Dólar bate novo recorde e fecha acima de R$ 5,52; Ibovespa cai por menor otimismo global e susto com Moro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou acima de 5,52 reais pela primeira vez nesta quinta-feira, batendo recordes históricos pelo segundo dia consecutivo diante do clima de incerteza no mercado doméstico do lado político e econômico.
O real liderou com folga as perdas entre as principais moedas nesta sessão e tomou do rand sul-africano o nada honroso posto de divisa com pior desempenho global no ano, com queda de 27,41% (alta de 37,75% do dólar).
A moeda dos EUA já vinha em alta durante boa parte do dia, o que levou o Banco Central a realizar duas ofertas líquidas de contratos de swap cambial tradicional (que equivalem a injeção de liquidez no mercado futuro). No total, foi colocado 1 bilhão de dólares nesses derivativos.
A cotação chegou a desacelerar a alta, mas retomou máximas em seguida e ganhou ainda mais tração por volta de 14h30, quando foi publicada notícia de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teria pedido demissão depois de decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal.
A Reuters apurou que Moro ameaçou deixar o cargo se Bolsonaro decidir trocar o diretor-geral da PF.
A reação foi imediata em todo os mercados. O dólar saltou de 5,46 reais para perto de 5,50 reais. O juro longo disparou quase 20 pontos-base. E "a Bolsa perde mais de mil pontos em segundos", disse Henrique Esteter, analista de research e equity sales na Guide Investimentos.
O mercado reagiu negativamente por entender que as notícias sinalizam mais tensões políticas dentro do governo e que uma saída de Moro poderia acabar piorando a avaliação do próprio presidente. Moro está entre os ministros mais bem avaliados pela população.
Essa nova frente de incerteza vem depois da demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, então também bem avaliado pelos eleitores.
No fim do dia, o dólar à vista terminou em alta de 2,19%, a 5,5278 reais na venda, novo recorde histórico nominal e na maior valorização percentual desde o fim de março. A cotação encerrou em torno das máximas do dia.
Na B3, o dólar futuro tinha ganho de 1,67%, a 5,5555 reais, às 17h22.
As incertezas políticas retroalimentam temores de que o governo não consiga retomar a agenda de reformas, especialmente depois do aumento de gastos decorrentes da pandemia do coronavírus.
Nas contas do UBS, o dólar poderia chegar a 7,35 reais ao fim de 2021 no pior dos cenários. "Acreditamos que o caminho final adotado pelo real dependerá crucialmente de o Brasil poder voltar e fortalecer seus esforços de reforma após o auge da atual pandemia", disseram os economistas Tony Volpon e Fabio Ramos em nota.
A DWS, gestora do Deutsche Bank, vai na mesma linha de preocupação fiscal. "Mais para o fim do ano é que vamos ter mais noção de que como ficará o fiscal. Dependendo da resposta que teremos vamos saber se haverá mais pressão (de alta) no dólar ou não", disse Luiz Ribeiro, gerente do fundo de ações para a América Latina da DWS.
Para ele, o valor "justo" para o real estaria atualmente mais entre 4,70 por dólar e 4,80 por dólar do que em torno dos patamares atuais. Mas Ribeiro ponderou ser difícil saber o "timing" em que haverá uma convergência para esse nível.
Dólar pode ir a R$ 7,35 ao fim de 2021 em cenário pessimista, diz UBS
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar poderia chegar a 7,35 reais ao fim de 2021 no pior dos cenários considerados pelo UBS, disse o banco nesta quinta-feira.
Dentro desse mesmo cenário, a moeda fecharia 2020 a 5,75 reais, 4,54% acima da máxima alcançada nesta sessão, de 5,5002 reais.
O dólar sobe 4,9% apenas nesta semana.
O cenário pessimista considera o CDS indo a 450 pontos-base, a manutenção dos diferenciais de juros nos atuais níveis, mas com mais prêmio de risco.
O CDS de cinco anos está em torno de 318 pontos-base. E os diferenciais de juros de um ano entre Brasil e EUA estão nas mínimas recordes perto de 2,75 pontos percentuais.
A cotação de 7,35 reais representaria um salto de 35,9% do dólar em relação à taxa de fechamento da véspera (5,4094 reais).
Em parte, a possibilidade de mais desvalorização da moeda brasileira, segundo o UBS, é amparada por cálculos que tomam como base a variação da taxa real efetiva de câmbio entre o fim de março de 2020 e a mínima de 2002. Apesar da desvalorização do real nos últimos anos, o câmbio real efetivo do fim de março ainda estava 42% mais forte que no piso de 2002, segundo o UBS.
Levando-se em conta cálculos correlacionando a cotação real/dólar e taxa real efetiva de câmbio, "uma queda adicional de 32% na taxa de câmbio nominal do real contra o dólar ante os atuais valores está dentro do intervalo histórico da taxa efetiva real", disseram os economistas Tony Volpon e Fabio Ramos em nota.
Ibovespa cai por menor otimismo global e susto com Moro
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou esta quinta-feira no vermelho, diante de rumores sobre um pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, e do esvaziamento da empolgação da véspera com a recuperação esperado após a crise do coronavírus.
O Ibovespa caiu 1,26%, a 79.673,39 pontos, após ter fechado na véspera no maior nível em quase três semanas. O giro financeiro da sessão somou 24,7 bilhões de reais.
Após ter chegado a flertar com os 82 mil pontos no começo da sessão, estendendo o rali da véspera, o Ibovespa foi perdendo força, mirando os mercados externos. O deslize ganhou força com rumores de Moro ameaçou deixar o cargo se o presidente Jair Bolsonaro trocar o diretor-geral da Polícia Federal.
Participantes do mercado entendem que uma saída de Moro pode gerar mais tensões políticas dentro do governo e piorar a avaliação do próprio presidente. Moro está entre os ministros mais bem avaliados pela população.
"A bolsa perdeu mais de mil pontos em segundos", disse Henrique Esteter, analista de research e equity sales na Guide Investimentos.
O mercado também observou dados econômicos do exterior. Cerca de 4,4 milhões de pessoas solicitaram auxílio-desemprego nos Estados Unidos, número pouco acima da previsão de pesquisa da Reuters, mas que mostra uma desaceleração no movimento.
Também chamou atenção a queda na atividade industrial dos EUA, com o PMI preliminar despencando a 36,9, nível mais fraco desde março de 2009, ante 48,5 em março. Economistas esperavam recuo para 38,0 em abril.
Em Wall Street, o S&P 500 recuou 0,05%.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN avançou 1,19%, diante de nova alta forte dos contratos futuros do petróleo após troca de farpas entre o presidente norte-americano Donald Trump e representantes do governo iraniano.
- BRADESCO PN caiu 1,43%, com o setor bancário também muito volátil. BANCO DO BRASIL ON perdeu 2,81%, ITAÚ UNIBANCO E SANTANDER BR UNT desvalorizaram 1,43% e 1,22%, respectivamente.
- CVC BRASIL recuou 6,26%. O maior grupo de viagens do país anunciou que contratou o Itaú BBA para realizar um possível processo de capitalização da companhia.
- IGUATEMI ON avançou 3,44%, após anunciar medidas para reduzir o impacto causado pelo coronavírus. BR MALLS PAR ON subiu 1,34%.
- IRB BRASIL perdeu 8,5%, um dos piores desempenhos do dia, após cancelar projeções para 2020 diante das incertezas geradas pela pandemia de Covid-19.
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