Brasil ainda tem patina para atrair capital, mas o câmbio pode ajudar

Publicado em 03/07/2020 10:19

O Brasil foi o emergente mais atingido pela debandada de transferências de capital ocorrida a partir de março, enquanto o real registrou o pior desempenho entre seus pares, mas o tamanho ainda continua a ser causado por danos significativos. país está barato no ponto do candidato óbvio a receber parte das injeções de liquidez que inundam o mundo desde então.

Isso não significa, porém, que não existe algum otimismo. Alguns analistas chamam atenção para melhorias, ainda que tímidas, de fluxo cambial, para percepção de um real com excesso de desvalorização e para uma conta corrente equilibrada.

A dúvida é essa melhora na margem de força para continuar, especialmente considerando as dificuldades do Brasil em lidar com uma pandemia de coronavírus e seus efeitos econômicos.

O estrategista sênior para mercados emergentes do Standard Chartered Bank Ilya Gofshteyn avalia que uma situação delicada da trajetória das contas públicas é um fator que pesa o lado negativo, com o país já apresentando uma crise com o balanço fiscal fiscalizado.

No geral, uma avaliação de grande incerteza sobre os rumos da economia no meio de uma pandemia no curso, temores de relaxamento na agenda de austeridade fiscal e incorpora políticas de pesagem sobre o sentimento em relação ao Brasil, pior pela volatilidade cambial - um mais alta entre as principais divisas emergentes.

Dados mais recentes do fluxo cambial ainda mostram um quadro misto.

Em junho até o dia 19, segundos números mais altos do Banco Central, ocorreram 823 milhões de dólares em ações e fundos de investimento no Brasil e 411 milhões de dólares em títulos de dívida. Mas o mesmo chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, disse que não tem condições de indicar os dados positivos da indicação parcial de tendência de retorno de ingressos.

Dados da B3 que mostram que o fluxo de estrangeiros para o mercado secundário de ações ficou positivo em 343 milhões de reais em junho (foros de ações), primeiro resultado positivo do ano e após saída acumulada de quase 77 bilhões de reais entre janeiro e maio .

Mas outros números do BC revelaram fluxo cambial líquido praticamente zerado na semana passada, com déficit de quase 3 bilhões de dólares em junho até dia 26 e 12.577 bilhões de dólares no ano.

Em março, quando a crise do Covid-19 ficou mais evidente, a saída de investimentos na carteira do Brasil (ações e renda fixadas no mercado doméstico) alcançou 22,07 bilhões de dólares, um registro. Abril (-7,43 bilhões de dólares) e maio (-2,25 bilhões de dólares) continuaram vendo os déficits, embora menores.

Alguns analistas dizem que a dívida brasileira em dólar parece mais atraente, mas ainda assim seu impacto afetado pela ausência de grau de investimento. "O Brasil se mostra dentro dos emergentes, porém, México e Colômbia parece mais atraente em uma perspectiva ajustada pelo risco, já que os rendimentos são menores e menores que o investimento", afirmou Axel Christensen, chefe de estratégia da BlackRock para a América Latina .

Os títulos em dólar do Brasil com vencimento em cinco anos e negociado no mercado secundário pagam 2,86%, enquanto o México tem rendimento de 1,93% e os da Colômbia, de 2,32%.

O Milltrust International, grupo especializado em investimentos, colocou o Brasil na lista de recomendações "neutra", junto com a Malásia e a China, devido a que os analistas consideram "caros de avaliação". Os profissionais estão "acima do peso" (com recomendação acima da média) na Rússia, Coreia do Sul, África do Sul e Taiwan.

O "valuation" - conceito de avaliação de preços aplicável - é um dos motivos que faz com que Christensen, da BlackRock, considere que o mercado de ações brasileiras parece "menos atraente" no curto prazo, devido a "desafios desafiadores para a economia brasileira" "como resultado da crise de Covid-19.

Ele lembrou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou em 9,1% a estimativa para retração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, contra uma expectativa de queda de 5,0% para países emergentes e em desenvolvimento em uma China.

Pablo Riveroll, diretor de renda variável da Schroders para a América Latina, destacou que a retomada clara de transferências no Brasil passa pela melhora na confiança da moeda, que por sua vez está ligada a uma âncora fiscal "sustentável".

Mas Riveroll é otimista sobre a volta de capital sem prazo curto, em parte por acreditar que o real está com excesso de desvalorização e que o Brasil está "atrasado" ante seus pares.

"Estamos positivos com o Brasil na renda variável", disse, citando especialmente empresas dos setores de comércio eletrônico, meios de pagamento, tecnologia de informação, educação privada, empresas de saúde e bancos.

O mercado de ações do Brasil medido em dólar salgado 22,55% no trimestre passado, quarto melhor desempenho entre 43 índices de mercados emergentes listados pelo provedor de índices e dados MSCI. No ano, porém, as ações brasileiras ainda perdem 39,47%, também o quarto pior número. O real desvaloriza 25% no ano, em termos nominais, lanterna entre as principais moedas.

CÂMBIO ATRATIVO?

Mas alguns analistas enxergam no câmbio um elemento que pode elevar a atratividade das aplicações em ativos brasileiros. Isso ocorre porque, para quem acredita que o real está com excesso de depreciação, ou o caminho à frente está mais inclinado a ganhar, o que é melhor para você / risco / retorno do trocador retornado em dólares por reais.

Brooks, economista-chefe da IIF, calcula qual é a moeda real com maior desvalorização em excesso, da ordem de 15%.

Pesquisa recente do Bank of America com gestores de fundos mostrados "forte" melhora nas expectativas para o real. Apenas 14% dos consultados via dólar voltam a patamares acima de 5,60 reais até o final de 2020, enquanto a maioria é projetada em moeda de até 5,30 reais - por patamares atuais.

Riveroll, da Schroders, também vê uma divisão com depreciação além da justificada. "Essa 'performance inferior à média) do real não será mantida por muito tempo. Por isso, acho que vamos recuperar o câmbio e os fluxos de capital voltarão", disse.

A tão falada volatilidade do câmbio deve amenizar, segundo Gofshteyn, do Standard Chartered. "Não pense que vamos retornar para o nível mínimo de volatilidade em que ocorrer antes da crise, mas também não espere que os testes sejam máximos nas quais causou alguns meses", afirmou.

Uma agenda de reformas fiscais, privatizações e concessões traçada pela equipe econômica é vista com resultados positivos pelo vice-presidente-executivo e diretor de estratégia para a América Latina de Franklin Templeton, Gustavo Stenzel, que diz acreditar que o Brasil vai se beneficiar do fluxo de liquidez global em uma conjuntura de interesses menores no mundo.

De acordo com Stenzel, o mercado de acionamento e o Investimento Direto no País (IDP) serão os mais beneficiados pela atração de capital. "Nós estamos (com recomendação) 'excesso de peso' no Brasil, pois vemos uma forte agenda de reformas como um catalisador para o retorno de bons investimentos."

Fonte: Reuters

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