China traiu Hong Kong, diz ex-governador da cidade; Pequim pede que países parem de se intrometer

Publicado em 23/05/2020 13:44

LONDRES (Reuters) - A China traiu o povo de Hong Kong, então o Ocidente deveria parar de reverenciar Pequim por um pote ilusório de ouro, disse Chris Patten, último governador da ex-colônia britânica.

    Pequim deve impor uma nova lei de segurança nacional sobre Hong Kong para responder a uma longa campanha de protestos pró-democracia ocorrida na cidade no ano passado. O local tem liberdades mais amplas do que as vistas na China em geral.

    “O povo de Hong Kong foi traído pela China”, disse Patten ao jornal The Times. De acordo com ele, o Reino Unido tem o dever “moral, econômico e legal” de defender Hong Kong.

    Patten, que tem 76 anos, viu a bandeira britânica ser retirada de Hong Kong quando a colônia voltou ao controle da China em 1997, após mais de 150 anos de domínio britânico, imposto após o país derrotar os chineses na Primeira Guerra do Ópio.

    A autonomia de Hong Kong foi garantida sob o lema “um país, dois sistemas”, acordado na Declaração Conjunta Sino-Britânica de 1984, assinado pelo então primeiro-ministro chinês, Zhao Ziyang, e a sua colega britânica, Margaret Thatcher.

    Mas, segundo Patten, a imposição de leis de segurança chinesas sobre Hong Kong pode destruir o pacto. Os Estados Unidos — que consideraram a legislação uma “sentença de morte” para a autonomia da cidade — e o Reino Unido disseram estar profundamente preocupados com a lei, que segundo eles minaria o princípio “um país, dois sistemas”.

    “O que estamos vendo é uma nova ditadura chinesa”, disse Patten. “O governo britânico deveria deixar claro que o que estamos vendo é uma completa destruição da Declaração Conjunta.”   

OURO CHINÊS

    O presidente norte-americano, Donald Trump, alertou que Washington poderia reagir “muito fortemente” se Pequim seguir adiante com a lei.

    A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse que seu governo vai “cooperar totalmente” com o Parlamento chinês para garantir a segurança nacional, e segundo ela essa cooperação não afetará os direitos, as liberdades e a independência judicial da cidade.

    Patten afirmou que o Ocidente deveria parar de buscar a ilusória promessa da riqueza chinesa e que os britânicos deveriam pensar com cuidado sobre o envolvimento da empresa de telecomunicações Huawei em sua rede de 5G.

    “Devemos parar de sermos feitos de bobos com a ilusão de que, ao final de toda essa reverência, haverá um pote de ouro esperando por nós. Sempre foi uma ilusão”, afirmou Patten.

    “Precisamos parar de nos enganar de que, se não fizermos tudo o que a China quiser, vamos perder grandes oportunidades comerciais de alguma forma. É conversa fiada.”

    O premiê britânico, Boris Johnson, planeja reduzir a participação da Huawei na rede 5G britânica após a crise do coronavírus, informou o jornal The Daily Telegraph.

Pequim diz que novas leis de Hong Kong não prejudicam investidor, pede que países parem de se intrometer

HONG KONG/PEQUIM (Reuters) - O escritório do Ministério das Relações Exteriores da China em Hong Kong rejeitou as preocupações de que suas leis de segurança nacional propostas para a cidade prejudicassem os investidores estrangeiros, reagindo aos países "intrometidos" enquanto os laços entre Pequim e Washington se deterioravam ainda mais.

A legislação de segurança, que pode fazer as agências de inteligência chinesas estabelecerem bases em Hong Kong, enviou calafrios às comunidades diplomáticas e de negócios, assustou os mercados financeiros e aumentou as tensões geopolíticas.

Autoridades do governo dos EUA disseram que a legislação acabaria com a autonomia da cidade governada pela China e seria ruim para as economias de Hong Kong e da China. Eles disseram que isso poderia comprometer o status especial do território na legislação dos EUA, o que ajudou a manter sua posição como um centro financeiro global.

Reino Unido, Austrália e Canadá expressaram "profunda preocupação" em uma declaração conjunta sobre as leis de segurança propostas que, segundo eles, prejudicariam o princípio "um país, dois sistemas" acordado quando Hong Kong retornou ao domínio chinês em 1997.

Banqueiros e headhunters disseram que isso poderia levar o dinheiro e o talento a deixar a cidade.

Um porta-voz do Gabinete do Comissário do Ministério das Relações Exteriores da China em Hong Kong disse em comunicado que o alto grau de autonomia da cidade "permanecerá inalterado, e os interesses dos investidores estrangeiros na cidade continuarão protegidos sob a lei".

A decisão de Pequim ocorre depois que os protestos pró-democracia em 2019 mergulharam Hong Kong em sua maior crise política desde a entrega.

O gabinete do comissário descreveu as declarações pelos "países intrometidos" como "duplo padrão e lógica de gangster".

"Não importa o quão venenosamente vocês nos difamem, provoquem, coajam ou chantageiem, o povo chinês continuará firme em salvaguardar a soberania e a segurança nacionais", afirmou o documento.

"Condenado é o plano de vocês de minar a soberania e a segurança da China, explorando os causadores de problemas em Hong Kong como peões e a cidade como fronteira para atividades de separação, subversão, infiltração e sabotagem contra a China."

Fonte: Reuters

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