Dólar recua ante real de olho em exterior e agenda de privatizações
O dólar apresentava queda contra o real nesta quarta-feira, acompanhando o comportamento da moeda norte-americana contra divisas arriscadas no exterior, à medida que os investidores avaliavam os riscos políticos e fiscais do Brasil em meio a sinalização de retomada da agenda de privatizações do governo.
Às 10:28, o dólar recuava 0,51%, a 5,4180 reais na venda, enquanto o contrato mais negociado de dólar futuro perdia 0,39%, a 5,422 reais.
No exterior, embora o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes trabalhasse perto da estabilidade, ele operava perto de mínimas recentes, e a moeda norte-americana cedia terreno contra várias divisas consideradas arriscadas, como peso mexicano, peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano.
Vários investidores citavam o impacto do discurso feito na véspera pelo chair do Federal Reserve, Jerome Powell, como um fator de pressão para o dólar no mundo todo. Powell reiterou que as taxas de juros dos Estados Unidos permanecerão baixas e que o Fed continuará comprando títulos para apoiar a economia.
Enquanto isso, no Brasil, depois que a interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando da Petrobras abalou os mercados financeiros domésticos, os investidores paravam para analisar os riscos políticos e as perspectivas de privatizações no país.
"A repercussão havida no mercado financeiro de ceticismo e negatividade frente à intervenção do presidente (...), com reflexos em inúmeras outras estatais, além da irradiação de inseguranças e incertezas sobre as perspectivas para o país envolvido em agravados riscos impactantes, parece ter imposto ao governo a mudança de atitude assumindo, em princípio, a rota programática das privatizações", disse em nota Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora.
O governo Bolsonaro entregou na noite de terça-feira uma medida provisória associada a seus planos de privatização da elétrica federal Eletrobras.
"Esse noticiário em torno da Eletrobras ajuda a reduzir preocupações com a guinada intervencionista do governo", explicou à Reuters Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.
Enquanto isso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou na terça-feira que a Casa cumprirá seu papel ao aprovar o chamado protocolo fiscal e que, nesse contexto, irá negociar com o Ministério da Economia o pagamento do auxílio emergencial o mais rápido possível.
O relator da chamada PEC emergencial, senador Marcio Bittar (MDB-AC), apresentou na segunda-feira parecer preliminar à proposta para permitir a concessão de um ajuda residual neste ano aos mais vulneráveis.
Abordando o assunto em nota matinal, analistas da XP Investimentos disseram que "a expectativa de que a proposta viesse acompanhada de uma melhora no arcabouço fiscal brasileiro se confirmou – ainda que as medidas de contrapartida sejam menos ousadas do que no cenário ideal".
"Do lado negativo, o artigo não contém restrições e dá margem a um programa mais longo ou mais abrangente do que o sinalizado até agora. O risco na tramitação é elevado", completou.
Na véspera, a moeda norte-americana negociada no mercado interbancário registrou leve queda de 0,17%, a 5,4456 reais na venda.
O Banco Central fará nesta quarta-feira leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em junho e outubro de 2021.