"Imunidade de rebanho" pode livrar Brasil da 2a. onda do Covid, dizem especialistas

Publicado em 01/11/2020 16:24 e atualizado em 02/11/2020 15:59
"Quem tinha que sair para a rua, saiu para a rua, pegou a doença, morreu ou se curou", disse Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa (Por Pedro Fonseca, da Reuters Brasil)

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A imunidade da parcela da população infectada durante uma prolongada primeira etapa da epidemia, aliada à adesão a medidas de proteção como o uso de máscara e o distanciamento social, ajudaram a Brasil a reduzir a força do coronavírus, disseram especialistas, alertando, no entanto, que não se pode baixar a guarda sob risco de uma segunda onda como a que atinge atualmente a Europa.

Ao contrário dos países europeus, que conseguiram conter a primeira fase da pandemia de coronavírus em poucos meses após o impacto inicial, o Brasil passou um longo período estacionado em um chamado platô, com elevados números de casos e de óbitos pela Covid-19, antes de apresentar os primeiros sinais de queda.

A longa duração do primeiro momento da crise pode ser um dos fatores por trás da atual queda da epidemia, uma vez que muitas pessoas já se expuseram ao vírus, afirmaram à Reuters especialistas que acompanham de perto a pandemia no país.

Depois de passar diversas semanas seguidas registrando cerca de 40 mil casos novos e de 1 mil mortes a cada dia nos meses de junho, julho e agosto, o Brasil apresentou no mês passado o primeiro sinal de queda da epidemia, e a tendência tem se mantido desde então.

Após pico de 45 mil casos por dia em média no final de julho, com quase 1.100 mortes diárias, o país registrou 20 mil casos por dia em média na semana epidemiológica encerrada no último sábado, com 461 mortes por dia na média.

Mesmo com a redução, o Brasil ainda é o terceiro país do mundo com mais casos, com 5,4 milhões, atrás apenas de EUA e Índia, e o segundo em número de mortes, com mais de 158 mil.

Em uma população de 210 milhões, o número de casos confirmados seria insuficiente para se garantir a chamada imunidade de rebanho, mas é preciso considerar que há um número enorme de casos não registrados, o que leva a crer em um certo grau de imunidade coletiva pelo menos em alguns locais, de acordo com Wanderson Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

"No caso da Covid tivemos uma primeira onda muito maior do que a gente realmente conhece, e um número de pessoas que pegou e não sabemos muito grande. Alguns estudos dizem que dá 10 a 12 vezes no número de casos e 1,5 vez no caso dos óbitos", disse, acrescentando que "muitos lugares" podem ter atingido a imunidade de rebanho.

O infectologista Roberto Medronho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda que a doença já teve forte impacto nos grupos de pessoas e locais com maior risco de adoecimento. "Vemos uma queda agora porque as pessoas de maior risco da doença adoeceram, algumas morreram, a reinfecção é muito rara, por isso há essa queda", afirmou.

Além da possível imunidade, a população brasileira tem aderido com sucesso ao uso de máscara e ao distanciamento, além de parcela que ainda mantém o isolamento social, o que tem surtido efeito, acrescentaram os pesquisadores.

"Nessa segunda fase que estamos agora, já passamos a primeira que foi a fase mais trágica da pandemia, o número vem baixando em parte por conta da adoção pela população das medidas de prevenção, em parte por um certo grau de proteção que deve ter de imunidade de rebanho, pelo menos temporária, e em parte porque certos grupos conseguem manter o isolamento social", disse Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A importância do isolamento social se dá uma vez que pelo menos um terço da população tem se mantido longe das ruas --a despeito da posição contrária do presidente Jair Bolsonaro--, de acordo com o Índice de Isolamento Social, uma ferramenta que utiliza dados de localização de aplicativos instalados em mais de 60 milhões de telefones celulares pelo país.

O número representa uma queda em relação ao patamar de 50% do final de março e do mês de abril, mas ainda assim tem ajudado a conter a disseminação do vírus, segundo os especialistas.

"Acredito que nós sustentamos um determinado grau de isolamento social. Tem uma parte da população que está em casa, que pode ficar em casa e que está em casa. Quem tinha que sair para a rua, saiu para a rua, pegou a doença, morreu ou se curou", disse Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

Uma vez que a redução recente da epidemia tem dependido, principalmente, da ação das próprias pessoas, há o risco de uma retomada da pandemia, alertou Naime, da Unesp. Além disso, não se sabe por quanto tempo dura a imunidade adquirida por aqueles que já foram contaminados.

"Quanto tempo vai durar a imunidade de rebanho? E quanto tempo vai demorar para a população se cansar das medidas de prevenção? Tudo isso são cenas do próximo capítulo."

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(Reportagem adicional dos repórteres da Reuters/Brasil, Lisandra Paraguassu, em Brasília; Eduardo Simões, em São Paulo; e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro).

Brasil tem 190 novas mortes por Covid-19; total supera 160 mil (4.980.942 pessoas recuperadas)

SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil registrou neste domingo 190 novos óbitos em decorrência da Covid-19, o que elevou o total de mortes pela doença no país a 160.074, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Também foram notificados 10.100 novos casos da doença provocada pelo coronavírus, com o total de infecções confirmadas no país atingindo 5.545.705.

Nos domingos e segundas-feiras o número de mortes e casos têm sido menores devido a um represamento nos registros nos finais de semana.

O Brasil é o segundo país com maior número de mortes por coronavírus no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro em casos, abaixo dos EUA e da Índia.

Estado brasileiro mais afetado pela Covid-19, São Paulo chegou neste domingo às marcas de 1.117.147 casos e 39.331 mortes.

O segundo Estado com maior número de óbitos pela doença, de acordo com os dados do Ministério da Saúde, é o Rio de Janeiro, que registrou até este momento 20.611 mortes, com 311.014 casos.

O Brasil possui 4.980.942 pessoas recuperadas da doença e 404.689 pacientes em acompanhamento, segundo o ministério.

Com Covid-19, Pazuello passará a noite internado no Hospital das Forças Armadas

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, passará a noite de domingo internado no Hospital das Forças Armadas como medida preventiva, de acordo com o Ministério da Saúde.

No final da manhã deste domingo, Pazuello recebeu alta do hospital DF Star, em Brasília, onde foi internado na sexta-feira depois de se recuperar de um quadro de desidratação.

Entretanto, a assessoria de imprensa informou que, após avaliação médica, o ministro ficará hospitalizado essa noite como medida preventiva.

"Pazuello está bem e estável e deverá permanecer em repouso até amanhã", completa a nota, explicando que ele está sob os cuidados da equipe que o acompanha desde o início do tratamento contra Covid-19.

Pazuello teve confirmado em 21 de outubro o resultado positivo para a Covid-19.

Manifestantes protestam em São Paulo contra imunização obrigatória da Covid-19 e vacina chinesa

SÃO PAULO (Reuters) - Mais de 300 pessoas se reuniram na Avenida Paulista neste domingo para protestar contra a defesa do governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), à imunização obrigatória contra a Covid-19 e contra a potencial vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac, que será produzida pelo Instituto Butantan.

Doria já defendeu tornar a vacinação obrigatória quando as vacinas estiverem disponíveis, o que levou a críticas do presidente Jair Bolsonaro, que prometeu que ela será voluntária. O presidente também vetou um acordo por meio do qual o Ministério da Saúde iria comprar 46 milhões de doses da vacina da Sinovac, a fim de ser incluída no Programa Nacional de Imunização.

O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), após a Rede Sustentabilidade pedir uma liminar para obrigar o governo federal a comprar a vacina produzida pelo Butantan. Em outra ação, o PDT quer que o Supremo garanta a competência de Estados e municípios de promover a vacinação obrigatória contra a Covid-19.

Em São Paulo, a vacina da Sinovac está sendo testada como parte da fase 3 dos testes clínicos com suporte do governo de Doria e de instituições locais.

Os manifestantes em São Paulo se reuniram em defesa a Bolsonaro, com um deles usando uma máscara com dizeres contrários à vacina.

Alguns manifestantes seguravam faixas em suporte ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admirado por Bolsonaro.

“Contra o autoritário e embaixador chinês João Doria, ele quer implantar agora a vacina compulsoriamente contra a nossa vontade", disse André Petros na manifestação.

"Isso não existe em lugar nenhum do mundo, nem na China essa vacina é compulsoriamente aplicada nas pessoas", completou.

O Brasil tem o terceiro maior número de infecções por coronavírus com 5,5 milhões de casos, depois de Estados Unidos e Índia.

Israel inicia testes em humanos de vacina contra a Covid-19

JERUSALÉM (Reuters) - Israel deu início a testes em humanos neste domingo para sua candidata a vacina contra a Covid-19 que, se tiver sucesso, pode estar pronta para o público em geral até o final do próximo verão local.

Oitenta voluntários vão participar inicialmente dos testes, que serão ampliados para 960 pessoas em dezembro. Uma terceira fase com 30 mil voluntários está marcada para abril/maio se houver sucesso nas fases anteriores.

"Estamos na reta final", disse Shmuel Shapira, diretor geral do Instituto de Israel para Pesquisa Biológica.

O instituto, supervisionado pelo Ministério da Defesa, iniciou testes em animais de sua vacina "BriLife" em março e anunciou há uma semana que recebeu aprovação regulatória para passar à próxima fase.

Casos de coronavírus nos EUA continuam aumentando às vésperas da eleição

(Reuters) - Os casos de coronavírus continuam em crescimento nos Estados Unidos neste domingo, com Estados do meio-oeste vivenciando número recorde de hospitalizações, enquanto o vírus permanece no centro da campanha eleitoral faltando dois dias para a eleição presidencial.

Quase 87.000 casos foram notificados no sábado, com 909 mortes e internações recordes pelo sexto dia consecutivo no Meio-Oeste, de acordo com uma contagem da Reuters. Em outubro, 31 Estados estabeleceram recordes nos registros de aumento de novos casos, 21 para pacientes hospitalizados com Covid-19 e 14 para aumento de óbitos.

O presidente Donald Trump, candidato republicano que busca a reeleição contra o democrata Joe Biden na próxima terça-feira, minimiza a ameaça do vírus e acusa os democratas de superdimensionar a pandemia que matou mais 230 mil americanos, mais do que qualquer outro país.

Biden e seus colegas democratas consideram Trump um mau líder que não conseguiu conter a Covid-19 nos Estados Unidos, país que também lidera globalmente a média diária de novos casos.

Casos de Covid-19 na Europa dobram em 5 semanas, total de infecções ultrapassa 10 milhões

(Reuters) - Os novos casos de Covid-19 na Europa dobraram em cinco semanas, levando a região neste domingo a superar a marca de 10 milhões de infecções totais, segundo contagem da Reuters.

Apenas no mês passado, tanto América Latina quanto Ásia informaram mais de 10 milhões de casos totais em suas regiões. Os Estados Unidos sozinhos têm mais de 9 milhões de casos com o surto em rápida aceleração.

Enquanto a Europa demorou nove meses para registrar seus 5 primeiros milhões de casos de Covid-19, os 5 milhões seguidos foram relatados em pouco mais de um mês, segundo análise da Reuters.

Com 10% da população mundial, a Europa responde por cerca de 22% dos 46,3 milhões de infecções globais. COm mais de 269 mil mortes, a região responde por cerca de 23% do total de óbitos por Covid-19 em todo o mundo, que já perdeu quase 1,2 milhão de vidas.

 

Fonte: Reuters

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