinas compradas por empresas ou outras instituições enquanto todos os grupos considerados prioritários não forem vacinados.

Em seus argumentos, o juiz substituto da 21ª vara federal de Brasília, Rolando Spanholo, disse que a obrigação de doação integral dos imunizantes ao SUS desestimula que a sociedade civil, empresários e instituições participem da compra e da vacinação contra o coronavírus, o que atrasa ainda mais o processo no país.

A lei declarada inconstitucional foi aprovada pelo Congresso no final de fevereiro. O texto prevê que Estados, municípios e entidades privadas podem negociar vacinas, mas no caso das últimas, a exigência é que qualquer compra tenha que ser 100% doada ao SUS até que todos os grupos estabelecidos como prioritários no país sejam vacinados. Depois desse limite, ainda 50% das doses terão que ser doadas.

Fonte: Reuters

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