"Sorriso do dólar" desafia apostas de queda contra moeda em recuperação
Uma inesperada recuperação do dólar e algumas indicações de uma ressurgência mais ampla da moeda estão confundindo participantes do mercado que montaram posições apostando que a divisa norte-americana estaria em curso de uma tendência de queda por vários anos.
Dado o volume de investimento global e de fluxos de comércio que dependem da força ou fraqueza do dólar, chegar a essa taxa de câmbio correta é uma das decisões mais importantes que um gestor de fundos pode tomar.
E, de acordo com um gestor, o dólar pode estar prestes a completar um padrão de negociação conhecido como "Sorriso do Dólar", que em anos anteriores precedeu importantes recuperações econômicas nos EUA e saltos na moeda.
Apresentado por Stephen Jen, que dirige o fundo hedge Eurizon SLJ Capital, o "smile" do dólar diz que a moeda se fortalece em tempos difíceis, à medida que investidores correm em busca de ativos líquidos e seguros.
Em seguida, o crescimento econômico dos EUA fraqueja e força o Fed a cortar os juros, o que leva o dólar a cair --a parte inferior do sorriso--, antes de a divisa subir novamente enquanto a economia dos EUA lidera a recuperação do crescimento global.
Por essa teoria, a valorização de 40% do dólar entre 2012 e fevereiro de 2020 teria sido o estágio ascendente final do sorriso após as mínimas de 2011-2012.
No ciclo atual, Jen avalia que as primeiras duas etapas da formação do Smile estão completas: o índice do dólar disparou para uma máxima em três anos em março de 2020, quando investidores demandaram a moeda em meio ao caos do mercado associado à pandemia.
Em seguida, o dólar caiu quando o Fed cortou as taxas de juros para zero, atingindo uma mínima em quase três anos no mês passado, com expectativas de uma política monetária ultraestimulativa e empréstimos adicionais nos EUA que fizeram explodir o déficit da balança de pagamentos.
No mês passado, entretanto, o dólar deu um salto de mais de 2%, já que uma rápida campanha de vacinação parece sinalizar que a maior economia do mundo se recuperará mais rapidamente da crise da Covid-19 do que a maioria das outras nações desenvolvidas.
"Meu ponto é que os EUA sairiam da pandemia com muita força", disse Jen. "Isso está sendo demonstrado muito claramente."
Ele prevê que a última parte do "Smile" será concluída quando o euro cair para 1,13 dólar, nível não visto desde julho passado.
O euro, que compreende mais de 50% do índice do dólar, caía 0,5% nesta quinta-feira, para 1,1972 dólar, queda de 3,1% ante a máxima de 1,2349 dólar alcançada no começo de janeiro. A moeda europeia tem perdido força devido a uma lenta campanha de vacinação no continente. Um décimo dos norte-americanos recebeu uma dose da vacina dupla, em comparação com 3% dos cidadãos da União Europeia (UE).
A contração de 0,7% da zona do euro entre outubro e dezembro de 2020 colocou a zona do euro na iminência de um duplo mergulho na recessão. Já os EUA cresceram 1% no mesmo período.
E os otimistas com o dólar receberam mais incentivo nesta semana a partir da previsão do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, de um crescimento econômico "muito forte" em 2021.
"A diferença de crescimento entre os EUA e a zona do euro deve aumentar ainda mais", disse Stefanie Holtze-Jen, estrategista-chefe de câmbio da DWS, prevendo que o euro cairá para 1,15 dólar no final do ano.
LIÇÕES DE 'SORRISOS' PASSADOS
Tendo tudo isso em mente, os pessimistas com o dólar poderiam olhar para episódios anteriores de sorrisos. O último teve início em 2008, quando investidores buscaram a segurança do dólar durante a crise financeira.
A moeda enfraqueceu quando a normalidade voltou, antes de se apreciar a partir de 2012 à medida que a economia dos EUA se recuperava, a China desacelerava e a zona do euro entrava numa crise de dívida.
Outro episódio do sorriso data do final da década de 1990, quando a crise dos mercados emergentes impulsionou o índice do dólar em mais de 20%.
Até agora, a minirrali do dólar ainda não abalou os "bears" --ursos, em tradução livre. O termo se refere a investidores que apostam na queda do preço de um ativo e faz alusão à maneira como ursos se movimentam ao atacar, de cima para baixo.
No mercado futuro, as apostas líquidas de queda do dólar aumentaram na semana passada para 34 bilhões de dólares, nível mais alto desde 2011, de acordo com dados da CFTC, agência que regula mercados de futuros e opções nos EUA.
As posições "compradas" em dólar --vendo alta no preço da moeda-- atingiram um pico em março passado de 22 bilhões de dólares.
As apostas contra o dólar ficaram em terceiro lugar na lista de trades com mais adeptos, de acordo com gestores de fundos ouvidos pelo BofA Global Research em janeiro.
Mas as fileiras dos "bulls", ou otimistas, em dólar podem estar aumentando.
Na mesma linha de "bear", o termo "bull" se refere a investidores que veem alta no preço de um ativo, devido ao movimento do touro ao atacar --de baixo para cima.
Analistas do Nordea disseram que seu indicador Dollar-o-Meter, que mede a direção do dólar usando números de crescimento e inflação relativos, política monetária de bancos centrais e política, aponta mais ganhos para o dólar.
"O dólar corre o risco de contrariar o consenso mais uma vez e se fortalecer ao invés de enfraquecer em 2021", disseram aos clientes.