Após demitir Mandetta, Bolsonaro ataca Maia: 'Intenção é me tirar do governo'

Publicado em 16/04/2020 20:55 e atualizado em 17/04/2020 08:57

O presidente da República, Jair Bolsonaro, fez na noite desta quinta-feira, 16, uma série de ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e sugeriu que intenção do parlamentar é tirá-lo do governo. Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro utilizou como pretexto para as críticas o projeto de socorro a estados e municípios aprovado na Câmara para compensar perdas de receitas com impostos durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo o presidente, a proposta pode quebrar o País.

"Não pode apenas o parlamento mandar a conta para a gente pagar. Da forma como está proposta, a conta vai ficar na casa de R$ 1 trilhão, um número enorme, excessivo. O Brasil vai quebrar, já temos uma dívida interna na casa dos R$ 4 trilhões, vamos passar para R$ 5 trilhões. Nossa dívida vai crescer de forma que vai ficar impagável, vamos entrar em insolvência", afirmou o presidente, que comparou a situação imaginada à Venezuela.

Bolsonaro disse que a economia projetada com a reforma da Previdência foi engolida pela atual crise com a proposta da Câmara, que ainda deve passar pelo Senado. E ampliou os ataques. "Eu lamento a posição do Rodrigo Maia, resolveu ele assumir o papel do Executivo. O senhor Rodrigo Maia resolveu não conversar com mais ninguém. Qual o objetivo do senhor Rodrigo Maia, resolver o problema ou atacar o presidente da República?", questionou. "O sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas, ele quer atacar o governo federal, enfiando a faca, no sentido figurativo. Se isso acontecer, vão matar a galinha dos ovos de ouro, parece que a intenção é me tirar do governo."

O presidente prosseguiu e disse que Maia, classificado como o "dono da pauta" por ele, "está conduzindo o Brasil para o caos" com a intenção de "esculhambar a economia para que eles possam voltar em 2022".

Segundo Bolsonaro, nas negociações desse projeto e na proposta de redução dos salários de funcionários públicos - cuja defesa do governo é de congelamento por dois anos -, Maia queria impor uma contribuição extra de 25% dos servidores. "O Paulo Guedes propôs não ter reajuste até 31 de dezembro do ano que vem, proposta menos agressiva que a do Rodrigo Maia", afirmou na entrevista à emissora

Bolsonaro completou que deputados pegaram o "Plano Mansueto" de socorro aos estados e municípios "e resolveram simplesmente aprovar a parte que interessava a eles". E completou: "o Brasil não merece o que o Rodrigo Maia tem feito com o Brasil, não merece sua atuação. Quando você fala em diálogo, a gente sabe que tipo de diálogo o senhor está falando. Dessa forma, está aprofundando a crise".

Bolsonaro acusa Maia de conduzir país ao caos e sugere que deputado quer retirá-lo do cargo

  • BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta quinta-feira à noite o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de estar conduzindo o país ao "caos", disse que querem matar "a galinha dos ovos de ouro", numa referência ao caixa do governo federal, e sugeriu que há interesse do deputado em retirá-lo do cargo.

Em uma contundente entrevista dada à Rede CNN, ao fim do dia que trocou o ministro da Saúde, Bolsonaro disse que Maia defende uma proposta de socorro aos Estados na qual a conta toda cai em cima do Poder Executivo, que não tem condições, segundo ele, de aguentar todo custo.

O presidente disse que vai atender aos governadores, mas disse que é preciso que haja contrapartida. "Se não, nós vamos matar a galinha dos ovos de ouro", afirmou, acrescentando que assim o Brasil "vai quebrar" e ficar em situação igual à da Venezuela.

Ao atacar o comportamento do presidente da Câmara, Bolsonaro disse que tem coragem para falar o que disse e que não se preocupa com a popularidade, destacando que 2022, é outra história.

O presidente afirmou lamentar a posição adotada por Rodrigo Maia, que, na sua opinião, resolveu assumir o papel do Executivo. "Ele tem que me respeitar como chefe do Executivo", disse.

Para Bolsonaro, Maia não pode agir dessa maneira, jogando os governadores contra ele. Disse que o presidente da Câmara resolveu não conversar com mais ninguém, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem mais contato com ele, que se julga "o dono da pauta".

"Ele quer atacar o governo federal enfiando a faca no governo federal para resolver os problemas de outro lado", disse. "Parece que a intenção é me tirar do governo", insinuou.

"Ele está conduzindo o Brasil para o caos. Qual a intenção? Esculhambar a economia para que eles possam vir em 2022", questionou Bolsonaro, ao classificar de "escandalosas" as medidas que estão sendo aprovadas.

Pouco depois, o presidente da Câmara também deu uma entrevista para a CNN na qual disse que não responderia aos ataques de Bolsonaro, embora tenha mandado uma série de recados.

Para Maia, Bolsonaro adota a velha tática de trocar de assunto, destacando que o povo está assustado porque "perdeu" Luiz Henrique Mandetta, que tinha amplo apoio popular, como ministro da Saúde, demitido nesta quinta por Bolsonaro.

O presidente da Câmara disse que, da parte dele, não há nenhuma intenção dele e da Câmara de prejudicar ou enfrentar o governo.

"O presidente não vai ter de mim ataques", disse. "Ele pode jogar pedras e o parlamento vai jogar flores."

A Câmara aprovou na segunda-feira um projeto de compensação a Estados e municípios, um "seguro-receita", pela queda na arrecadação decorrente da crise do coronavírus.

A proposta, que segundo Maia tem impacto de 80 bilhões de reais, prevê que a União compense as perdas de arrecadação de Estados e municípios de ICMS e ISS.

    Mas, para a equipe econômica, o projeto patrocinado por Maia é encarado como uma bomba fiscal. Isso porque o cálculo do presidente da Câmara levou em conta uma perda de arrecadação de 30% em seis meses, mas técnicos defendem que é impossível calcular neste momento o que vai acontecer, razão pela qual o projeto foi considerado um cheque em branco.

    Maia tem rebatido os números do governo, afirma que há distorções nos cálculos e acusa a equipe econômica de computar valores que não estão previstos no projeto.

    Já enviada para o Senado, a proposta foi anexada a outra matéria, de autoria do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), movimento que interessa ao governo e deixa com os senadores a tarefa de dar a palavra final sobre o tema.

Maia disse que esse movimento não contribui para o equilíbrio da relação entre as duas Casas e alertou que poderia criar um impasse.

Na entrevista à CNN, o presidente da Câmara destacou que é preciso garantir a receita de Estados e municípios porque eles terão "queda abrupta" de recursos devido à paralisação de boa parte das atividades econômicas como forma e frear a disseminação do coronavírus.

Este seria um dos pontos que incomodam Bolsonaro, que é contra a paralisação e defende que os Estados retomem a atividade com a justificativa de preservar os empregos

Maia rebateu os ataques, afirmando que propostas votadas como o auxílio aos informais e a PEC do orçamento de guerra foram discutidas com responsabilidade. Citou ainda seu esforço para garantir a votação da medida provisória do contrato verde e amarelo, que não está relacionada ao coronavírus, mas era importante na estratégia do governo para criação de empregos.

Governo do DF fará reabertura de comércio em 3 de maio, afirma governador

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que o comércio poderá reabrir suas portas a partir do dia 3 de maio. Para isso, no entanto, haverá algumas condições de higiene e proteção, além de restrições específicas.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Ibaneis disse que cada comércio precisa garantir o teste de covid-19 de cada um de seus funcionários. Além disso, precisa oferecer máscaras e álcool geral para todos os clientes que atender, além dos funcionários

"Medidas específicas estão sendo negociadas com os setores de shoppings e academias, por causa de maiores aglomerações", disse Ibaneis. "Uma praça de alimentação, por exemplo, pode vir a ter restrições para entrega de comida, em vez do consumo local", comentou.

Em relação às escolas públicas e privadas, o prazo de fechamento permanece de 31 de maio. Há cerca de 600 mil alunos com aulas paralisadas. O DF foi o primeiro local no Brasil a decretar a suspensão das escolas.

Até agora, o Ministério da Saúde tem reafirmado que o pico do coronavírus tem previsão de ser atingido entre o fim de abril e início de maio entre as cidades com maiores números de casos. Esse prazo pode se estender para junho ou julho, dependendo da região. Ibaneis diz que a situação tem sido acompanhada diariamente e que há espaço para reativar o comércio.

"Acreditamos que seja mais prudente retomar o ensino somente em junho. Estou monitorando isso diariamente com minha equipe técnica. Quero a abertura dos comércios, mas tudo tem que se feito com bom senso. Vamos avaliar o comportamento da população", disse Ibaneis. "O comércio deve se preparar para comprar equipamentos de segurança e proteção. Vão ter que comprar máscaras para funcionários e usuários, além de fazer testes em todos os funcionários."

O DF tem hoje mais de 500 leitos de UTI à disposição de pacientes de covid-19, mas segundo Ibaneis, apenas 18 pessoas estão em situação grave e ocupam hoje esse espaço. Além disso, o DF conclui nos próximos dias a construção de um hospital de campanha, na estrutura do estádio Mané Garrincha.

Questionado sobre a saída de Luiz Henrique Mandetta e a escolha de Nelson Teich ao Ministério da Saúde, Ibaneis disse apenas que não conhecia o novo ministro, mas que tem uma "boa impressão". "Estava vendo o currículo dele, parece uma pessoa bem preparada "

Nos próximos dias, disse Ibaneis, o governo da capital federal vai aumentar os testes feitos em hospitais, de 600 exames por dia para cerca de 2 mil testes diários. Paralelamente, o governo vai iniciar a distribuição gratuita de 1 milhão de máscaras, que adquiriu junto à Federação das Indústrias de Brasília. As peças serão entregues em ônibus e metrô. "Cada passageiro vai receber duas máscaras", disse o governador.

Nesta quinta-feira, 16, o DF atingiu 727 casos de covid-19 e 20 mortos. Dos casos confirmados, 432 (59%) são do sexo masculino, com média de idade de 42 anos.

 

 

Fonte: Estadão Conteúdo

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