Prisão de Queiroz coloca mais pressão em momento crítico para Bolsonaro (Reuters)

Publicado em 18/06/2020 18:50

BRASÍLIA (Reuters) - A prisão de Fabrício Queiroz na casa de Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, é mais uma peça em um jogo que tem deixado o presidente Jair Bolsonaro ainda mais na defensiva e pode fazê-lo investir cada vez mais no que o elegeu: as redes sociais e a massa bolsonarista fiel.

A operação que levou à prisão de Queiroz e revelou que o ex-assessor de Flávio estaria sendo escondido pelo advogado ligado à família Bolsonaro traz a crise do escândalo da "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para dentro do Palácio do Planalto, algo que Bolsonaro sempre tentou evitar.

O desdobramento ocorre em uma semana em que o presidente viu mais uma operação da Polícia Federal atingir diretamente seus aliados mais fiéis -- inclusive com a quebra de sigilos, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de 11 parlamentares da base mais fiel do governo. A investigação, sobre o financiamento e organização de atos antidemocráticos, se soma ao inquérito sobre produção de fake news que também atingiu em cheio grupos bolsonaristas fiéis.

Depois de partir para um confronto direto, ao menos em palavras, com o STF, com críticas aos ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello, Bolsonaro foi aconselhado a evitar novos conflitos. A operação de terça-feira, no entanto, fez o presidente afirmar a apoiadores, no dia seguinte, que "eles estão abusando" a "olhos vistos".

À tarde, ao dar posse ao novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro fez questão de lembrar que tem "grande parte da população confiante no nosso trabalho", enquanto tinha a seu lado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Dias Toffoli, presidente do STF.

"Começo cumprimentando o povo, que dá o nosso norte, que nos inspira pela democracia e acima de tudo a liberdade. Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer, é o contrário, o povo que diz o que as instituições devem fazer", destacou.

Nesta quinta, voltou ao mote: "Eu faço o que o povo quiser", afirmou em um vídeo em que o agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciava sua saída do governo.

Ainda nesta semana, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incluiu na pauta da próxima terça-feira o julgamento de uma ação que pede a cassação da chapa presidencial Bolsonaro-Mourão, movida pelo PT, que alega o uso de outdoors com padrões em favor da campanha vitoriosa em 2018. Essa é a terceira das oito ações que tentam cassar a chapa Bolsonaro-Mourão que vai a julgamento pelo TSE.

Com uma crise atrás da outra, o presidente tenta revigorar as bases bolsonaristas nas redes sociais que foram essenciais na sua eleição. A participação nos atos a seu favor que passaram a ser feitos todos os domingos em Brasília ajudou a tentar aquecer os grupos, mas não conseguiu criar um movimento de peso em defesa do governo.

Ao contrário, grupos opositores começaram a se organizar e, mesmo em meio à epidemia do novo coronavírus, conseguiram reunir nas ruas mais gente que os grupos bolsonaristas.

A operação que mirou blogueiros, youtubers e parlamentares aliados a Bolsonaro conseguiu, esta semana, revigorar um pouco essa base nas redes sociais.

O levantamento mais recente da Sala de Democracia Digital da Fundação Getúlio Vargas, feito na terça-feira, mostra que os perfis de apoio ao governo se mantêm abaixo dos 20% no debate nacional desde o início deste ano, mas na terça-feira, dia da operação que atingiu justamente esses grupos, foram responsáveis por 51% das postagens e retuítes.

Nesta quita, no entanto, o escândalo da prisão de Queiroz baixou os ânimos. Eduardo e Carlos, os filhos de Bolsonaro mais ativos nas redes, não entraram no debate e praticamente passaram o dia sem novas postagens. Os grupos bolsonaristas não conseguiram emplacar nenhuma hashtag em defesa do governo, e o debate foi dominado por críticos ao governo.

O mote de que foi eleito por 57 milhões de votos --desconsiderando que outros 89 milhões de eleitores não o escolheram-- é usado pelos bolsonaristas nas redes sociais para vender ainda a ideia de que o presidente tem, por trás das suas ações, um apoio popular forte, o que não aconteceria com os demais Poderes.

Com uma rede de influenciadores digitais, blogueiros e youtubers --muitos deles acusados de produzir notícias falsas--, os bolsonaristas movimentam as redes em defesa do governo, subindo hashtags e passando a impressão de um apoio ao governo maior do que o existente na realidade.

De acordo com as últimas pesquisas, no entanto, o grupo que ainda considera o governo bom ou ótimo tem aparecido abaixo dos 30% e, mesmo nas redes sociais, o governo não consegue mais dominar a narrativa.

Sem conseguir uma estratégia de defesa convincente, o Planalto nesta quinta-feira optou pelo silêncio.

Sem citar caso Queiroz, Bolsonaro diz em vídeo de saída de Weintraub que momento é difícil

BRASÍLIA (Reuters) - Em sua primeira fala desde a notícia da prisão de Fabrício Queiroz na manhã desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em vídeo divulgado por ocasião da demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que o momento é difícil.

Bolsonaro apareceu em um vídeo com Weintraub para anunciar a saída deste da pasta. O presidente não cita quais seriam as circunstâncias difíceis do momento, mas diz que os ouvintes sabem o que o país está passando.

"É um momento difícil. Todos os meus compromissos de campanha continuam de pé e busco implementá-los da melhor maneira possível. A confiança você não compra, você adquire. Todos que estão nos ouvindo agora são maiores de idade, sabem o que o Brasil está passando e o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade. Eu faço o que o povo quiser", afirmou.

Queiroz, ex-assessor do filho mais velho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, é considerado pelos investigadores peça central no inquérito do esquema conhecido como "rachadinha", em que parte dos salários de servidores de Flávio, então deputado estadual do Rio de Janeiro, era confiscada.

Muito próximo de toda a família Bolsonaro, inclusive do presidente, Queiroz estava desaparecido há mais de um ano e foi encontrado em um casa em Atibaia (SP) pertencente a Frederick Wasseff, advogado de Flávio e do próprio Bolsonaro.

Pela manhã, Bolsonaro saiu cedo do Palácio da Alvorada e nem mesmo parou para falar com os apoiadores que costumam esperá-lo todas as manhãs.

De acordo com fontes, o presidente reuniu os ministros palacianos, além do ministro da Justiça, André Mendonça, em uma reunião fora da agenda para discutir uma resposta à situação, que levou a investigação sobre as rachadinhas para ainda mais próximo da sua família.

Até este momento, no entanto, o presidente não tinha se manifestado nem mesmo indiretamente sobre o assunto.

Bolsonaro deixou o Planalto pouco antes das 16h30 e foi direto para o Alvorada. Mais uma vez, entrou sem falar com a imprensa ou apoiadores.

Weintraub anuncia saída do Ministério da Educação e diz que assumirá diretoria no Banco Mundial

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - Abraham Weintraub anunciou nesta quinta-feira, em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que está deixando o Ministério da Educação e que irá assumir uma diretoria do Banco Mundial.

"Sim, dessa vez é verdade, estou saindo do MEC, e vou começar a transição agora e nos próximos dias eu passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou definitivo. Nesse momento eu não quero discutir os motivos da minha saída, não cabe", disse Weintraub no vídeo ao lado de Bolsonaro.

"O importante é dizer que eu recebi o convite para ser diretor de um banco, já fui diretor de um banco no passado, volto ao mesmo cargo, porém no Banco Mundial. O presidente já referendou", acrescentou ele.

Weintraub já tinha sua demissão sendo negociada há algumas semanas, mas Bolsonaro não queria deixar que ele, um de seus maiores defensores, saísse sem ter um novo cargo.

A permanência de Weintraub no governo que sempre foi alvo de controvérsia, tornou-se foco de tensão ainda maior do Palácio do Planalto com os demais Poderes depois da divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, em que ele defende que os "vagabundos" sejam colocados na cadeia, "a começar pelo STF", em referência aos ministros do Supremo Tribunal Federal.

A declaração rendeu a Weintraub uma investigação no âmbito do inquérito das fake news, que apura notícias falsas, ataques e ameaças contra ministros do Supremo.

A passagem dele pelo MEC também foi alvo constante de críticas. Recentemente, em meio à pandemia de Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus, ele resistiu a adiar a data de realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), amplamente usado como prova de entrada em universidades públicas, especialmente as federais.

A confirmação da saída de Weintraub foi vista com bons olhos por parlamentares de várias legendas. Ele não tinha bom relacionamento com a maioria do Parlamento, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já o classificou como "um desastre".

"A saída do pior ministro da Educação da história é um alívio para milhões de jovens brasileiros", escreveu no Twitter a deputada Tabata Amaral (PDT-SP).

Para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, a manutenção de Weintraub no governo tornou-se "insustentável" depois de ele participar no último fim de semana de um ato antidemocrático contra o Congresso e o STF em Brasília --o que lhe rendeu uma multa de 2 mil reais do governo do Distrito Federal pelo não uso da máscara, que é obrigatório na capital-- e pela decisão do plenário do Supremo de rejeitar pedido para retirá-lo do rol de investigados do inquérito das fake news.

"Paralelamente a todos estes fatos, o ex-ministro já vinha num processo de desgaste crescente, particularmente por seus posicionamentos nas redes sociais muitas vezes incompatíveis com a importância do cargo que ocupava", disse Sampaio, em nota.

 

ALA IDEOLÓGICA

Economista de formação, Weintraub, de 48 anos, se aproximou de Bolsonaro por meio do atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, a quem ele e o irmão, Arthur, são ligados. Durante a campanha de Bolsonaro, fez parte da equipe que elaborou o programa de governo e também atuou na transição, após a eleição de Bolsonaro em outubro de 2018.

No governo, foi um dos assessores de Onyx na Casa Civil até abril de 2019, quando foi nomeado por Bolsonaro para comandar o Ministério da Educação no lugar de Ricardo Vélez, cujo desempenho à frente da pasta vinha sendo criticado pelo presidente.

Na ocasião, o escritor Olavo de Carvalho, um ideólogo do bolsonarismo, disse que o então novo ministro conhecia suas ideias melhor que o antecessor.

À frente do Ministério da Educação, Weintraub tornou-se um dos membros mais combativos da ala ideológica do governo Bolsonaro, especialmente em sua conta no Twitter, na qual ele frequentemente atacou adversários e provocou críticas com suas declarações e publicações.

Tornou-se célebre, por exemplo, um vídeo em que Weintraub faz uma paródia do filme Dançando na Chuva, dançando com um guarda-chuva num ambiente fechado e afirmando "está chovendo fake news". Ele também fez ironia em março deste ano com a suspeita de que a presidente da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, que é crítica de sua gestão, estava com a Covid-19.

No ano passado, no Dia da Proclamação da República, em 15 de novembro, Weintraub fez uma publicação no Twitter em que classificou o episódio histórico de "infâmia" contra Dom Pedro 2º. "O que diabos estamos comemorando hoje? Há 130 anos foi cometida uma infâmia contra um patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da História", escreveu.

Mais recentemente, ele usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para ironizar a forma que os chineses falariam o português e para insinuar que a China se beneficiou com a crise provocada pela pandemia do coronavírus.

Mesmo depois de apagar a publicação, ele foi alvo de críticas do embaixador e da embaixada da China no Brasil e disse em entrevista que o país estava lucrando com a venda de respiradores para todo o mundo. Disse, ainda, que pediria desculpas se o país asiático vendesse a preço de custo esses equipamento para hospitais de universidades federais. O episódio lhe rendeu um inquérito que apura se ele cometeu crime de racismo.

Outra polêmica envolvendo Weintraub foi o decreto enviado pelo governo ao Legislativo que permitia a nomeação por ele de reitores temporários para universidades federais durante a pandemia.

O último episódio a provocar polêmica foi a participação no dia 14 de junho de um protesto de apoiadores de Bolsonaro em Brasília, no qual Weintraub voltou a falar em “vagabundos” ao comentar o inconformismo de quem disse pagar imposto e ver corruptos roubarem. Em uma entrevista, Bolsonaro minimizou o fato, dizendo que Weintraub não foi muito prudente em comparecer ao ato, mas que não viu nada de grave na fala dele.

Por 10 votos a 1, STF valida inquérito das fake news com recados ao governo Bolsonaro

BRASÍLIA (Reuters) - O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu validar, por 10 votos a 1, o inquérito das fake news aberto no ano passado para investigar a divulgação de notícias falsas e ameaças a ministros da Corte, e concluiu nesta quinta-feira um julgamento de três dias com uma série de recados ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro já criticou duramente essa investigação, chamando-a de ilegal. O julgamento ocorreu em um momento tenso de embate entre os dois Poderes, após simpatizantes do presidente terem disparado fogos de artifício em direção ao prédio do STF no fim de semana como protesto a recentes decisões da corte.

A maioria absoluta dos ministros decidiu que a investigação --conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes-- terá de seguir a linha do relator da ação, ministro Edson Fachin.

Bolsonaro edita MP que muda negociação de direitos de transmissão do futebol

  • Cinegrafista no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro 

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro editou nesta quinta-feira medida provisória que altera o modelo de negociação dos clubes de futebol com emissoras de televisão para a transmissão de jogos, dando exclusivamente aos times mandantes o poder de negociar a transmissão.

Anteriormente os dois clubes envolvidos na partida precisavam ter contrato assinado com a mesma emissora para que os jogos fossem transmitidos, o que provocou um impasse, por exemplo, para a transmissão do Campeonato Carioca deste ano, uma vez que o Flamengo não assinou contrato com a TV Globo, ao contrários dos demais participantes da competição.

De acordo com o texto da MP, agora "pertence à entidade de prática desportiva mandante o direito de arena sobre o espetáculo desportivo, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, do espetáculo desportivo".

A medida provisória acrescenta que, no caso de partida sem definição de mando de campo, os dois times envolvidos precisam chegar a um acordo em comum sobre a transmissão.

A MP foi assinada um dia após Bolsonaro receber no Palácio do Planalto os presidentes do Flamengo e do Vasco, além do jogador Felipe Melo, do Palmeiras.

Na medida provisória, o presidente também determinou que serão distribuídos, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do jogo 5% da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais.

Fonte: Reuters

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