Dono de imóvel onde Queiroz foi preso não advoga para Bolsonaro, diz advogada do presidente

Publicado em 18/06/2020 15:58 e atualizado em 19/06/2020 03:49

BRASÍLIA (Reuters) - A advogada Karina Kufa divulgou na tarde desta quinta-feira uma nota de esclarecimento em que informa que somente o seu escritório e a Advocacia-Geral da União (AGU) representam o presidente Jair Bolsonaro em ações nas esferas cíveis, criminais ou eleitorais em curso no Poder Judiciário.

"O advogado Frederick Wassef não presta qualquer serviço advocatício em nenhuma ação em que seja parte o senhor Jair Messias Bolsonaro e não faz parte do referido escritório, não constando seu nome em qualquer processo", informou Karina Kufa, na nota.

A manifestação da advogada ocorre após uma operação policial ter prendido nesta manhã o ex-assessor Fabrício Queiroz, que trabalhou no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro, em imóvel que pertence a Frederick Wassef, segundo o Ministério Público de São Paulo, numa investigação referente ao esquema de "rachadinha" da Assembleia Legislativa do Rio.

Esse advogado representa Flávio Bolsonaro e também se envolveu no caso do atentado a faca que Bolsonaro sofreu na campanha eleitoral de 2018.

Na nota, contudo, Karina Kufa fez menção a um relatório parcial da investigação sobre o atentado a Bolsonaro em que o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Fernandes Morais, disse em 12 de maio passado que Wassef, embora se apresente como advogado do presidente, "não possui procuração dos autos neste inquérito policial.

Com essas informações, a nota serviria para tentar afastar Bolsonaro do centro da crise deflagrada com a prisão de Queiroz.

Fabrício Queiroz é preso em casa de advogado de Flávio Bolsonaro

  • Fabricio Queiroz chega ao aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro 18/06/2020 REUTERS/Ricardo Moraes

Por Eduardo Simões e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira em Atibaia, interior de São Paulo, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado, em cumprimento de mandado expedido pela Justiça do Rio de Janeiro no âmbito das investigações sobre um esquema de "rachadinha" na Alerj, informaram os MPs paulista e fluminense.

Queiroz foi preso em um imóvel que pertence ao advogado Frederick Wassef, segundo o Ministério Público de São Paulo. O advogado representa Flávio Bolsonaro e também se envolveu no caso do atentado à faca que Bolsonaro sofreu na campanha eleitoral de 2018.

Wassef, que ainda não se manifestou sobre o caso, esteve no Palácio do Planalto na quarta-feira, onde acompanhou a posse de Fábio Faria no Ministério das Comunicações. O advogado, que tem uma base em Brasília, tem se reunido com alguma frequência com Bolsonaro, em encontros dentro e fora da agenda oficial.

"Na manhã desta quinta-feira, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Civil efetuaram a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, na cidade de Atibaia", informou o MP paulista em nota.

O mandado expedido pela Justiça fluminense se refere às investigações sobre o esquema conhecido como "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio. Queiroz foi assessor de Flávio Bolsonaro quando o atual senador era deputado estadual no Rio. A suspeita é de apropriação e desvio de parte dos salários dos servidores do gabinete do parlamentar.

De acordo com o MP do Rio, outras medidas cautelares determinadas pela Justiça estão sendo cumpridas no Rio de Janeiro.

O endereço de um dos imóveis alvos de mandado de busca fica no mesmo local em Bento Ribeiro, zona norte do Rio de Janeiro, onde Bolsonaro declarou ter casa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na eleição de 2018. A Reuters teve acesso ao mandado que mostra que a busca e apreensão foi determinada nesse endereço, mas na casa de número 31. Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral ser proprietário da casa de número 15.

A Polícia Civil paulista também realizou busca e apreensão no imóvel onde Queiroz foi preso. O ex-assessor foi levado de helicóptero para o Rio de Janeiro, passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) da cidade antes de ser levado ao presídio de Benfica, na zona norte da capital fluminense, que é a porta de entrada do sistema penitenciário do Rio. Posteriormente, Queiroz será transferido para o Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste.

No Twitter, o senador Flávio Bolsonaro disse que encara com tranquilidade a prisão de Queiroz e afirmou que a operação desta quinta é um movimento para atacar seu pai.

"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu o senador.

A Reuters tentou contato com Wassef e enviou e-mail ao Palácio do Planalto, mas ainda não obteve resposta.

Em nota divulgada à tarde, a advogada Karina Kufa afirma que somente o seu escritório e a Advocacia-Geral da União (AGU) representam o presidente Jair Bolsonaro em ações nas esferas cíveis, criminais ou eleitorais em curso no Poder Judiciário.

OPERAÇÃO ANJO

De acordo com o MP do Rio, a operação desta quinta foi batizada de Anjo e também teve como alvo de medidas cautelares servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Estado.

"Contra outros suspeitos de participação no esquema, o MPRJ obteve na Justiça a decretação de medidas cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, o comparecimento mensal em Juízo e a proibição de contato com testemunhas", afirmou o MP fluminense.

As investigações sobre o alegado esquema de "rachadinha" começaram em 2018, quando foi deflagrada a operação Furna da Onça.

O ponto de partida para as investigações envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro foi uma movimentação financeira atípica de mais de 1 milhão de reais nas contas do ex-assessor parlamentar. A suspeita é que os recursos fossem resultado da "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio.

Queiroz é policial militar aposentado e amigo da família Bolsonaro, inclusive do presidente.

Ele não apareceu mais em público após o escândalo e chegou a faltar mais de uma vez a depoimentos no MP do Rio sobre o caso, alegando problemas de saúde. Queiroz foi internado no final de 2018, em São Paulo, para uma tratamento contra um câncer.

Posteriormente, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro prestou depoimento ao Ministério Público do Rio por escrito e afirmou que "gerenciava" os salários recebido pelos funcionários do gabinete com o objetivo de ampliar o número de assessores de Flávio em suas bases eleitorais. Queiroz disse que o então deputado não sabia que ele fazia esse gerenciamento.

Ele disse no depoimento escrito que tinha a confiança do então deputado e que foi escolhido para o cargo por ter atuação próxima a pessoas das áreas de segurança pública e da polícia, grupos ligados à base eleitoral de Flávio.

O ex-assessor disse que "entendeu que a melhor forma de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores da base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento dos valores que cada um recebia mensalmente".

Sobre movimentações financeiras atípicas em sua conta --1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017 detectados pelo extinto Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que agora se chama Unidade de Inteligência Financeira-- Queiroz disse que o montante se referia a recursos recebidos por sua família, uma vez que o salário de sua mulher e filhos era depositado em sua conta.

Além disso, pela conta, segundo o ex-assessor, passavam também recursos provenientes de operações de compra e vendas de veículos e eletrodomésticos que ele fazia.

(Reportagem adicional de Leonardo Benassatto, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)

Fonte: Reuters

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