Brasil deve testar limite para a redução da taxa de juros; déficit pode passar de R$ 800 bilhões este ano

Publicado em 19/06/2020 03:43

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central provavelmente será forçado a deixar de lado suas apreensões e reduzir ainda mais as taxas de juros, testando o chamado "lower bound" enquanto enfrenta o maior colapso econômico já registrado e uma mínima histórica para a inflação.

Um debate em torno do limite efetivo para a redução dos juros, que consumiu vários bancos centrais globais nos últimos anos, agora está em curso na maior economia da América Latina, onde a taxa Selic já está no menor nível de todos os tempos: qual é o nível mínimo em que os cortes dos juros tornam-se contraproducentes e passam a aumentar a preocupação com a inflação ou a estabilidade financeira?

O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) reduziu sua taxa Selic na quarta-feira em 75 pontos-base, para 2,25%, e disse que pode haver espaço para uma nova flexibilização "residual" nos próximos meses.

O comunicado que acompanha o corte da taxa e os recentes comentários dos formuladores de política mostram relutância em prosseguir com cortes maiores. Eles citam o potencial impacto prejudicial sobre taxa de câmbio, expectativas de inflação, confiança dos investidores e estabilidade financeira geral.

Porém, um número crescente de analistas diz que a realidade econômica irá forçar a conduta do presidente do BC, Roberto Campos Neto, especialmente pelo fato de que a autarquia estar falhando em seu principal objetivo, de cumprir as metas de inflação. Para um país com um histórico de hiperinflação, esse é um fenômeno raro.

"Eles não terão escolha. O diagnóstico deles acerca da crise está errado, assim como o remédio", disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator em São Paulo, criticando o BC por não entender a gravidade da atual crise.

"O banco central terá que fazer o que for necessário para apoiar a economia e trazer a inflação de volta à meta", disse ele, prevendo que a Selic, eventualmente, será reduzida para 1,5%.

SELIC em 1%?

Um crescente grupo de economistas está adotando essa visão. Cassiana Fernandez, do JP Morgan, prevê que a Selic fechará o ano em 1,75%, e Gustavo Arruda, do BNP Paribas, e Dev Ashish, da Société Genérale, calculam que a taxa chegará a 1,5%.

Carlos Kawall, diretor de pesquisa econômica do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, acredita que a taxa básica de juros será reduzida para 1%. Se não fosse o debate do "lower bound", poderia até ir a zero.

"Nós continuamos enxergando espaço para uma flexibilização monetária adicional significativa", escreveram ele e seus colegas em nota na quarta-feira.

O ponto central dessa análise é a inflação, ou melhor, a falta dela. Em termos anuais, a inflação ao consumidor, que encostou em 7.000% há apenas uma geração, atualmente é de 1,9%, o menor nível em mais de 20 anos.

REGRA DE TAYLOR

Mais importante, a inflação está significativamente abaixo do centro da meta, de 4,0%, do BC para 2020. E pelas projeções do próprio Copom, que têm caído de forma consistente nas últimas reuniões, a inflação não voltará a 4,0% neste ano ou ao centro da meta no ano que vem, de 3,75%.

Usando uma combinação de variáveis sobre a taxa de câmbio e a taxa de juros, o Copom estimou, na quarta-feira, que a inflação encerrará este ano em 2,0% ou 1,9%, abaixo da projeção de 2,4% ou 2,3% na reunião do mês passado. Da mesma forma, as projeções para 2021 foram reduzidas para 3,0% ou 3,2%, de 3,2% ou 3,4%.

Com a economia a caminho de uma contração superior a 6% neste ano, de acordo com o consenso do mercado, o alto desemprego e a fraca demanda devem continuar pressionando a inflação para baixo, apesar de uma depreciação do real ante o dólar neste ano de 25%.

Nesse contexto, a chamada "Regra de Taylor", um modelo econômico que estima onde as taxas de juros devem estar para levar a inflação à meta, aponta para uma Selic muito mais baixa.

Mas a resistência entre os formuladores de política monetária é forte. Campos Neto tem dito que o "lower bound" é difícil de identificar e depende de várias variáveis, e não há consenso no Copom sobre onde está esse nível.

E, diferentemente dos bancos centrais de economias desenvolvidas, como o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) ou o Banco Central Europeu (BCE), há um prêmio de risco associado ao Brasil que limita o quão agressivamente o Copom pode agir.

Parte da hesitação também pode vir do fato de que, uma vez que o "lower bound" seja alcançado, a próxima fronteira para estimular a economia e reavivar a inflação são medidas de política monetária extraordinárias, como a compra de títulos ou o afrouxamento quantitativo (QE, em inglês).

E esse é um caminho que o banco central está ainda mais relutante em seguir.

País tem janela de cerca de 2 anos para garantir sinalização de equilíbrio fiscal, diz Mansueto

BRASÍLIA (Reuters) - O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, afirmou nesta quinta-feira que, diante do cenário de juros baixos e liquidez elevada no país e no mundo, o Brasil tem uma janela de pouco mais de dois anos para acelerar na aprovação das reformas fiscais.

"Acho que a gente ganhou aí uma janela, que é de dois anos ou um pouco mais, para avançar nas reformas e garantir uma sinalização do equilíbrio fiscal e que, a partir de um determinado ano, seja 2025, 2026, a dívida pública atinge um pico e começa a cair", disse Mansueto em videoconferência promovida pelo Infomoney.

Discorrendo sobre a necessidade de manutenção do mecanismo do teto de gastos, Mansueto alertou que o governo precisa suportar uma eventual pressão do Congresso por mais medidas de estímulo fiscal.

"Se o governo não conseguir resistir à essa pressão, a gente corre o risco de ter um cenário de reversão da queda de juros, cenário de aumento do risco-país, cenário de incerteza, que pode estender esse período de recessão, e uma possibilidade, no futuro, do governo ter de aumentar muito a carga tributária para fazer ajuste fiscal", pontuou.

ATUAÇÃO DO TESOURO

Sobre o financiamento do déficit nominal, que vai ter aumento expressivo este ano com a robusta expansão de gastos com medidas de enfrentamento ao coronavírus, Mansueto afirmou que o Tesouro precisará aumentar a venda de títulos públicos, concentrando-se em papéis de curto prazo.

"O foco, este ano é fazer muito leilão para conseguir financiar, e leilão focado mais no curto prazo."

Ele também mencionou a possibilidade da transferência para o caixa do Tesouro do resultado do balanço do Banco Central.

Mansueto, entretanto, destacou que, havendo a transferência e o Tesouro gaste os recursos, haverá uma expansão de liquidez que terá de ser enxugada com operações compromissadas do BC, o que contribuirá para inflar a dívida pública.

Mansueto: déficit pode passar de R$ 800 bilhões este ano (Estadão)

O governo pode registrar neste ano um rombo superior a R$ 800 bilhões, admitiu nesta quinta-feira, 18, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

Em sua última estimativa oficial, o Ministério da Economia calculava um déficit primário do setor público de R$ 708,7 bilhões em 2020. Hoje, Mansueto disse que uma projeção de rombo na casa dos R$ 700 bilhões seria "otimista".

Economistas e a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado já projetam um déficit até maior, passando dos R$ 900 bilhões.

Diante da situação das contas, Mansueto destacou a necessidade de manter o compromisso com o teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação e hoje funciona como uma espécie de "superâncora" para sinalizar compromisso com o ajuste

Segundo o secretário, mudar a Constituição para flexibilizar o teto "está fora de cogitação". "Se o governo não conseguir resistir à pressão (contra o teto), isso pode elevar juro, risco-país, aumentar período de restrição, carga tributária", alertou.

Ele ressaltou que o teto de gastos impede a manutenção de gastos emergenciais deste ano em 2021, a não ser que eles sejam incluídos no Orçamento e devidamente compensados. Do contrário, seria preciso mudar a Constituição.

"Se não respeitar o teto, vai ser pior", advertiu o secretário em videoconferência promovida pelo Infomoney.

O secretário disse ainda que a crise atual não é só de liquidez, é de solvência também."Não sabemos quais empresas vão sobreviver e como será comportamento de consumidor", afirmou.

Dados de siderurgia em maio indicam cenário menos negativo que o esperado, diz IABr

SÃO PAULO (Reuters) - Apesar de operar com apenas 51% de sua capacidade instalada, o setor siderúrgico brasileiro mostrou em maio um cenário menos pessimista que o previsto, afirmou nesta quinta-feira o presidente-executivo da entidade que representa os produtores de aço do país, IABr, Marco Polo de Mello Lopes.

A produção de aço em maio caiu 22,6% sobre um ano antes, para 2,188 milhões de toneladas, enquanto as vendas no mercado interno recuaram 23,2%, para 1,196 milhão de toneladas.

"Estes dados indicam um cenário menos negativo do que o esperado, a produção aumentou 20,8% e as vendas internas subiram 22,6% na comparação com abril", disse o executivo em mensagem gravada acompanhando os números. Segundo o IABr, o consumo aparente de aço no Brasil cresceu 19,7% no mês passado sobre o anterior e as exportações tiveram alta de 6,5%.

No acumulado de janeiro a maio, a produção brasileira de aço teve queda de cerca de 16%, para 12,14 milhões de toneladas, enquanto as vendas no mercado interno tiveram recuo de 12,3%, a 6,62 milhões de toneladas. O consumo somou 7,575 milhões de toneladas, queda de 12,6% sobre o mesmo período de 2019.

Pouco após o início das medidas de quarentena no país, em meados de março, o IABr havia estimado que o consumo de aço no segundo trimestre poderia cair 40% sobre os três primeiros meses do ano, mas os dados sinalizam para um recuo de cerca de 27%, se junho mantiver a média de consumo do segundo trimestre.

Em abril e boa parte de maio, um dos principais setores consumidores de aço no Brasil, o automotivo, estava paralisado diante das medidas de quarentena adotadas por vários Estados do país. As montadoras começaram a retomar a produção a partir do final do mês passado.

O IABr também divulgou um índice de confiança do setor siderúrgico. Segundo a entidade, o índice Icia subiu de 26,9% em maio para 46,9% em junho, se aproximando do limite que divide a confiança e a falta de confiança. Em abril, o índice chegou a afundar para 16,3%, após 37,4% em março e 70,2% em fevereiro.

(Por Alberto Alerigi Jr.)

Itaú Unibanco puxa 3ª alta do Ibovespa um dia após BC levar Selic a 2,25%

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta pelo terceiro pregão seguido nesta quinta-feira, com as ações do Itaú Unibanco entre as maiores contribuições positivas, além de nova redução na taxa básica de juros, com sinalização de mais um corte 'residual' à frente.

A hesitação nos mercados no exterior, em meio a receios sobre nova onda de casos de Covid-19 quando as economias começam a reabrir, contudo, evitou uma sessão mais positiva.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,6%, a 96.125,24 pontos, chegando a superar os 97 mil na máxima da sessão. No pior momento, nos primeiros negócios, caiu a 94.697,53 pontos.

O volume financeiro da sessão somou 27,77 bilhões de reais.

Análise gráfica da equipe da Santander Corretora estima que, caso a pressão compradora se intensifique, o Ibovespa deverá seguir em direção à resistência em 98.000 pontos e, depois, pode buscar os 102 mil pontos.

Na véspera, o Banco Central corroborou perspectivas e reduziu ainda mais a taxa Selic, para 2,25% ao ano, movimento que tem estimulado migração de recursos para a bolsa, em busca de rendimentos mais elevados.

A analista da XP Betina Roxo ressaltou em relatório a clientes que, pela primeira vez na história, o rendimento dos dividendos das empresas do Ibovespa supera a taxa básica de juros brasileira.

"Apesar da redução das estimativas dos lucros das empresas neste ano e consequentemente do pagamento dos dividendos, os juros continuam em queda... Portanto, essa comparação do rendimento dos dividendos com os juros continua positiva, o que mostra a atratividade tanto da bolsa quanto dos bons pagadores de dividendos", argumentou.

Ela ainda chamou a atenção para o fato de que as taxas de juros mais baixas também têm efeitos diretos para as companhias, como redução no custo de dívida e incentivo para investimentos.

No exterior, a sessão foi marcada por alguma hesitação, em meio ao aumento de novos casos de Covid-19 em alguns Estados norte-americanos, bem como dados mostrando que os pedidos de auxílio-desemprego permanecem elevados.

O S&P 500 fechou praticamente estável.

Além do cenário mais cauteloso no exterior, a cena política tensa teve novos eventos, com a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o que traz receios sobre a articulação política do governo.

DESTAQUES

- ITAÚ UNIBANCO PN fechou com elevação de 3,92%, melhor desempenho dos bancos do Ibovespa. O BTG Pactual citou a forte valorização das ações da XP nas últimas semanas, lembrando da relevante fatia que o banco tem no grupo, com opção de ampliá-la. Eles adicionaram que muito tem se questionado se o Itaú pode vender ou distribuir as ações da XP para acionistas, embora isso possa desencadear um pagamento de imposto sobre ganho de capital de até 45%. Uma alternativa, na visão da equipe do BTG, seria fazer o spin-off do Itaú para seus acionistas, embora não seja certo que não haverá imposto sobre a transação. Noutro relatório, o BTG citou que o discurso do banco melhorou em relação há um mês. "Nossa percepção é de que o lucro líquido poderia melhorar na base trimestral no segundo trimestre devido a menores provisões para perdas com empréstimos", afirmaram, estimando boas chances de o lucro no segundo trimestre ficar acima do observado no primeiro. No setor, BRADESCO PN caiu 0,36%, enquanto BTG PACTUAL, saltou 9,12%.

- PETROBRAS PN e PETROBRAS ON subiram 0,75% e 1,57%, respectivamente, apoiadas pela alta do petróleo no exterior tendo de contexto um painel formado pela Opep e por aliados que se reuniu para revisar cortes recordes à oferta da commodity. Além disso, a companhia está retomando os planos de venda de sua fatia restante na BR Distribuidora, afirmaram à Reuters duas pessoas com conhecimento do assunto. Em comunicado, a empresa disse que vem estudando venda adicional de sua participação da BR, mas ainda não há deliberação sobre detalhes da operação.

- CIELO ON valorizou-se 8,69%, ainda embalada pela decisão do WhatsApp, do Facebook, de lançar um sistema de pagamento digital no Brasil em parceria com a empresa de cartões e outras instituições financeiras. Desde então, os papéis já contabilizam uma alta de mais de 30%.

- VALE ON teve oscilação negativa de 0,05% com queda dos preços do minério de ferro na China, no contexto de suspensão da interdição do Complexo de Itabira. Nesta quinta-feira, a Vale também disse que iniciou manutenção planejada em sua mina de Voisey´s Bay, no Canadá, como primeiro passo para a retomada das operações em julho.

- CEMIG PN recuou 3,07%, com o setor elétrico entre os destaques negativos, após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocar na pauta da próxima reunião para discutir pacote de socorro às elétricas. Havia expectativa de que a proposta fosse abordada já nesta sexta-feira.

- MULTIPLAN ON caiu 3,45%, em sessão de ajustes, após avançar mais de 5% na véspera. No setor, IGUATEMI ON recuou 1,41% e BRMALLS ON cedeu 0,75%.

Fonte: Reuters

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