Moro depõe na PF e entrega seu celular como "prova". Ex-ministro pode ser processado por calúnia

Publicado em 03/05/2020 03:54 e atualizado em 03/05/2020 16:00

O ex-juiz e ex-ministro da Jutiça Sergio Moro prestou neste sábado depoimento na sede da Policia Federal de Curitiba em inquérito onde acusa o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir indevidamente na PF. O depoimento do ex-ministro começou por volta de 14h30 e só terminou às 22h40. Moro deixou as dependências da PF às 00h20 sem falar com a imprensa. Nada do que foi dito no depoimento vazou para os jornalistas. 

Em nota, Rodrigo Sanches Rios, advogado do ex-ministro, informou que "como a investigação está em andamento, nossa manifestação será apenas nos autos". Os jornalistas das grandes mídias dizem que, ao depor, o ex-ministro reiterou acusações e entregou seu celular que conteriam "provas" contra Jair Bolsonaro sobre sua atuação para intervir diretamente na Polícia Federal. 

O depoimento de Moro foi determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, que supervisiona as investigações. O inquérito aberto pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, investiga o teor do discurso de Moro. Portanto, a investigação mira tanto no presidente quanto Moro. O ex-ministro é investigado por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra. 

Aras informou ao Supremo que há suspeita de cometimento de sete crimes: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada e denunciação caluniosa.

A PGR pediu que, no depoimento, Moro apresentasse “manifestação detalhada sobre os termos do pronunciamento, com a exibição de documentação idônea que eventualmente possua acerca dos eventos em questão”.

Em entrevista à revista Veja o ex-ministro afirmou que "o presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, mas não é esse o papel da Polícia Federal de prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas. Imagina se nas investigações da Lava Jato um ministro ou então a presidente Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações", disse Moro, ao comparar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.

A PGR foi representada pelos procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita - este último integrou o grupo de trabalho da Lava Jato dentro da Procuradoria-Geral desde a gestão Raquel Dodge.

STF

Ao autorizar na última segunda-feira, 27, a abertura do inquérito, em uma decisão de 17 páginas, o ministro Celso de Mello observou que o presidente da República "também é súdito das leis", apesar de ocupar uma "posição hegemônica" na estrutura política brasileira, "ainda mais acentuada pela expressividade das elevadas funções de Estado que exerce".

Na véspera do depoimento de Moro, o presidente Jair Bolsonaro esteve reunido por cerca de três horas com o novo ministro da Justiça, André Mendonça, no Palácio da Alvorada.

Horas antes do depoimento de Moro, o presidente utilizou suas contas nas redes sociais chamou o ex-ministro de "Judas" ao divulgar vídeo em que uma pessoa não identificada diz ter ouvido vozes de outras pessoas que falariam com Adélio no momento do crime - mesmo com dois inquéritos da Polícia Federal, um deles já concluído, apontarem que o esfaqueador agiu sozinho.

Durante a manhã, ao deixar o Palácio do Alvorada, o presidente não quis falar com a imprensa, mas disse a apoiadores que não será alvo de nenhum "golpe" em seu governo."Ninguém vai fazer nada ao arrepio da Constituição. Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não", disse Bolsonaro.

"Há lealdades maiores do que as pessoais", diz Moro após depor na PF (Reuters)

  • Moro fala durante declaração à imprensa em Brasília 24/4/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino

BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou na manhã deste domingo em sua conta no Twitter que "há lealdades maiores do que as pessoais", em sua primeira manifestação pública após ter prestado depoimento na véspera no inquérito para apurar acusações feitas por ele de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal.

Moro depôs por oito horas na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba quando, segundo uma fonte, reafirmou as acusações e apresentou provas de que Bolsonaro tentou interferir na PF diante da preocupação com investigações.

No sábado, sem citar o nome de Moro, o presidente havia criticado o ex-ministro, comparando-o a um traidor. "O Judas, que hoje deporá, interferiu para que não se investigasse?", questionou ele, também em sua conta no Twitter.

A um grupo de apoiadores à frente do Palácio do Planalto, Bolsonaro disse no sábado pela manhã que não será alvo de nenhum "golpe". “Ninguém vai fazer nada ao arrepio da Constituição”, disse Bolsonaro. “Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não”, reforçou.

Mais uma vez, também na véspera, Bolsonaro contrariou orientações de autoridades sanitárias de fazer isolamento e visitou um posto de gasolina perto da cidade goiana de Cristalina. Na ocasião, ele cumprimentou apoiadores, posou para fotos e voltou a defender a retomada do comércio.

DEPOIMENTO

Moro pediu demissão do governo na sexta-feira retrasada após revelar, em pronunciamento, que o presidente o avisou que queria mudar o comando da PF usando como uma das alegações preocupação com o andamento de investigações autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que serão conduzidas pela corporação. Nesse encontro, Bolsonaro disse a Moro que iria trocar o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo.

Na ocasião, Moro contou também que Bolsonaro disse-lhe que queria que fosse escolhido um diretor-geral da PF com o qual ele pudesse ter um contato pessoal, “que pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência”.

As declarações feitas por Moro levaram o procurador-geral da República, Augusto Aras, a pedir a abertura de inquérito pelo STF. O ministro do Supremo, Celso de Mello, autorizou a investigação.

O depoimento de Moro foi prestado no sábado à equipe da PF e de procuradores designada por Aras para acompanhar o caso. O ex-ministro --que ficou internacionalmente conhecido por sua atuação à frente da Operação Lava Jato-- não falou com a imprensa.

Em frente à sede da PF em Curitiba, houve confronto entre apoiadores de Moro e de Bolsonaro.

Aliados do presidente têm questionado o que consideram pressa com as investigações. Antes do depoimento, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro questionou em rede social o fato de a oitiva de Moro ser feita por delegados indicados pelo atual diretor em exercício da PF, Disney Rosseti.

"Isso é vontade de esclarecer os fatos ou impedir q Moro seja ouvido pela equipe do próximo DG-PF?", afirmou Eduardo. O STF barrou a indicação de Alexandre Ramagem feita pelo presidente para o comando da PF por, entre outras razões, proximidade entre ambos.

Neste domingo, Eduardo Bolsonaro novamente contestou as circunstâncias do depoimento. "Realmente é preciso muito tempo dando depoimentos a delegados amigos para ver se acham algo contra Bolsonaro", disse ele, na rede social. "Moro não era ministro, era espião", completou.

Neste domingo, uma carreata de apoiadores do presidente tomou as ruas do centro de Brasília. Os manifestantes protestaram contra o STF, que tem tomado uma série de decisões adversas a Bolsonaro e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O Globo: Investigadores copiam dados do celular de Moro e acessam novas conversas de Bolsonaro e integrantes do governo

No depoimento com mais de oito horas sobre as acusações que fez a Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro entregou o conteúdo de seu aparelho celular aos investigadores. Segundo a coluna apurou, o telefone de Moro foi espelhado. Com isso, integrantes da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR) que conduzem o caso terão acesso às conversas de Moro com o presidente.

Além de mensagens, delegados e procuradores agora têm em mãos áudios enviados por Bolsonaro e por outros integrantes do governo ao ex-ministro. Boa parte da comunicação entre Moro e o Palácio do Planalto se dava por meio do Whatsapp, aplicativo mais usado pelo presidente e seus auxiliares para falar com a equipe.

Oa dados do celular de Moro fazem parte do escopo de novas provas apresentadas pelo ex-ministro. Como a coluna informou no sábado (2), além das mensagem que Moro já mostrou ao programa “Jornal Nacional”, da TV Globo, ele havia apresentado novas provas envolvendo Bolsonaro.

O depoimento de Moro foi conduzido pela delegada Christiane Correa Machado, chefe do grupo que apura os inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal, batizado de Sinq (Serviço de Inquéritos Especiais), e por procuradores da equipe do PGR, Augusto Aras.

Fonte: Estadão Conteúdo/Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dólar cai ante real com fluxo de venda de moeda e alta do petróleo
Ibovespa fecha com alta tímida em dia de ajustes e volume fraco
Vice-presidente, Geraldo Alckmin, e presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, anunciam investimentos de mais de R$ 18,3 milhões para preparar empresas para exportação
Taxas de juros futuras têm alta firme no Brasil com dados de emprego nos EUA e alta do petróleo
Dólar recua ante o real com apetite por risco global após dados de emprego dos EUA
Wall Street sobe após dados fortes de emprego nos EUA elevarem confiança