Dólar volta a cair forte ante real com otimismo sobre retomada econômica
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a cair forte ante o real nesta segunda-feira, renovando mínima em 12 semanas, em mais um dia de notável apetite por risco em todo o mundo diante de otimismo com a recuperação da economia global.
O dólar à vista caiu 2,66%, a 4,855 reais na venda, menor patamar desde 13 de março (4,8128 reais).
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez cedia 2,40%, a 4,8530 reais, às 17h36.
O mercado acelerou as vendas de moeda no fim da sessão ao mesmo tempo que o dólar ampliou as perdas no exterior e ativos de risco ganharam ainda mais tração, conforme prevalece no mercado percepção de que o pior da crise econômica causada pelo coronavírus já ficou para trás.
Em Wall Street, o índice Nasdaq Composite, com forte peso de papéis do setor de tecnologia, fechou em máxima histórica, confirmando novo "bull market" (mercado em alta). O S&P 500, referência para os mercados acionários dos EUA, apagou as perdas do ano. E o Ibovespa, principal índice das ações brasileiras, teve a sétima alta seguida, mais longa sequência do tipo desde 2018.
Boa parte dessa euforia é explicada ainda pela surpresa positiva com dados de emprego nos EUA divulgados na sexta-feira passada. A expectativa era de perda de postos de trabalho, mas houve geração de vagas em maio, o que fortaleceu esperança de que a economia começa a se recuperar.
O otimismo dos últimos dias pegou um mercado de câmbio no Brasil com posição técnica amplamente comprada em dólar. A virada na moeda forçou desmonte de posições, o que retroalimentou a correção.
Depois de perder no fim de maio a média móvel de 50 dias, o dólar fechou nesta segunda abaixo da linha de 100 dias pela primeira vez desde janeiro. As médias móveis são acompanhadas de perto pelo mercado e quedas sustentadas abaixo delas costumam ser entendidas como indicação de continuação do movimento (no caso, de recuo do dólar).
A próxima média móvel a ser testada é a mais relevante, de 200 dias, atualmente em 4,5511 reais.
Nos últimos 14 pregões, o dólar caiu em 11. A moeda recua 9,09% em junho e 17,73% desde que bateu a máxima recorde para um fechamento (de 5,9012 reais em 13 de maio).
Mas a magnitude do ajuste, bem como da recuperação dos mercados no mundo, começa a atrair alguma cautela.
"Vejo esse otimismo todo como meio exagerado", disse Luis Laudisio, operador da Renascença. No entanto, ele ponderou que, mesmo com a exuberante recuperação, o real ainda ocupa o posto de pior desempenho entre as moedas globais neste ano. "Ainda acho que o noticiário sobre fiscal pode atrapalhar (a alta do real), mas, por ora, isso vem sendo ignorado, e não apenas aqui."
Em 2020, o real ainda perde 17,35%.
O Rabobank vê o câmbio mais pressionado até o fim do ano, com o dólar fechando a 5,45 reais, alta de 12,3% ante o encerramento desta segunda.
"Embora a alta volatilidade de meados de maio tenha diminuído nas últimas duas semanas, ainda vemos incertezas globais e domésticas se aproximando. Com uma volatilidade mais forte e persistente, o Covid-19 e as incertezas fiscais ainda deixarão o real pressionado até o final do ano", disseram em nota.
Taxas fecham em direções divergentes, com longas em baixa reagindo ao dólar
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou com taxa de 2,19% (2,17% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2022 passou de 3,07% para 3,12%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 5,77%, de 5,802% no ajuste de sexta-feira, e o DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 6,71%, de 6,772%.
A semana é de agenda pesada, no Brasil e no exterior, com divulgação do IPCA de maio, reunião do Federal Reserve, além de julgamentos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF) que podem mudar o cenário político. Todo esse calendário serve de argumento para explicar movimentos mais comedidos, deixando os investidores em compasso de espera antes de definir posições. A semana também é mais curta para o mercado financeiro em função do feriado de Corpus Christi, na quinta-feira.
"Hoje não tivemos nada de impacto, com o mercado aguardando IPCA, Fomc, TSE e STF. Roberto Campos Neto somente ratificou as apostas de corte de 0,75 ponto e 'no more'", disse o gerente da Mesa de Reais da CM Capital, Jefferson Lima. Durante reunião por videoconferência com investidores, organizada pelo Goldman Sachs, Campos Neto repetiu que a autarquia considera um corte adicional da Selic de até 0,75 ponto porcentual em seu próximo encontro. Voltou a dizer que a conjuntura atual recomenda um estímulo monetário "extraordinariamente elevado", mas, ao mesmo tempo, pontuou que há potenciais limitações para o grau de ajuste adicional da Selic.
Desse modo, sem novos fatores capazes de alterar o quadro de apostas para a política monetária de curto prazo, as taxas curtas mostraram pouca mobilidade. A dinâmica, porém, pode mudar com o IPCA de maio, que sai na quarta-feira (10), para o qual a mediana das estimativas de pesquisa do Projeções Broadcast é de deflação de 0,46%.
O miolo da curva ainda sustentou alguma correção até o fim da sessão, com taxas em leve alta, mas com o dólar abaixo de R$ 4,90 os DIs longos passaram a cair, num dia também em que os contratos de Credit Default Swap (CDS, em inglês) estiveram bem comportados.