Biden aproxima-se da vitória na eleição dos EUA e Trump mantém tom desafiador

Publicado em 07/11/2020 07:22 e atualizado em 07/11/2020 18:06

WILMINGTON, Del./WASHINGTON (Reuters) - O democrata Joe Biden se aproximava de alcançar a Casa Branca nesta sexta-feira, ampliando sua estreita vantagem sobre o presidente Donald Trump nos Estados-chave da Pensilvânia e da Geórgia, mesmo enquanto os republicanos buscavam levantar 60 milhões de dólares para financiar ações judiciais que contestam os resultados.

Trump manteve o tom desafiador, prometendo manter as alegações de fraude, sem apresentar fundamentos, enquanto um país cansado e ansioso esperava por uma maior clareza em relação a uma eleição que apenas intensificou a profunda polarização do país.

No quarto dia de contagem de votos, o ex-vice-presidente Biden tinha uma vantagem de 253 a 214 votos no Colégio Eleitoral, que determina o vencedor, de acordo com a Edison Research.

Garantir os 20 votos no Colégio Eleitoral da Pensilvânia colocaria Biden acima dos 270 que ele necessita para ganhar a Presidência após uma carreira política que remonta a quase cinco décadas.

Biden também venceria o pleito se ganhar em dois dos três outros Estados-chave onde estava ligeiramente à frente nesta sexta-feira: Geórgia, Arizona e Nevada. Como na Pensilvânia, os três ainda estavam contabilizando cédulas nesta sexta-feira.

À medida que a liderança de Biden crescia na Pensilvânia, centenas de democratas se reuniram em frente a um local de contagem de votos no centro da Filadélfia portando camisetas amarelas com os dizeres "Conte todos os votos". Em Detroit, uma multidão de apoiadores de Trump, alguns armados, protestaram do lado de fora de um local de contagem, agitando bandeiras e gritando: "Lute!"

Biden planejava fazer um discurso no horário nobre desta sexta-feira, de acordo com duas pessoas a par de sua programação de campanha. Sua campanha previa que poderia ser um discurso de vitória se as redes de televisão apontassem a disputa eleitoral como resolvida para ele nas próximas horas.

Enquanto isso, Trump não deu nenhum sinal de que estaria pronto para ceder, à medida que sua campanha mantinha uma série de ações judiciais que, segundo especialistas jurídicos, provavelmente não alterariam o resultado da eleição.

"Desde o início dissemos que todas as cédulas legais devem ser contadas e todas as cédulas ilegais não devem ser contadas, ainda que tenhamos encontrado resistência a este princípio básico por parte dos democratas em cada turno", disse Trump em um comunicado divulgado por sua campanha.

"Seguiremos esse processo em todos os aspectos da lei para garantir que o povo norte-americano tenha confiança em nosso governo", disse Trump.

Na véspera, Trump fez um ataque ao processo democrático norte-americano, fazendo uma aparição na Casa Branca para alegar falsamente que a eleição estava sendo "roubada".

Autoridades eleitorais de toda a nação disseram não estar cientes de qualquer irregularidade significativa. O secretário de Estado da Geórgia disse nesta sexta-feira que antevê uma recontagem de votos devido à vantagem pequena que Biden tem sobre Trump.

Na quinta-feira, Biden expressou confiança em uma vitória e pediu paciência durante a contagem de votos. Em reação à ideia de que Trump pode não reconhecer a derrota, o porta-voz do democrata, Andrew Bates, disse em um comunicado emitido nesta sexta-feira: "O governo dos Estados Unidos é perfeitamente capaz de escoltar intrusos para fora da Casa Branca".

Republicanos buscam saída para Trump, diz Estadão

Líderes do Partido Republicano e assessores de Donald Trump passaram as últimas horas analisando alternativas para o presidente. Aquartelado na Casa Branca, Trump se recusa a aceitar a derrota, exige ações legais para contestar os resultados e reclama que poucos aliados até agora foram defendê-lo em programas de TV, segundo relatos da imprensa americana.

Trump não tem planos de conceder a derrota para Joe Biden, mesmo após as viradas de ontem nos Estados da Pensilvânia e Geórgia e da iminente vitória do democrata no colégio eleitoral. Segundo a CNN, é esta posição que ele tem mantido em conversas com interlocutores. A Fox News também noticiou o mesmo cenário de impasse vivido dentro da Casa Branca.

Segundo a ABC News, fontes de dentro do governo confirmam que o presidente não aceitará a derrota e manterá até o fim as alegações de que a eleição foi fraudada. Os assessores mais próximos estariam divididos sobre dois caminhos possíveis. Parte defende o esgotamento das ações nos tribunais. Outros já pensam em virar a página e concretizar os planos de montar uma emissora, a "TV Trump", sonho antigo do presidente.

O apresentador Sean Hannity, da Fox News, um dos poucos comentaristas que têm acesso direto aos ouvidos de Trump, sugeriu a anulação da eleição da Pensilvânia com base em supostas violações da lei eleitoral. Outra possibilidade levantada por ele na noite de quinta-feira, em entrevista com o senador Lindsey Graham, fiel aliado do presidente, é pressionar os congressistas estaduais a nomear delegados próprios.

Os 20 votos da Pensilvânia no colégio eleitoral devem ser depositados pessoalmente por 20 eleitores, que são designados pelos legisladores estaduais. Hannity sugeriu que os congressistas da Pensilvânia - de maioria republicana - ignorem a votação popular, que teria sido fraudada, segundo ele, e indiquem a própria delegação - a eleição no colégio eleitoral ocorre no dia 14 de dezembro em todas as 50 capitais estaduais. Graham concordou. "Todas as opções devem permanecer sobre a mesa", disse o senador.

Outra possibilidade, que estaria sendo estudada por Trump e seus principais assessores, de acordo com reportagem do portal Político, é agir como se nada tivesse acontecido e voltar a trabalhar intensamente, como se estivesse começando um segundo mandato. Entre as ideias, segundo relataram três fontes da Casa Branca, estariam uma reforma do gabinete, a demissão do chefe do FBI, Christopher Wray, e do secretário de Defesa, Mark Esper.

Trump estaria disposto também a assinar uma nova onda de ordens executivas de caráter conservador, para agradar à sua base eleitoral, e retomar sua agenda de viagens.

Alguns assessores mais corajosos tentam convencê-lo a aceitar a derrota. O argumento é o de que Trump sai das urnas fortalecido. Ele teve mais votos do que quatro anos atrás, ganhou surpreendentemente cadeiras na Câmara dos Deputados, provavelmente manterá a maioria republicana no Senado e levou o partido a eleger mais governadores e legisladores estaduais do que era esperado.

Segundo Harry Hurt, biógrafo de Trump, ele cresceu com a mentalidade do pai, Fred Trump. "Ou você é um matador ou um perdedor", dizia o patriarca ao pequeno Donald, segundo Hurt. Em seu último ato de campanha, no dia da eleição, ao visitar o quartel-general de sua campanha, nos arredores da capital americana, Trump demonstrou um raro sinal de fragilidade. "Vencer é fácil. Perder que nunca é fácil. Não para mim." Por isso, os assessores acreditam que, se alguém apresentar ao presidente uma saída honrosa, talvez ele deixe a Casa Branca discretamente.

A maioria da equipe, no entanto, não acredita que o presidente saia em silêncio. Segundo a Fox News, Trump deve intensificar suas ações judiciais, pedir recontagens de votos em vários Estados e impugnar a maior quantidade de cédulas possível. "Ele é simplesmente cético. Ele alertou sobre isso por meses. A mídia não levou a sério e agora estamos nesta situação", afirmou um de seus assessores à Fox News. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

SAIBA MAIS-

Biden fica perto da vitória ao virar na Pensilvânia, mas apuração levará dias

Os EUA entram no quarto dia de apuração da eleição com o Joe Biden mais próximo de derrotar Donald Trump. Nesta sexta, 6, o democrata passou à frente do presidente na Pensilvânia. Se confirmar a vitória no Estado, ele terá mais de 270 votos no colégio eleitoral e será o próximo presidente americano. Biden tem 15 mil votos a mais do que Trump no Estado, mas ainda restam cerca de 100 mil cédulas pendentes e a apuração pode levar "alguns dias" para ser concluída, segundo autoridades locais.

Os votos que faltam, no entanto, tendem a favorecer o democrata, pois são de Filadélfia, Pittsburgh e arredores, redutos do partido. Com a diferença estreita entre os dois candidatos, os resultados na Pensilvânia ainda não foram suficientes para saber quem venceu no Estado.

Biden tem 253 delegados no colégio eleitoral. Os 20 votos da Pensilvânia encerrariam a disputa. Ontem, após a virada, assessores de Biden começaram a organizar um pronunciamento do democrata em horário nobre. Não estava claro, no entanto, se o democrata cancelaria a aparição diante da incerteza.

Ganhar a Pensilvânia seria emblemático para os democratas - e especialmente para Biden, que nasceu no Estado. Ontem, quando ele assumiu a liderança na Pensilvânia, eleitores do democrata fizeram uma festa nas ruas da Filadélfia, com música e dança em frente ao centro de convenção onde os votos estão sendo contabilizados. Protestos contra a apuração e a favor de Trump também aconteceram no local.

Outros dois Estados devem divulgar resultados nos próximos dias: Arizona e Nevada. A Geórgia, onde Biden lidera por 1,5 mil votos, anunciou ontem que a margem pequena provocará uma recontagem após a apuração. Será o segundo Estado a recontar os votos - o outro é Wisconsin, onde Biden venceu por apenas 30 mil votos.

Ontem, após Biden tomar de Trump a liderança na Pensilvânia, o Partido Republicano entrou com uma ação na Suprema Corte americana pedindo a separação das cédulas enviadas pelo correio e recebidas após o dia da eleição e a suspensão da contagem desses votos. É a primeira ação ligada à eleição levada ao mais alto tribunal dos EUA após a votação.

"Se os conselhos eleitorais dos condados contarem, e não separarem as cédulas que chegam atrasadas, podem tornar impossível para este tribunal reparar os resultados eleitorais contaminados por cédulas apuradas ilegalmente, fora do prazo ou enviadas pelo correio", afirmam os advogados republicanos na ação.

Disputa

A secretária de Estado da Pensilvânia, Kathy Boockvar já havia decidido separar as cédulas até que o caso fosse resolvido nos tribunais. Boockvar disse ontem que os votos foram depositados legalmente, seguindo a orientação da Suprema Corte do Estado, mas garante que o número de cédulas envolvidas na decisão não é significativo. Entre quarta-feira e quinta-feira, a Filadélfia recebeu apenas 500 votos pelo correio, segundo a imprensa americana.

Como a disputa está acirrada, no entanto, os republicanos acreditam que vale a pena brigar por cada voto na Pensilvânia. Para os democratas, a melhor opção no momento, além de acompanhar os processos nos tribunais, é torcer para a diferença de votos aumentar no Estado e deixar a ação judicial da campanha de Trump perder a relevância.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Quais Estados podem decidir eleição dos EUA e quando vão divulgar resultados:

(Reuters) - A vantagem do candidato democrata Joe Biden sobre o presidente Donald Trump, um republicano, na Pensilvânia e na Geórgia aumentou nesta sexta-feira, quando a contagem de votos seguia em cinco Estados-chave para a eleição dos Estados Unidos.

Para conquistar a Casa Branca, o candidato precisa somar pelo menos 270 votos no Colégio Eleitoral. De acordo com a Edison Research, Biden liderava por 253 a 214.

Veja como está a situação nos cinco Estados-chave. As contagens de votos são fornecidas pela Edison Research.

PENSILVÂNIA (20 votos no Colégio Eleitoral)

Biden tinha vantagem de 13.558 votos, ou uma margem de 0,2 ponto percentual, às 16h (horário de Brasília) de sexta-feira, com 96% dos votos estimados contados. De acordo com a lei da Pensilvânia, uma recontagem é automática se a margem de vitória for menor ou igual a 0,5 ponto percentual do total de votos.

Na Filadélfia, maior cidade do Estado, faltavam cerca de 40.000 cédulas para serem contadas, segundo o comissário eleitoral da Pensilvânia, que disse que a contagem final pode levar vários dias.

GEÓRGIA (16 votos)

Biden estava à frente de Trump por 1.554 votos às 16h de sexta-feira, com 99% dos votos contados de acordo com a Edison. Brad Raffensperger, secretário de Estado da Geórgia, afirmou prever que a diferença entre os candidatos seja de poucos milhares de votos, o que desencadearia uma recontagem automática. A recontagem só começa quando os resultados da Geórgia forem certificados, o que é esperado para até 20 de novembro.

ARIZONA (11 votos)

Biden tinha 50,0% contra 48,6% de Trump, uma vantagem de 43.779 votos, com 93,0% dos votos esperados computados às 16h. O condado de Maricopa, que inclui a densamente povoada Phoenix, tem 142.000 cédulas antecipadas para contar, além de algumas cédulas transitórias. A maioria dos votos de Maricopa pode ser apurada já no sábado.

NEVADA (6 votos)

Biden vencia Trump por 20.137 votos, ou 1,6 ponto percentual, com cerca de 8% dos votos para serem contados. A próxima atualização da contagem de votos está programada para cerca de 21h e a maioria das cédulas enviadas pelo correio deve ser contada até domingo.

CAROLINA DO NORTE (15 votos)

Trump tinha vantagem de 76.737 votos, ou 1,4 ponto, com cerca de 5% dos votos a serem contados. Autoridades estaduais disseram que o resultado completo não será conhecido até a próxima semana.

Centro de apuração da Pensilvania vira ponto de protestos

Desde terça-feira, 3, o Pennsylvania Convention Center, onde é feita a apuração dos votos no Estado, tem um apelido: é a "fábrica de votos". É dali, um centro de eventos com quase um milhão de metros quadrados, que os democratas esperam que saiam os votos que levarão Joe Biden à presidência - a Pensilvânia tem 20 votos no colégio eleitoral, mais do que ele precisa para chegar à Casa Branca.

Por ser decisivo, o local tem recebido manifestantes democratas e republicanos. A esquina entre N12 St e Arch St foi fechada na tarde de quinta-feira, 5. De um lado, em frente ao centro de convenções, apoiadores do presidente Donald Trump hastearam bandeiras da campanha e cartazes com o imperativo "Pare de roubar!". Barricadas e um cordão de policiais de bicicleta separavam aproximadamente 50 republicanos dos apoiadores de Joe Biden, que somavam pelo menos 100. Um helicóptero da polícia sobrevoava o local e cerca de 50 agentes estavam alertas em um parque próximo.

"O meu presidente está sendo trapaceado e eu estou aqui para apoiá-lo", disse nesta sexta, 6, Pete Franklyn, de 45 anos, que trouxe os filhos Aidan, de 4 anos, e Isabele, de 5, para a manifestação. Ele afirmou que as duas únicas vezes em que ele votou foram em Trump. "Eu tive uma vida difícil, passei dez anos na prisão. Eu deveria estar daquele lado", disse, se referindo aos democratas. "Há 20 ou 30 anos, minha mãe estava assistindo ao programa de televisão em que ele demitia pessoas, O Aprendiz, e eu dizia: Por que não podemos ter alguém assim como presidente?", contou.

Do outro lado da barreira, DJs e bandas com tambores animavam os democratas, que dançavam e pediam para que os votos fossem contados. Com o filho de um ano nas costas, Annie Anderson, de 37 anos, engrossava o protesto. "Quero que meu voto conte para mostrar para meu filho que a democracia funciona quando as pessoas comparecem", afirmou a doutoranda em Estudos Socais que votou antecipadamente pelo correio.

As manifestações na Pensilvânia tiveram o incentivo do presidente. Na manhã de quarta-feira, 4, um dos filhos de Trump, Erik, e o advogado e ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani foram à Filadélfia anunciar que estavam acionando a Justiça para interromper a apuração. A campanha republicana repetiu a estratégia em outros Estados onde a vantagem do presidente diminuiu com o avanço da contagem dos votos à distância, contabilizados só depois das cédulas depositadas no dia da eleição.

"Eu precisava vir aqui apoiar o presidente, ele está isolado na Casa Branca. O povo precisa mostrar que sabe da fraude que está acontecendo nesse país", afirmou Ken Cooper, de 26 anos. A lealdade dos apoiadores de Trump é proporcional ao entusiasmo dos democratas. Victor Torres, de 45 anos, participa de protestos antirracismo desde a metade do ano. Agora está na frente da "fábrica". "O presidente Trump faz pouco para condenar o ódio nesse país e agora tenta suprimir o direito do voto dos negros. Ele quer que as nossas cédulas não sejam contadas", disse Torres.

Espelho do país

Uma vitória de Biden na Pensilvânia deve servir de laboratório para que os democratas conduzam uma nova gestão com o objetivo de anular os efeitos do trumpismo, segundo o professor de ciência política da Universidade Hamline, David Schultz.

O Estado, afirmou ele, pode ser considerado quase um espelho do país com duas zonas urbanas expressivas, extensos subúrbios, população rural relevante e um parque industrial atingido com força pela globalização, que levou as indústrias a deixarem os Estados Unidos para produzir com mão de obra mais barata no exterior.

Schultz disse que uma derrota de Trump nas urnas é diferente de uma derrota do movimento criado por ele. "Trump é somente a persona do trumpismo, da mesma maneira que Juan Perón era o personagem do peronismo. Existem muitas forças que criaram Donald Trump que não vão desaparecer", disse.

De acordo com o professor da Universidade Hamline, "o que alimenta o trumpismo é a ansiedade e o medo. Medo de mudanças demográficas e raciais e desconforto econômico incomodam muita gente", disse. "A administração Biden e os democratas têm de fazer com que essas pessoas se sintam confortáveis e seguras com essas mudanças. O quão bem-sucedidos eles vão ser, eu não sei."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Fonte: Reuters/Estadão Conteúdo

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