Isolamento social não pode passar do final do mês, diz Afif; (perdas de R$ 20 bi por semana)

Publicado em 13/05/2020 20:29 e atualizado em 14/05/2020 07:14

BRASÍLIA (Reuters) - As medidas de isolamento social para evitar o contágio pelo coronavírus não podem passar do final de maio, afirmou o assessor especial do ministro Paulo Guedes, Guilherme Afif, ponderando que, se não houver abertura controlada, isso ocorrerá de forma descontrolada em forma de desobediência.

Em live promovida pelo veículo de cobertura jurídica Jota, Afif avaliou nesta quarta-feira que a reabertura invariavelmente vai acontecer pela necessidade das pessoas de sobreviverem.

"Isso não pode passar do final desse mês. Depois a repercussão é muito forte e capacidade de recuperação depois é muito lenta", afirmou ele.

"Economia vai demorar muito mais que um ano pra ela começar a embalar de novo tal o grau de paralisação. Portanto, quanto mais cedo nós começarmos maiores condições nós temos de recuperar lá na frente."

Nesta quarta-feira, o Ministério da Economia divulgou que, a cada semana de isolamento social depois de 31 de maio, haverá perda de 20 bilhões de reais para a economia. Mas membros da equipe econômica evitaram ligar o cálculo a um apelo direto para relaxamento das restrições de distanciamento.

Afif defendeu uma reabertura em que desiguais sejam tratados desigualmente, de acordo com suas desigualdades. Na prática, a execução desse processo ficaria com Estados e municípios, mas seguindo uma diretriz nacional.

"Cada um vai adaptar de acordo com sua realidade. Onde tem muito mais intensidade (do coronavírus) que seja mais rigoroso, onde não tem intensidade ele (gestor) pode administrar bem o processo da abertura", afirmou.

Para dar ânimo à economia, Afif ponderou que é necessário substituir o imposto sobre mão de obra pago pelas empresas "por outras formas mais inteligentes".

Mais cedo nesta semana, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, também afirmou que o governo avalia desonerar empresas dentro de reforma tributária como medida para a retomada.

Afif também disse que o governo trabalha com a expectativa de já na semana que vem ver o crédito chegando na ponta para as microempresas, no âmbito do Pronampe, que foi aprovado pelo Congresso. Para viabilizá-lo, o Tesouro irá aportar 15,9 bilhões de reais no Fundo de Garantia de Operações (FGO), administrado pelo Banco do Brasil.

Na visão do assessor especial do ministro Guedes, há liquidez no mercado, mas os bancos fecharam as torneiras em função do risco de inadimplência. Por isso, o papel do Tesouro bancando parte desse risco será fundamental para os recursos fluírem, destacou ele.

Com pandemia, 76% do setor industrial reduziu produção (Ag Brasil)

Sondagem especial feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 91% da indústria brasileira relata impactos negativos por causa da pandemia da covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Três quartos (76%) das empresas industriais reduziram ou paralisaram a produção.

Três de cada quatro empresas, novamente 76% dos entrevistados, apontaram queda da demanda por seus produtos, metade desses (38%) observaram que a queda foi “intensa”. Os setores que descreveram a diminuição da demanda foram de vestuário (82%), calçados (79%), móveis (76%), impressão e reprodução (65%) e a indústria têxtil (60%).

Dentre os empresários, 45% reclamaram de inadimplência dos clientes e 44% informaram ter tido encomendas e pedidos cancelados.

Além de queda da demanda, 77% dos empresários identificaram que houve diminuição da oferta de matérias primas e de insumos para a produção - por causa da desorganização da estrutura logística - o sistema de transporte em especial -, o que dificultou acesso a insumos ou matérias primas necessários à produção.

Quase a totalidade dos empresários entrevistados (95%) afirmaram ter adotado medidas em relação aos empregados desde campanhas de prevenção, medidas de higiene e afastamento de empregados de grupos de risco ou que apresentaram sintomas.

Metade das empresas deram férias para parte dos empregados, 36% fez uso do banco de horas, 19% reduziram a jornada de trabalho, 16% iniciaram férias coletivas, 15% dispensaram os trabalhadores e 8% fizeram a suspensão temporária dos contratos de trabalho.

Com garantia do tesouro

Os dados da sondagem da CNI foram apurados junto a 1.740 empresários da indústria de transformação (fábricas), extrativa (como mineração e petróleo) e construção civil. A coleta ocorreu na primeira quinzena de abril.

Sete de cada dez empresas assinalam perda de faturamento. Entre os entrevistados, 59% descreveram dificuldades para cumprir pagamentos dos fornecedores e manter em dia salários, aluguel e impostos. Mais da metade (55%) apontaram que o acesso ao crédito para capital de giro ficou mais difícil.

De acordo com o gerente-executivo de economia da CNI, Renato da Fonseca, após medidas de aumento de liquidez do sistema bancário autorizadas pelo Banco Central “houve aumento de empréstimos” por parte dos bancos.

Segundo o economista, no entanto, a procura das empresas, especialmente das pequenas, foi maior que o crédito ofertado. Em situações de crise, como a atual, os bancos temem a insolvência dos tomadores de empréstimo. Para Fonseca, a solução para o aumento do crédito pode ser a criação de um fundo com garantia do Tesouro Nacional, como ocorre em outros países.

Reformas e retomada

Além de cuidar da saúde da população, do funcionamento das empresas e da manutenção dos empregos, Renato da Fonseca espera que o país se prepare para a saída da crise e não abandone a agenda de reformas.

“Se a gente conseguir focar na agenda de competitividade, o Congresso Nacional trabalhando nela e o governo também, reduzindo as brigas políticas, reverteremos o problema e daremos sinal para que o investidor volte”, defende o economista da CNI.

A confederação projeta queda do Produto Interno Bruto em 4,2%. Não descarta, em pior cenário, que a perda chegue a 7% - equivalente à recessão econômica entre 2014 e 2016.

Renato da Fonseca assinala que nem as piores projeções e os problemas apontados pelos empresários na sondagem não corroboram medidas de relaxamento do distanciamento social e outros cuidados sanitários.

“Não adianta acabar com isolamento de imediato se isso gera uma contaminação altíssima. Aí não vai ter o trabalhador para trabalhar de qualquer jeito. Na verdade, começará a haver um excesso de mortes e as pessoas vão se isolar automaticamente.”

Segundo Fonseca, o Serviço Social da Indústria (Sesi) começa a trabalhar em protocolo de cuidados para a retomada das atividades do setor no futuro. “O retorno tem que ser muito planejado”, alerta.

Renato da Fonseca acredita que as empresas deverão ter que tomar medidas de controle, como testagem regular dos trabalhadores para detecção da covid-19. Além disso, será preciso redesenhar o projeto industrial, reduzir a velocidade de produção e, quando possível, afastar os trabalhadores nas linhas de montagem.

Cada semana de isolamento gera perda de R$ 20 bi para setor produtivo, alerta ministro Guedes

O impacto imediato diante das paralisações da produção e isolamento social devido à pandemia de covid-19 devem gerar perdas de faturamento das empresas de R$ 20 bilhões, por semana. A conclusão é da Nota Informativa – Impactos Econômicos da Covid-19, divulgada hoje (13) pelo Ministério da Economia. O levantamento foi feito com base em informações para os 128 produtos da Tabela de Recursos e Usos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na nota, o ministério diz que “considerando o cenário de retomada cíclica até o segundo trimestre de 2021, reduções estruturais no nível do PIB [Produto Interno Bruto – soma de todas as riquezas produzidas no país] de longo prazo de 5%, em comparação com o cenário de nenhum impacto no longo prazo, reduzirão o PIB semanalmente em quase R$ 5 bilhões no segundo semestre e em R$ 7,5 bilhões em 2021. Esses valores tendem a ser muito piores caso consideremos um período de paralisação maior que até 31 de maio”.

Além da perda imediata de R$ 20 bilhões por semana, o ministério diz que os custos envolvidos no isolamento devem ser muito maiores que este, uma vez que quanto mais tempo permanecer o regime de isolamento social maior será a perda de arrecadação das empresas. E com isso, “maior o endividamento, promovendo um número crescente de falências e destruição de postos de trabalho”.

“O mesmo efeito ocorre sobre o endividamento público, que tem gastos majorados e redução nas arrecadações. Assim, os canais de impacto da crise que afetam o médio e o longo prazo são amplificados por períodos maiores de isolamento social”, diz a nota.

“Os custos da crise e das paralisações são de tal magnitude que mesmo com uma recuperação rápida em “V”, e sem nenhum custo de longo prazo, não seria capaz de impedir um crescimento negativo em 2020. Pior que isso será o provável deslocamento da trajetória de longo prazo, configurando um custo permanente em termos de produto, emprego e bem-estar social”, acrescenta o ministério.

Fonte: Reuters/Agencia Brasil

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