Bolsonaro não aceita ser responsável pelas mortes do coronavírus e entra em confronto com a imprensa

Publicado em 29/04/2020 14:49 e atualizado em 29/04/2020 15:21

BRASÍLIA (Reuters) - Irritado pela repercussão negativa da sua fala sobre as mortes recordes causadas pelo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, culpou os governadores pelas mortes e se eximiu de responsabilidade sobre a crise causada pela epidemia.

"As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que perguntar para o Doria porque tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar", disse Bolsonaro a jornalistas em frente ao Alvorada, ao ser perguntado, mais uma vez, sobre o recorde de mortes por coronavírus no país.

No dia anterior, quando ouviu a mesma pergunta, Bolsonaro respondeu: "E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?. Sou Messias mas não faço milagres". A péssima repercussão, no dia em que foram registradas 474 novas mortes e o país passou de 5 mil óbitos, fez com que o presidente atacasse a imprensa mais uma vez.

"Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez uma manchete mentirosa, tendenciosa", reclamou Bolsonaro. Perguntado se não teria dito a frase então, respondeu, aos gritos: "Você não botou o complemento, você não botou o complemento!"

Bolsonaro reuniu-se nesta manhã com o grupo de deputados do PSL ainda fiéis a ele e colocou parte dos parlamentares para falar com os jornalistas. Entre outros, Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP) e Hélio Lopes (RJ) se revezaram para atacar a imprensa e defender o presidente, incitando o grupo de apoiadores que estava no Alvorada a levantar o tom no xingamento aos jornalistas.

Por mais de uma vez, Bolsonaro insistiu que a responsabilidade pelas mortes seria dos governadores e prefeitos que impuseram medidas restritivas de circulação. Perguntado se realmente achava que não tinha nenhuma responsabilidade, o presidente disse que a pergunta era "idiota" e não iria responder.

"Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria (governador de São Paulo), ao senhor Covas (Bruno, prefeito de São Paulo"), de o porquê de terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta.", afirmou.

Por mais de uma vez Bolsonaro minimizou a epidemia de coronavírus, que chegou a chamar de "gripezinha", e reclamou das ações de Estados e municípios que decretaram fechamento do comércio e instauraram ações de isolamento social. A posição do presidente levou a realização pelo país de diversos protestos e carreatas a favor do fim do isolamento e em "apoio a Bolsonaro".

Na manhã desta quarta, o presidente voltou a dizer, apesar das evidências em contrário, que "os países que fizeram isolamento horizontal foi onde morreu mais gente."

"Mais que não ser ouvido, eu fui achincalhado. Vamos cobrar a responsabilidade de quem é de direito", disse.

Estadão: 'Não vão botar no meu colo essa conta', diz Bolsonaro sobre mortes pela covid-19

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 29, que o governo federal fez "tudo que é possível ser feito" para conter a crise causada pela pandemia do coronavírus e que não pode ser responsabilizado pelas mais de 5 mil mortes no País. "Não vão botar no meu colo uma conta que não é minha", afirmou ao presidente ao deixar o Palácio da Alvorada. Segundo o presidente, governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento social é que devem ser cobrados.

"A imprensa tem que perguntar para o (João) Doria por que mais pessoas estão perdendo a vida em São Paulo", disse Bolsonaro, destacando que o governo federal fez sua parte ao liberar recursos para a Saúde e destinar um benefício de R$ 600 a trabalhadores informais. "Não adianta a imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabe a mim", disse. "O Supremo (Tribunal Federal) decidiu que quem decide essas questões (sobre restrição) são governadores e prefeitos."

As medidas de isolamento social para conter a pandemia de coronavírus e evitar a sobrecarga do serviço de saúde são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e foram adotadas em diversos países.

Na posse de Nelson Teich com ministro da Saúde, em 17 de abril, Bolsonaro disse que sabia dos riscos de defender a abertura do comércio. "Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro. Se agravar (a doença) vem ao meu colo. Agora, o que acredito, que muita gente está tendo consciência que tem de abrir", afirmou na ocasião.

Nesta quarta, rodeado por parlamentares do PSL, com os quais se reuniu mais cedo, o presidente acusou a imprensa de "mentir" ao dar destaque a uma declaração dele na véspera, quando respondeu com um "e daí?" ao ser questionado sobre o número de mortes pela covid-19 no País. Ontem o Brasil ultrapassou a quantidade registrada na China, onde a doença surgiu.

"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", respondeu o presidente ao ser questionado na noite de ontem sobre os números. A mesma ironia em referência ao seu nome já havia sido feita em setembro de 2018, quando o Museu Nacional, no Rio, foi destruído por um incêndio. "Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê? O meu nome é Messias, mas eu não tenho como fazer milagre", disse na ocasião, ainda durante a campanha eleitoral. O nome completo do presidente é Jair Messias Bolsonaro.

Nesta terça, 28, após questionar e ser informado que as TVs estavam gravando a declaração, Bolsonaro lamentou as mortes e disse que se solidarizava com as pessoas que perderam familiares por conta da doença. "É a vida. Amanhã vou eu", completou.

Hoje, ele afirmou que suas declarações de ontem foram tiradas do contexto. "Você mentiu", disse a um jornalista que o questionou se ele negava o que havia dito ontem. "Lamento as mortes profundamente. Sabia que iam acontecer. Mas eu desde o começo me preocupei com vida e emprego, porque desemprego também mata. Então, essa conta, tem que ser perguntada para os governadores", afirmou Bolsonaro.

O presidente ainda disse que foi "achincalhado" nas vezes que citou a preocupação com a economia, mas que a "segundo onda" do desemprego provocará uma "recessão gravíssima".

"O que estou fazendo é sugerir ao Ministério da Saúde medidas para a gente voltar rapidamente, tá? Com responsabilidade, (voltar) a uma normalidade. Como disse um parlamentar aqui, os países que adotaram o isolamento horizontal foi onde mais faleceram gente", disse.

Decreto aumentou lista de atividades essenciais

Nesta quarta-feira, Bolsonaro ampliou a lista de serviços essenciais que podem funcionar durante o período de enfrentamento do novo coronavírus no País. Crítico das medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos, o presidente defende afrouxar as regras e permitir que a população fora dos grupos de risco da doença - idosos e pessoas com doenças crônicas - voltem ao trabalho.

Decreto publicado no Diário Oficial da União desta quarta-feira, 29, inclui na rol de serviços essenciais atividades relacionadas a alimentação, atendimento bancário, mecânica automotiva, transporte e armazenamento de cargas, além daqueles exercidos por empresas startups.

A maior parte destas atividades já estava liberada a funcionar em alguns Estados mesmo durante a quarentena, por determinação de governadores e prefeitos. O funcionamento de oficinas mecânicas e de lanchonetes e restaurantes na beira de estradas, por exemplo, era uma reivindicação de caminhoneiros, que já havia sido atendida em São Paulo.

Ao incluir estas atividades na lista de serviços essenciais, Bolsonaro impede que eventualmente sejam atingidas por ordens locais de fechamento.

Não há condições de flexibilizar quarentena em SP com isolamento de 48%, diz Doria

O governador de São PauloJoão Doria (PSDB), disse nesta quarta-feira que não haverá afrouxamento da quarentena adotada para conter o coronavírus no Estado com uma taxa de adesão ao isolamento social de 48%, como vem sendo registrado nos últimos dias.

“Não há qualquer condição de flexibilização de isolamento com 48% de taxa de isolamento e evidentemente com os riscos de colapso no atendimento público nos hospitais”, disse Doria em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

O sistema de monitoramento do governo paulista apontou taxa de isolamento social de 48% no Estado na segunda e na terça-feira. Autoridades de saúde têm apontado um índice de 70% como ideal para frear o avanço do vírus, mas também pedido que ela se mantenha acima de 50% e, preferencialmente, próxima de 60%.

Recentemente Doria anunciou que poderia flexibilizar a quarentena do Estado a partir de 11 de maio, mas afirmou que os detalhes, que devem ser anunciados em 8 de maio, dependerão de critérios como as taxas de isolamento social e de ocupação de leitos, além do avanço da pandemia.

De acordo com dados da Secretaria de Saúde paulista, a taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) no Estado está em 68%, enquanto as de enfermaria está em 47%. Na região metropolitana da capital paulista, 85% dos leitos de UTI estão ocupados, enquanto a ocupação dos de enfermaria é de 75%.

Na terça, São Paulo chegou a 2.049 mortes confirmadas pela Covid-19, um acréscimo de 224 óbitos em relação ao dado do dia anterior. O número também mostrou crescimento percentual de dois dígitos tanto no número de mortes como de casos.

João Doria vem sofrendo pressão de alguns setores de sociedade para acabar com isolamento social (Imagem: REUTERS/Rahel Patrasso)

Alexandre de Moraes suspende nomeação de Ramagem para comando da PF

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu nesta quarta-feira a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, atendendo a um pedido de liminar feito pelo PDT.

O ministro alegou que a liminar se justifica pelo prejuízo que poderia ser causado pela demora em uma decisão, já que a posse de Ramagem estava marcada para a tarde desta quarta-feira, e pelos sinais relevantes de um possível comprometimento de Ramagem, que tem relação de amizade com a família do presidente Jair Bolsonaro.

O ministro destacou, em sua decisão, além das relações de Ramagem, as alegações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao pedir demissão do cargo na semana passada. Moro acusou Bolsonaro de admitir sua intenção de interferir politicamente na PF e depois mostrou à TV Globo uma troca de mensagens em que o presidente apontava uma investigação sobre deputados bolsonaristas como um dos motivos para a demissão do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

"Tais acontecimentos, juntamente com o fato de a Polícia Federal não ser órgão de inteligência da Presidência da República, mas sim exercer, nos termos... da Constituição Federal, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União, inclusive em diversas investigações sigilosas, demonstram, em sede de cognição inicial, estarem presentes os requisitos necessários para a concessão da medida liminar pleiteada", escreveu o ministro.

Ramagem foi chefe da segurança de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, após o então candidato sofrer um atentado, e tornou-se uma pessoa próxima da família do presidente, especialmente de um de seus filhos, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PRB).

O delegado tomaria posse na tarde desta quarta-feira, junto com os novos ministros da Justiça, André Mendonça, e da Advocacia-Geral da União, José Levi, em uma cerimônia no Palácio do Planalto.

Procurada, a AGU informou que já foi intimada da decisão de Alexandre de Moraes e avalia o procedimento cabível.

Fonte: Reuters/Estadão Conteúdo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dólar cai ante real com fluxo de venda de moeda e alta do petróleo
Ibovespa fecha com alta tímida em dia de ajustes e volume fraco
Vice-presidente, Geraldo Alckmin, e presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, anunciam investimentos de mais de R$ 18,3 milhões para preparar empresas para exportação
Taxas de juros futuras têm alta firme no Brasil com dados de emprego nos EUA e alta do petróleo
Dólar recua ante o real com apetite por risco global após dados de emprego dos EUA
Wall Street sobe após dados fortes de emprego nos EUA elevarem confiança