Dólar tem maior alta em mais de 1 mês e volta a fechar acima de R$ 5

Publicado em 12/06/2020 17:10 e atualizado em 12/06/2020 20:05

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar terminou em forte alta ante o real nesta sexta-feira, que fez a moeda acumular valorização também na semana, conforme operadores voltaram do feriado ajustando os preços ao súbito nervosismo nos mercados externos na véspera por renovados temores sobre o coronavírus e a economia global.

Os mercados financeiros no Brasil permaneceram fechados na quinta pelo feriado de Corpus Christi.

As praças internacionais até se recuperaram nesta sexta, mas não sem intensa volatilidade, o que acabou respaldando a alta do dólar ante o real.

O dólar à vista subiu 2,14%, a 5,0454 reais na venda. É a maior valorização percentual diária desde 7 de maio (+2,39%).

Denunciando a volatilidade, a moeda chegou a subir para 5,0950 reais nesta tarde, valorização de 3,14%. A cotação operou abaixo de 5 reais no meio da manhã, depois de bater 5,1130 reais logo após o início dos negócios, salto de 3,51%.

O real liderou com folga as perdas entre as principais moedas nesta sessão, em ajuste depois de na véspera, feriado no Brasil, os mercados financeiros globais serem golpeados por uma onda de aversão a risco por temores de ressurgência de casos de Covid-19 e pela avaliação sombria do Fed, emitida na quarta-feira. E já nesta sexta o Fed afirmou ver "fragilidades persistentes" para famílias e empresas e esperar forte queda do PIB norte-americano neste trimestre.

"O Fed deu um choque de realidade nos mercados", disse Fernando Bergallo, sócio da FB Capital. "Não foi nada que os mercados não soubessem, mas as avaliações ganharam outro peso por saírem 'da boca' do Fed", completou.

O dólar apreciava contra uma cesta de moedas, enquanto divisas emergentes e correlacionadas às commodities --que mais cedo mostraram recuperação após a liquidação da véspera-- passaram a cair ou se afastaram das máximas da sessão.

Na semana, o dólar ganhou 1,16%, após três semanas consecutivas de queda. A recuperação da moeda norte-americana dá sequência ao que parece ser uma correção depois de semanas de firmes quedas e corrobora leituras de que o espaço para mais apreciação cambial pode ser limitado.

O dólar caiu 17,73% ante o real entre a máxima recorde de 13 de maio e a mínima recente de 8 de junho. Até 13 de maio, quando bateu 5,9012 reais, a cotação acumulava no ano alta de 47,06%.

Para Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do ING, o real até pode estender "um pouco" a recente valorização, mas será difícil para a moeda operar abaixo de 4,50 por dólar, conforme a "profunda" recessão mantém riscos fiscais "elevados" no segundo semestre de 2020.

O que ainda joga a favor de apreciação extra para o real, segundo Rangel, é a expectativa em torno da política monetária.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos próximos dias 16 e 17 de junho para decidir sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic.

A estimativa do mercado com base em indicações do próprio BC é de novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, para mínima recorde de 2,25% ao ano. A dúvida é se o colegiado deixará a porta aberta para mais afrouxamento.

Há quem veja no mercado Selic abaixo de 2% até o fim do ano, mas o ING enxerga o juro se estabilizando em 2,25% num futuro "previsível".

A queda da taxa de juros é citada como fator que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados.

Na avaliação de Bergallo, da FB Capital, o dólar ainda parece "caro" ante o real por métricas como conta corrente, risco-país e diferencial de juros, com sobrepreço da ordem de 10%. Mas ele ponderou que isso diz pouco sobre o desempenho da moeda no curto prazo.

"O real está barato, e pode continuar barato, pode muito bem não convergir agora", disse, citando o lado fiscal do Brasil como o "grande problema".

Com a alta desta semana, o dólar reduziu a queda em junho para 5,52%. No ano, a moeda salta 25,73%.

Na B3, as negociações com dólar futuro, que vão até as 18h (de Brasília), mostravam a moeda em alta de 1,37% nesta sexta-feira, a 5,0480 reais, às 17h11.

Dólar interrompe três semanas de queda e volta a superar R$ 5,00 -

Por Altamiro Silva Junior

O dólar voltou a fechar acima de R$ 5,00 nesta sexta-feira, 12, após encerrar quatro pregões abaixo desse patamar. A sessão foi marcada pelo ajuste das cotações à forte piora do humor no mercado financeiro ontem, feriado no Brasil, e pela continuidade do fortalecimento da moeda americana hoje no exterior. Após subir 2,17% hoje, a maior alta porcentual desde 7 de maio, o dólar fechou a semana em R$ 5,0426, acumulando valorização de 1,04%, a primeira de ganhos depois de três semanas seguidas de baixas.

O índice DXY, que mede o dólar ante divisas fortes, operou hoje nos níveis mais altos de junho e a moeda americana ainda subiu na maioria dos emergentes. Alertas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre as dúvidas e riscos da retomada da atividade, ecoando discurso do presidente Jerome Powell na tarde de quarta-feira, fizeram os investidores fugirem de ativos de risco.

O diretor de moedas em Nova York da gestora BK Asset Management, Boris Schlossberg, ressalta que além do alerta do Fed ter pego o mercado vindo de dias de muito otimismo, o que fez o movimento de ajuste ser mais forte, relatos de crescimento acelerado de casos de coronavírus em estados americanos como Flórida e Texas trouxeram preocupação adicional. O mercado estava subestimando este risco, ressalta ele.

Pela manhã, dados mostrando melhora da confiança do consumidor americano chegaram a dar um impulso positivo no mercado, mas que durou pouco. Para Schlossberg, o tom mais cauteloso hoje dos mercados sugere que permanece o temor para a atividade econômica de uma nova onda de casos de coronavírus.

No mercado doméstico, o dia foi tanto de agenda como de noticiário mais esvaziado. "Após uma quinta-feira ruidosa no exterior, os mercados domésticos realinharam os preços para cima hoje", afirma economista e operador da Advanced Corretora de Câmbio, Alessandro Faganello. "As preocupações com uma segunda onda de infecções foram reacendidas."

Para a próxima semana, as mesas de câmbio vão monitorar a reunião de política monetária do Banco Central, dias 16 e 17. É esperado um corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica, mas o interesse dos investidores é ver o que o BC pode sinalizar de próximos passos, o que, se ocorrer, deve ter impacto nas cotações do dólar.

"Ficou claro que Brasil conquistou capacidade de ter juros mais normal, mais comparado com o resto do mundo, e de maneira sustentada", avalia o sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, em live da corretora Nova Futura. "Uma queda de atividade deste tamanho quer dizer queda de juros também." Para os juros seguirem baixos por mais tempo, Figueiredo argumentou que o Brasil vai ter que voltar a ter consolidação fiscal, mas os mercados não esperam isto este ano.

 

Fonte: Reuters/Estadão Conteúdo

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