Ministros do Planalto defendem que números da Covid-19 no Brasil levem em conta a proporção de habitantes

Publicado em 15/05/2020 18:35

BRASÍLIA (Reuters) - Os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, defenderam que os números relacionados à Covid-19 sejam analisados levando em conta a proporção de óbitos dentro da população brasileira e enalteceram, em coletiva sobre 500 dias de governo, as medidas tomadas pelo Executivo no enfrentamento à crise.

Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, Ramos e Braga Netto solidarizaram-se com as famílias de vítimas do novo vírus e exibiram um vídeo, que citou como vitórias medidas como a renda emergencial a vulneráveis, o programa de manutenção de empregos e a repatriação de brasileiros no exterior.

"Eu gostaria, primeiramente, em nome de todo o governo, de nos solidarizarmos com as famílias que perderam entes queridos durante essa pandemia", disse o ministro Braga Netto, que em seguida lançou mão de quadro comparativo de dados de casos e mortes por coronavírus listado o Brasil e outros países.

"Nós estabelecemos, então, uma visão de proporcionalidade com base na população dos países... Essa fotografia evidencia que o Brasil, no seu 61º dia após o centésimo caso, apresenta um número de óbitos acumulados proporcionalmente bastante inferior", defendeu o ministro.

A coletiva, depois de outra entrevista sobre a liberação dos recursos remanescentes da primeira parcela da renda emergencial ainda não pagos e ainda da segunda parcela da ajuda --ambas previstas para a próxima semana--, ocorre no mesmo dia em que Nelson Teich pediu demissão do posto de ministro da Saúde, sem ter ao menos completado um mês no cargo.

Números do Ministério da Saúde divulgados na quinta-feira mostraram que o Brasil tinha 202.918 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus e 13.994 mortes.

Pressionado, Teich deixa Ministério da Saúde após menos de 1 mês

  • RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, menos de um mês após assumir, em decorrência de desavenças com o presidente Jair Bolsonaro, na segunda troca de comando do ministério em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus pelo país.

Teich vinha sendo cobrado pelo presidente a modificar o protocolo do ministério para ampliar a recomendação do uso da cloroquina no tratamento à Covid-19, apesar de o ministro ter afirmado que não considera o remédio uma solução e de ter alertado para os efeitos colaterais.

O agora ex-ministro não citou o motivo de seu pedido de exoneração em pronunciamento de despedida, e se recusou a responder quando perguntado sobre a questão da cloroquina. Teich, no entanto, citou a importância de união entre o governo federal e Estados e municípios --com quem Bolsonaro tem travado disputas devido às medidas de isolamento do coronavírus-- para superar a crise do coronavírus.

"A missão da saúde é tripartite, então a gente envolve o Ministério da Saúde, o Conass, o Conasems --secretários estaduais e municipais--, e isso é uma coisa que é muito importante deixar claro. O Ministério da Saúde vê isso como algo absolutamente verdadeiro e essencial", afirmou.

Teich anunciou seu pedido demissão em nota do Ministério da Saúde no final da manhã. Ele ficou menos de um mês no cargo, após ter tomado posse em 17 de abril para substituir Luiz Henrique Mandetta, demitido por também se opor ao uso ampliado da cloroquina e por contrariar Bolsonaro ao defender o isolamento social.

A demissão acontece no encerramento de uma semana em que o Brasil passou Alemanha e França no total de casos confirmados de Covid-19 e se tornou o sexto país com maior número de infeccções no mundo, com mais de 202 mil casos e quase 14 mil mortos, de acordo com dados divulgados pelo ministério na véspera.

Na quinta-feira, Teich foi chamado pelo presidente ao Palácio do Planalto para tratar de mudanças no protocolo de uso da cloroquina. Bolsonaro disse a apoiadores, e depois a empresários, que iria exigir a mudança para incluir o uso do remédio no início dos sintomas.

Ao sair do Alvorada na manhã desta sexta, o presidente afirmou categoricamente que o protocolo seria mudado, apesar da oposição de Teich. A cloroquina não tem comprovação científica de eficácia contra a doença respiratória provocada pelo novo coronavírus e o atual protocolo do Ministério da Saúde prevê o uso apenas em casos graves.

O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a uma solicitação de comentário sobre o pedido de demissão.

GENERAL

Logo depois da nota de demissão do ministro, uma possível substitua, a médica Nise Yamaguchi, que defende um protocolo combinado de cloroquina e o antirretroviral azitromicina para tratar a Covid-19, teve um encontro com Bolsonaro, de acordo com uma fonte.

Yamaguchi, que é oncologista, também participou nesta sexta de cerimônia do lançamento de uma campanha do governo contra violência doméstica e tem colaborado com um grupo de trabalho de combate à epidemia formado pelo Planalto.

No entanto, a ala militar do governo torce pela permanência do atual secretário-executivo da Saúde, general Eduardo Pazuello, como titular da pasta, disse à Reuters uma fonte do governo. O general, levado ao posto para coordenar a ação logística contra a pandemia, não tem conhecimento da área de saúde, mas é considerado um "gestor" pelos militares.

Pazuello assume interinamente a pasta, informou uma fonte palaciana, e Bolsonaro deve definir até o final da semana quem assume de vez a pasta.

ISOLAMENTO

Além da cobrança sobre a cloroquina, Teich vinha trabalhando isolado e não foi sequer consultado por Bolsonaro quando o presidente editou decreto nesta semana que ampliou as atividades consideras essenciais para incluir academias e salões de beleza. "Saiu hoje, foi?", indagou Teich, ao ser avisado pela imprensa na segunda-feira.

Até mesmo em relação a sua principal medida à frente da pasta, passou a encontrar dificuldades. As diretrizes do governo federal para auxiliar Estados e municípios a decidirem sobre as medidas de isolamento social deveriam ter sido detalhadas na quarta-feira, mas a apresentação foi cancelada de última hora depois que os conselhos que reúnem secretários estaduais e municipais de Saúde se manifestaram contra por temerem representar um respaldo ao afrouxamento das medidas de isolamento.

O ministro ressaltou em seu pronunciamento que deixará um trabalho pronto para auxiliar os governantes locais. "Aqui a gente entrega quais são os pontos que têm que ser avaliados, quais são os itens que são críticos e que se a gente não consegue ter precisam ser encontrados", afirmou.

Após a demissão do ex-ministro Mandetta por se posicionar publicamente a favor do distanciamento social, contrariando a posição de Bolsonaro, Teich tomou posse dizendo estar alinhado ao presidente, mas recentemente reconheceu a eficácia do distanciamento para conter o avanço da doença e falou inclusive em lockdowns nos locais mais afetados.

Teich havia se ausentado na quinta-feira da entrevista coletiva diária do Ministério da Saúde para tratar da situação da pandemia do coronavírus no país pela terceira vez seguida, em meio às cobranças que vinha sofrendo. De acordo com o Ministério da Saúde, o ministro não participou da entrevista realizada no Palácio do Planalto porque estava reunido com o presidente da República.

Teich diz que escolheu sair e que saúde precisa de união com Estados e municípios

BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, disse nesta sexta-feira que escolheu sair do governo e lembrou que a administração da saúde pública é tripartite, incluindo os Estados e municípios, com quem o presidente Jair Bolsonaro tem travado disputa há meses devido às medidas de isolamento social do coronavírus.

Depois de apenas 28 dias como ministro da Saúde, Teich falou por cerca de cinco minutos e não disse o motivo pelo qual decidiu sair do governo, mas passou alguns recados.

"A vida é feita de escolhas, e hoje eu decidi sair", disse ao abrir seu pronunciamento.

Teich foi chamado ao Palácio do Planalto na manhã desta sexta-feira, para um encontro fora da agenda, em que o presidente Jair Bolsonaro insistiu, mais uma vez, na mudança do protocolo para aconselhar o uso da cloroquina no início dos sintomas, como queria Bolsonaro. O ministro se recusou.

Ao contrário de seu antecessor, Teich foi discreto na sua fala de despedida. Mas lembrou que a administração da Saúde é dividida com Estados e municípios e esse trabalho conjunto é essencial.

"O Ministério da Saúde vê isso (o trabalho conjunto) como algo absolutamente verdadeiro e essencial para conduzir este país, tanto na parte estratégica quanto na parte de execução. Esse é o momento em que o país luta pela saúde, pelo Brasil. Mas aqui eu realço a participação do ministério, do Conass (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde) e do Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde)", disse Teich.

Desde o começo da epidemia de coronavírus no país, Bolsonaro tem estado em guerra abertas com governadores e também com prefeitos, a quem responsabiliza por terem decretado fechamento do comércio e empresas em políticas de isolamento social. Ao demitir Luiz Henrique Mandetta, o presidente queria rever duas posições do então ministro: o uso da cloroquina e o fim do isolamento social.

Teich, apesar de não ser tão vocal quanto Mandetta, não aceitou nenhuma delas. O plano de transição para o isolamento social, preparado pelo ministro, traçava cenários para o fim do isolamento que deveriam ser usados pelos Estados e municípios, mas ele mesmo indicou que em alguns locais deveria haver medidas ainda mais restritivas.

"Deixo um plano de trabalho, um plano pronto, para auxiliar os secretários municipais, os secretários estaduais, os prefeitos e governadores a tentar entender o que está acontecendo e definir os próximos passos", disse.

"Aqui a gente entrega quais são os pontos que têm que ser avaliados, quais são os itens que são críticos e que se a gente não consegue ter precisam ser encontrados, e auxilia no entendimento do momento da tomada de decisão", acrescentou o agora ex-ministro.

Criticado ao tomar posse por não ter falado do Sistema Único de Saúde (SUS), Teich fez questão agora de lembrar sua formação, desde a escola, faculdade pública, residência e trabalho em hospitais federais, e agradeceu a Bolsonaro a oportunidade de ter trabalhado no ministério.

"Eu fui criado pelo sistema público", disse. "Eu não aceitei o convite pelo cargo, aceitei porque achei que podia ajudar o Brasil e ajudar as pessoas."

Teich lembrou ainda suas visitas a algumas das cidades mais afetadas pela epidemia - algo que o presidente não fez ainda - e agradeceu aos trabalhadores da saúde.

"Isso foi fundamental, é fundamental estar na ponta e foi fundamental estar com essas pessoas, entender o que acontece no dia a dia", afirmou.

"Aqui eu agradeço aos profissionais de saúde mais uma vez. Quando você vai na ponta você vê o que é o dia a dia dessas pessoas, você se impressiona. A dedicação dessas pessoas, correndo riscos o tempo todo ao lado dos pacientes, é uma coisa espetacular."

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dólar cai ante real com fluxo de venda de moeda e alta do petróleo
Ibovespa fecha com alta tímida em dia de ajustes e volume fraco
Vice-presidente, Geraldo Alckmin, e presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, anunciam investimentos de mais de R$ 18,3 milhões para preparar empresas para exportação
Taxas de juros futuras têm alta firme no Brasil com dados de emprego nos EUA e alta do petróleo
Dólar recua ante o real com apetite por risco global após dados de emprego dos EUA
Wall Street sobe após dados fortes de emprego nos EUA elevarem confiança