Bolsonaro exonera Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal

Publicado em 24/04/2020 07:18 e atualizado em 24/04/2020 07:49

O presidente Jair Bolsonaro formalizou a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. O decreto oficializando a mudança, que foi publicado nesta sexta-feira, 24, no Diário Oficial da União (DOU), vem assinado tanto pelo presidente quanto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a cuja pasta a PF é subordinada

No decreto, consta que a exoneração ocorreu "a pedido".

Apesar de haver especulações sobre o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, como substituto de Valeixo, o documento não aponta um novo nome. Tradicionalmente, a escolha é feita pelo ministro da Justiça.

Ontem, ao ser comunicado por Bolsonaro sobre a decisão, Moro avisou que deixaria o governo e, segundo o Broadcast/Estadão apurou, afirmou que não poderia aceitar mudanças na chefia da instituição.

O diretor da PF, Mauricio Valeixo Foto: Denis Ferreira Netto/ESTADÃO

A especulação sobre a demissão de Valeixo movimentou o Planalto nessa quinta-feira, 23. Em uma reunião pela manhã, o presidente avisou a Moro que a mudança no comando da PF já estava definida. O ministro da Justiça, por sua vez, ameaçou deixar o governo se a ordem para a troca viesse “de cima para baixo”. Segundo interlocutores do ministro ouvidos pelo Estado, ele entregará o cargo se não tiver carta-branca para a troca no comando da PF.

Nos bastidores do governo, a ameaça de Moro é foi encarada mais como uma pressão. Mesmo assim, a ala militar do governo entrou em ação para tentar contornar o novo desgaste entre o presidente e Moro. Os ministros-generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) conversaram com o ministro da Justiça e Segurança pública e atuaram como bombeiros na crise.

Contexto da demissão

Na prática, Valeixo já havia tratado com Moro, no início do ano, de sua saída do cargo de diretor-geral da corporação. Homem da confiança do ex-juiz da Lava Jato, o delegado demonstrou exaustão no cargo, reportando-se a um 2019 tenso no comando da PF. O ministro tentava, porém, encontrar um nome de sua confiança para o posto, quando foi surpreendido pelo comunicado de Bolsonaro de que mudanças na corporação ocorreriam nos próximos dias.

A decisão do presidente de mudar o comando da PF ocorre dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de inquérito para investigar quem organizou e financiou manifestações em defesa da ditadura, no domingo. Bolsonaro participou de um ato com esse teor diante do QG do Exército, em Brasília. Ficou irritado depois que alguns de seus aliados entraram na mira da Polícia Federal.

Moro desgastado

Há no Planalto o sentimento de que a relação entre Moro e Bolsonaro vem se deteriorando com rapidez. Desde que entrou no governo, o ex-juiz tem sofrido derrotas, como o pacote anticrime travado Congresso.

Recentemente, Bolsonaro tentou dividir o Ministério da Justiça em dois, tirando de Moro a Segurança Pública. Além disso, o presidente não planeja mais, ao menos por enquanto, indicar Moro para uma vaga no Supremo.

No auge da crise do coronavírus, Bolsonaro chegou a dizer, em conversas reservadas, que o ministro da Justiça era “egoísta” e só pensava em si próprio. Em outra ocasião declarou que usaria sua caneta contra pessoas do governo que “viraram estrelas”. Para interlocutores do presidente, o recado mirava não apenas o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido do cargo, mas também Moro.

Diretor da Abin é cotado para chefiar PF

Antes de confirmada a saída de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal (PF), já havia especulações sobre o seu substituto. Um dos mais cotados é o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Tradicionalmente, a escolha é feita pelo ministro da Justiça.

Interlocutores de Valeixo dizem que a tentativa de substituí-lo ocorre desde o início do ano. Essa troca não tem a ver com a briga pelo comando da PF ocorrida ano passado entre o presidente o ministro da Justiça Sérgio Moro. Em agosto, Bolsonaro tentou antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro. Mas acabou recuando diante da repercussão negativa.

Valeixo se reuniu ontem com os 27 superintendentes regionais nos Estados e delegados federais que ocupam diretorias estratégicas por videoconferência. O diretor-geral descartou com veemência que sua saída que sua saída seja movida por pressões políticas e afastou rumores de que sua disposição em dar adeus à cadeira estaria relacionada à uma reação de aliados de Bolsonaro por causa de investigações que incomodam o Planalto.

Bolsonaro exonera diretor-geral da PF em meio a crise com Moro (Reuters)

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro exonerou Mauricio Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal, mostrou edição extra do Diário Oficial da União publicada na madrugada desta sexta-feira, em meio a uma crise com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que ameaça deixar o cargo se não puder escolher pessoalmente o novo chefe da PF.

De acordo com o decreto publicado no Diário Oficial, a exoneração de Valeixo ocorreu "a pedido". O documento não nomeia um substituto para o cargo.

Valeixo foi uma escolha pessoal de Moro e é homem de confiança do ministro, que foi juiz da primeira instância na operação Lava Jato em Curitiba quando o agora ex-diretor-geral da PF era superintendente da corporação no Paraná.

Na quinta-feira uma fonte com conhecimento direto do assunto disse à Reuters que Valeixo deixaria o comando da Polícia Federal e que Moro trabalharia para indicar seu substituto. De acordo com essa fonte, que falou sob condição de anonimato, o ministro não aceita a escolha de um nome escolhido por Bolsonaro ou uma indicação política. Se isso ocorrer, de acordo com essa fonte, Moro vai deixar o governo.

A saída de Valeixo do comando da PF ocorre após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de um inquérito para apurar os organizadores de atos do domingo que pediram o fechamento da corte, do Congresso e uma intervenção militar.

Bolsonaro discursou de um dos atos em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. O presidente, no entanto, não é alvo da apuração, que será conduzida pela PF e foi requerida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

O presidente também se aproximou nas últimas semanas de parlamentares do centrão, grupo de influentes partidos no Congresso e que têm parlamentares como alvo da operação Lava Jato.

Fonte: Estadão Conteúdo/Reuters

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