Bolsonaro reage e o clima em Brasília é de muita tensão; "não posso assistir calado"...

Publicado em 17/06/2020 04:18 e atualizado em 17/06/2020 13:53
"...tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros”.

 

Após os mandados de busca e apreensão que atingiram seus aliados, o presidente Jair Bolsonaro quebrou o silêncio na noite desta terça-feira, dia 16. Em postagem no twitter Bolsonaro falou em "abusos" e disse que 'ideias são perseguidas' e 'direitos violados". O presidente disse também que tomará todas as medidas legais para proteger a Constituição porque não pode “fingir naturalidade" diante do que está acontecendo.

Bolsonaro não deixou dúvidas sobre o destinatário de suas críticas nesse momento de tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo fontes ouvidas pela sucursal da Reuters em Brasília, "os termômetros mostraram uma elevação da temperatura nesta terça-feira, deixando parlamentares, comandos das duas Casas do Congresso e ministros do Supremo em estado de atenção"

“Luto para fazer a minha parte, mas não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas”, escreveu o presidente nas redes sociais. “Por isso, tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros”.

Bolsonaro afirmou que o histórico de seu governo “prova” que ele sempre esteve ao lado da democracia e da Constituição. 

“Os abusos presenciados por todos nas últimas semanas foram recebidos pelo governo com a mesma cautela de sempre, cobrando, com o simples poder da palavra, o respeito e a harmonia entre os poderes. Essa tem sido nossa postura, mesmo diante de ataques concretos”, disse Bolsonaro.

O presidente havia orientado pessoas próximas a evitar manifestações públicas sobre a Operação Lume da Polícia Federal, que investiga seus aliados no âmbito do inquérito sobre os atos antidemocráticos.

A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo bancário de dez deputados federais e um senador bolsonaristas. Moraes também é relator do inquérito das fake news.

- O histórico do meu governo prova que sempre estivemos ao lado da democracia e da Constituição brasileira. Não houve, até agora, nenhuma medida que demonstre qualquer tipo de apreço nosso ao autoritarismo, muito pelo contrário, escreveu o presidente em sua conta no twitter.

Bolsonaro decidiu romper o silêncio nas redes sociais após as 22 horas, e após reunião com o gabinete militar.

--  “Só pode haver democracia onde o povo é respeitado, onde os governados escolhem quem irá governá-los e onde as liberdades fundamentais são protegidas. É o povo que legitima as instituições, e não o contrário. Isso, sim, é democracia ”, disse ele.

Argumentando que quer, acima de tudo, preservar a democracia, Bolsonaro mencionou “abusos” que teriam sido cometidos contra o governo.

“E fingir naturalidade diante de tudo o que está acontecendo só contribuiria para a sua completa destruição. Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo”, insistiu.

Bolsonaro disse que não houve por parte do governo, até agora, nenhuma medida que demonstrasse apreço ao autoritarismo. Ele observou que,  em janeiro do ano passado, após colocar “fim ao ciclo PT-PSDB”, seu governo iniciou uma “escalada” rumo à liberdade, trabalhando por “reformas necessárias” e se distanciando de “ditaduras comunistas”.

“Vale lembrar que há décadas o conservadorismo foi abolido de nossa política, e as pessoas que se identificam com esses valores viviam sob governos socialistas que entregaram o país à violência e à corrupção, feriram nossa democracia e destruíram nossa identidade nacional”, escreveu.

-- “Suportamos a todos esses abusos sem desrespeitar nenhuma regra democrática, até mesmo quando um militante de esquerda, ex-membro de um partido da oposição, tentou me assassinar para impedir nossa vitória nas eleições, num atentado que foi assistido pelo mundo inteiro”.

Julgamento das fake-news

Nesta quarta-feira, 17, o plenário do Supremo retoma o julgamento que decidirá o futuro do inquérito das fake news, já que a Procuradoria Geral da República pediu a suspensão temporária das investigações. A tendência, porém, é pela continuidade das apurações, que têm fechado o cerco ao  Palácio do Planalto. 

Ao final, Bolsonaro disse que aquilo que seus adversários apontam como "autoritarismo" do governo e de seus apoiadores não passa de posicionamentos alinhados aos valores do povo, que, segundo ele, é conservador em sua grande maioria. 

"A tentativa de excluir esse pensamento do debate público é que, de fato, é autoritária", apontou o presidente.

Bolsonaro citou, por fim, o slogan de sua campanha eleitoral em letras maiúsculas:

"Brasil acima de tudo; Deus acima de todos!"

“Não adianta passar para o radicalismo”, diz Flávio Bolsonaro (em O Antagonista)

Flávio Bolsonaro disse em rede social que não é hora de “passar para o radicalismo, por mais que dê vontade:

“O momento não é de medidas drásticas, de partir para dentro de instituições. O Brasil não precisa disso agora. Por mais que, às vezes, dê vontade de xingar um, xingar outro, por mais que a gente perceba, às vezes, alguns sinais de que há algo estranho no ar, o momento nosso é o de dar o voto de confiança às instituições, de dar o voto de confiança às autoridades (…).

Não adianta passar para o radicalismo de querer fazer as coisas com as próprias mãos. Por mais que dê vontade, de vez em quando, a gente tem uma legislação que está sendo observada, uma Constituição que rege os poderes.”

“Desce os onze, entra no camburão, porque agora o prédio está tomado”

O deputado bolsonarista Márcio Labre disse no YouTube que os militares podem fechar o Congresso Nacional e prender os onze ministros do STF:

“Não estou fazendo apologia à desgraça, porque até eu, se houver uma intervenção, deixo de ser deputado. (…) Estou fazendo uma descrição de como as coisas podem acontecer. Está se fazendo um tensionamento que pode chegar a um nível irreversível. Das Forças Armadas atravessarem o Eixo Monumental, bater ali na porta do Supremo e falar: vocês onze podem sair daí, um com a mão dada para o outro. Desce os onze, entra no camburão, porque agora o prédio está tomado e somos nós que vamos resolver.”

O compromisso de Aras deve ser com a lei, diz editorial do Estadão

Estadão, em editorial, diz que o PGR tem o dever de processar Jair Bolsonaro:

“Como lembrou o ministro Gilmar Mendes, ‘invadir hospitais é crime – estimular também’. Cabe, portanto, ao procurador-geral da República, Augusto Aras, pedir a abertura de inquérito para investigar o novo descalabro presidencial (…).

Augusto Aras está em posição segura, não tendo necessidade de agradar ao presidente Bolsonaro. A Constituição assegura que eventual ‘destituição do procurador-geral da República, por iniciativa do presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal’. O procurador-geral da República tem, portanto, as garantias constitucionais necessárias para cumprir de forma isenta seu dever. Seu único compromisso pode e deve ser apenas com a lei.”

Fonte: Estadão Conteúdo/O Antagonista

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