Dólar fecha na mínima em 4 semanas com redução de prêmio de risco

Publicado em 02/09/2020 17:10 e atualizado em 02/09/2020 18:52

O real foi na contramão de outras moedas emergentes e operou valorizada ante o dólar na tarde desta quarta-feira, após uma manhã volátil. A divisa dos Estados Unidos teve dia de valorização praticamente generalizada no mercado internacional. No mercado doméstico, porém, fechou em queda, em meio às expectativas de avanço das reformas, que cresceram após a aprovação do novo marco legal do setor de gás na Câmara na terça à noite, e as reiteradas promessas de disciplina fiscal pelo governo.

Os mesmos fatores ajudaram o risco Brasil a cair abaixo de 200 pontos pela primeira vez desde 10 de março. No encerramento dos negócios nesta quarta, o dólar à vista fechou em queda de 0,51%, cotado em R$ 5,3575. No mercado futuro, o dólar que vence em outubro era negociado em baixa de 0,78% às 17h, em R$ 5,3625.

Profissionais das mesas de câmbio relataram ainda entrada de capital externo para várias ofertas de ações, em uma lista que já soma mais de 40 empresas e que cresce a cada dia. Ainda nas emissões, a Suzano anunciou captação externa, com teto de US$ 2 bilhões e precificação nesta quinta-feira. Contudo, os dados do Banco Central de agosto mostram que as saídas de recursos prosseguiram, somando US$ 5,366 bilhões até o dia 28 pelo canal financeiro, em mês marcado por aumento do temor fiscal, que diminuiu apenas nos últimos dias.

O sócio fundador da Polo Capital, Claudio Andrade, observa que a situação fiscal brasileira ficou muito agravada, mas tem havido consenso da necessidade de avançar com reformas, em meio a um juro historicamente baixo e inflação comportada. "Algum tipo de reforma tributária a gente vai ter que ter", disse ele em live nesta quarta da Genial Investimentos, ressaltando que a tramitação do texto junto com a reforma administrativa pode ajudar a dividir o "barulho" que as medidas propostas terão no Congresso, com vários grupos tentando definir seus interesses.

Para o sócio e economista-chefe da Pátria Investimentos, Luis Fernando Lopes, considerando o ajuste da taxa de câmbio pela Paridade de Poder de Compra (PPP), o real atualmente está 30% desvalorizado e o investidor estrangeiro ainda não conseguiu perceber que o Brasil terá este ano, e em 2021, recuperação econômica mais forte que outros países da América Latina.

Sobre a questão fiscal, Lopes disse que a impressão crescente é que a equipe econômica "traçou uma linha no chão" e não vai querer "explodir o teto e fazer política de expansão fiscal irresponsável para reeleger o presidente a qualquer custo. "Aparentemente Bolsonaro não quer provocar essa ruptura fiscal", disse nesta quarta em evento da Alper Seguros.

Os analistas do Citigroup em Nova York destacam que o avanço da reforma administrativa, a julgar por declarações anteriores de Bolsonaro, era esperado apenas para 2021, por isso foi positiva a afirmação de que o texto será entregue nesta quinta ao Congresso. Além disso, a prorrogação do auxílio emergencial, que agora será de R$ 300 por mês, veio dentro do esperado e não será necessário alterar novamente as projeções fiscais para o Brasil.

Dólar perde mais um suporte técnico e fecha na mínima em 4 semanas no aguardo de reformas

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a cair ante o real nesta quarta-feira, indo abaixo de mais um suporte técnico e fechando no menor nível em quatro semanas, com investidores ainda repercutindo mensagens mais positivas do governo com relação à política fiscal do país, o que ajudou a amenizar o prêmio de risco embutido no preço do câmbio.

O real destoou de vários de seus pares nesta sessão, marcada pelo fortalecimento do dólar nos mercados externos após dias seguidos de perdas.

O dólar à vista caiu 0,49%, a 5,3586 reais na venda, menor patamar desde 6 de agosto (5,3429 reais).

É a quarta desvalorização da moeda nas cinco sessões que se seguiram desde que a divisa bateu uma máxima em mais de três meses (de 5,6124 reais) em 26 de agosto. No período, o dólar recuou 4,52%.

O dólar oscilou nesta quarta entre alta de 0,87%, a 5,4318 reais, logo no começo da sessão, e queda de 0,72%, a 5,346 reais, perto do fechamento.

O mercado aguarda, para quinta-feira, o envio ao Congresso Nacional do texto da reforma administrativa, conforme anunciado na véspera pelo presidente Jair Bolsonaro. A promessa foi entendida como sinal de maior compromisso do governo com a agenda de reformas e de equilíbrio fiscal, o que indica fortalecimento da posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, dentro do Executivo.

O dólar caiu nesta quarta abaixo da média móvel de 50 dias (de 5,3713 reais), após na terça ter fechado aquém da média de 100 dias (na véspera em 5,3894 reais). Essas médias móveis são consideradas pontos de suporte ou resistência (dependendo da direção do ativo) e, se rompidas, podem abrir espaço para aceleração do movimento em curso --no caso, de queda do dólar.

Investidores acompanharam nesta quarta declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a autoridade monetária não trabalha com nível de preço para o câmbio e que poderá intervir "pesadamente" caso ache necessário. O BC segue estudando os fatores que estão provocando a volatilidade, completou ele, citando a realização de mais contratos pequenos e o uso do real como hedge.

O debate sobre níveis de câmbio na mira do BC voltou à tona depois de o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovar na semana passada transferência de 325 bilhões de reais do lucro cambial contábil da autarquia para reforçar o caixa do Tesouro Nacional.

Alguns analistas argumentaram que, com a decisão do CMN, o BC passaria a trabalhar com um teto para o dólar (com o número de 5,50 reais sendo citado), acima do qual a autoridade monetária ficaria mais à vontade para vender moeda no mercado e, assim, não correr risco de se descapitalizar caso o dólar teste níveis em torno de 4,90 reais. Esse seria o patamar, segundo profissionais do mercado, no qual a operação se inverteria, com o Tesouro precisando socorrer o BC.

A última venda de dólar spot ocorreu em 21 de agosto, no valor de 650 milhões de dólares, elevando a 1,79 bilhão de dólares o total colocado desde o dia anterior. Essas operações ocorreram poucos dias antes de a Petrobras realizar, no dia 25, pré-pagamento parcial de linhas de crédito compromissadas no valor de 2,1 bilhões de dólares.

Para Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia da gestão macro da gestora AZ Quest, o sentimento com relação ao real melhorou, ajudado pelo exterior e por sinais benignos do governo sobre austeridade fiscal, mas um dólar abaixo de 5,30 reais pode voltar a estimular posições negativas na moeda brasileira.

"A apreciação do real é limitada. (Com um dólar) abaixo de 5,30 reais o mercado começa a repensar sobre comprar dólar de novo, por causa do carry baixo, do juro real negativo ou zero... Isso tudo joga contra a moeda (brasileira)", afirmou Zerbini.

Ele afirmou que, por ora, está zerado em posição "seca" (direcional) em real, mas vendido na moeda dentro de uma cesta de divisas emergentes, num trade que serve como hedge para posições compradas em bolsa norte-americana.

Fonte: Reuters

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