Dólar abandona mínimas ante real com temores fiscais ofuscando esperança de tratamento para Covid-19

Publicado em 24/08/2020 12:48

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista abriu mão da queda de mais cedo e oscilava com variações comedidas ante o real nesta segunda-feira, com dúvidas sobre a saúde fiscal do Brasil ofuscando o apetite por risco gerado por esperanças sobre um tratamento para a Covid-19.

Às 12h23, o dólar à vista tinha variação negativa de 0,02%, a 5,6054 reais na venda, depois de ter chegado a cair 0,85% na mínima do dia, para 5,5593 reais. As operações com dólar spot se encerram às 17h (de Brasília).

Na B3, em que os negócios com derivativos de câmbio vão até as 18h, o principal contrato de dólar futuro tinha queda de 0,34%, a 5,6095 reais.

"De manhã havia um pouco de otimismo sobre algumas coisas: o pacote do Guedes, um tratamento contra a pandemia... mas depois os investidores começaram analisar o contexto de dívida interna e déficit altos, gerando dúvidas sobre o pacote", disse Vanei Nagem, da mesa de câmbio da Terra Investimentos, sobre a tomada de fôlego do dólar.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse na semana passada que novidades serão apresentadas pela sua equipe na terça-feira em cerimônia para anúncio do Pró-Brasil, um plano para a retomada econômica.

"A revelação dos programas pode inflamar os anseios em torno de uma falta de compromisso do governo com o teto de gastos e com a contenção do endividamento público em geral", disse em nota o time econômico da Guide Investimentos.

"Caso o governo não apresente uma explicação detalhada e convincente de como os programas que aumentarão os gastos serão compensados pelos programas de redução de gastos, uma retomada da pressão cambial (...), vista na semana passada, pode voltar a ocorrer."

Na última sessão, na sexta-feira, o dólar spot registrou alta de 0,95%, a 5,6068 reais, maior patamar desde 20 de maio, acumulando ganho de 3,31% na semana, a quarta consecutiva de ganhos.

No ano de 2020, o dólar salta 39,5% contra o real, impulsionado por um contexto de incertezas econômicas, instabilidade política e juros extremamente baixos.

Nesta segunda-feira, os mercados globais mostravam algum otimismo depois que o principal órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos aprovou o uso de plasma sanguíneo de pacientes que se recuperaram da Covid-19 como uma opção de tratamento da doença causada pelo coronavírus.

Depois de uma manhã forte para a maioria das moedas arriscadas pares do real, peso mexicano e lira turca passavam a cair contra o dólar, por exemplo. Segundo Vanei Nagem, a virada no movimento de algumas moedas emergentes também colaborou para o enfraquecimento do real no final da manhã.

Em nota, analistas do Bradesco citaram "preocupações com as tensões sino-americanas e com o avanço da pandemia em vários países" como fatores de pressão para os mercados globais neste pregão.

No fim de semana, grandes economias europeias, como Itália, Espanha e França, registraram recorde de casos de coronavírus desde o fim das medidas de confinamento, levantando receios sobre uma possível volta das restrições no continente.

O Banco Central fez nesta segunda-feira leilão de swap tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em março e julho de 2021, em que vendeu o total da oferta.

Fonte: Reuters

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