Dólar sobe contra real em meio a tensões EUA-China; mercados aguardam Copom
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar operava em alta acentuada contra o real nesta terça-feira, chegando a superar a marca de 5,37 reais, em um reflexo da aversão ao risco global em meio a tensões crescentes entre os Estados Unidos e a China.
No Brasil, os operadores trabalhavam em modo de espera antes da decisão de juros do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que será anunciada na quarta-feira.
Às 10:24, o dólar avançava 0,62%, a 5,3469 reais na venda, enquanto o contrato mais líquido de dólar futuro tinha alta de 0,47%, a 5,355 reais.
Na máxima do dia, o dólar spot foi a 5,3781 reais na venda.
O dia era de força do dólar contra moedas de países emergentes, uma vez que novos desdobramentos na retórica entre Estados Unidos e China levantavam temores sobre as relações diplomáticas e comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
Depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, citou supostos riscos de segurança nacional apresentados pelo aplicativo chinês TikTok, a Microsoft declarou formalmente no domingo interesse na aquisição das operações norte-americanas da empresa, o que provocou indignação nas redes sociais da China.
A briga vem na esteira de outros conflitos entre EUA e China, como o fechamento de consulados e divergências em relação a uma lei de segurança imposta sobre Hong Kong.
Ainda nos EUA, democratas e republicanos do Congresso continuam distantes em relação aos próximos passos nas negociações de um pacote de estímulo econômico, que se torna cada vez mais urgente em meio à disparada de casos de coronavírus no país.
Mais de 155 mil pessoas já morreram por complicações ligadas à Covid-19 nos Estados Unidos, o maior número entre todos os países do mundo. Os casos subiram semana após semana em 20 Estados.
"As negociações no Congresso norte-americano sobre o pacote de estímulos fiscais e as últimas notícias ligadas à situação da Covid-19 no mundo são igualmente monitoradas e ajudam a manter os players na defensiva", escreveu Ricardo Gomes da Silva Filho, da Correparti Corretora.
Peso mexicano, lira turca e rand sul-africano, alguns dos principais pares emergentes do real, recuavam contra o dólar nesta terça-feira, assim como outros ativos arriscados, como os futuros de Wall Street. [.NPT]
Enquanto isso, segundo analistas, no cenário doméstico as expectativas giravam em torno da reunião de política monetária do Banco Central, com boa parte projetando corte residual da Selic a nova mínima histórica de 2%.
Há tempos os agentes do mercados citam os juros baixos no Brasil como um fator de impulso para o dólar, que salta 33% contra o real no ano de 2020. A redução sucessiva da Selic afetou rendimentos locais atrelados à taxa de juros, tornando o país menos interessante para o investidor estrangeiro quando comparado a pares emergentes de risco semelhantes e maior rentabilidade.
Na última sessão, o dólar negociado no mercado interbancário havia saltado 1,83%, a 5,3142 reais na venda.
O Banco Central ofertará nesta terça-feira até 10 mil contratos de swap tradicional para rolagem, com vencimento em novembro de 2020 e março de 2021.