Bolsonaro diz que novo ministro da Saúde terá de olhar empregos na luta contra coronavírus

Publicado em 16/04/2020 19:37 e atualizado em 17/04/2020 08:58

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira a demissão de Luiz Henrique Mandetta e a nomeação do oncologista Nelson Teich para o Ministério da Saúde, mudando o comando do enfrentamento à pandemia de coronavírus e com uma cobrança por maior atenção ao aspecto econômico da crise.

Ao apresentar Teich no Palácio do Planalto como novo ministro, Bolsonaro afirmou que começa agora uma transição que gradualmente vai servir para "redirecionar a posição" não apenas do presidente, mas dos 22 ministros que integram o governo, com relação ao novo coronavírus.

"O que eu conversei ao longo desse tempo com o oncologista doutor Nelson, ao meu lado, foi fazer com que ele entendesse a situação como um todo, sem abandonar, obviamente, o principal interesse, a manutenção da vida, mas sem esquecer que ao lado disso tínhamos outros problemas", disse Bolsonaro.

"Esse outro é a questão do desemprego, que cada vez mais nós vemos que está claro em nosso país. Junto como o vírus veio uma verdadeira máquina de moer empregos. As pessoas mais humildes começaram a sentir primeiro o problema, essas não podem ficar em casa por muito tempo", acrescentou o presidente, em pronunciamento.

Bolsonaro deixou claro que a troca dos ministros vinha se desenhando há bastante tempo e que a função de Teich será encerrar, ainda que aos poucos, o isolamento social no país, adotado na maior parte dos Estados por ordem dos governadores com o apoio de Mandetta, apesar da contrariedade do presidente.

Para Bolsonaro, somente os integrantes do grupo de risco deveriam ficar isolados, enquanto Mandetta publicamente recomendava à população que seguisse as orientações dos governadores -- que também são defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Sei, repito, que a vida não tem preço. Mas a economia, o emprego, tem de voltar à normalidade. Não o mais rápido possível, como conversado com o doutor Nelson, mas tem que começar a ser flexibilizado para que não viemos a sofrer mais com isso", disse Bolsonaro.

"Não vai ser cavalo de pau", diz Bolsonaro sobre possível fim de isolamento

  • BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que não vai haver um "cavalo de pau" em relação a um eventual fim do isolamento social determinado nos Estados para combater a propagação do novo coronavírus, e ressalvou que decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) colocou esse poder nas mãos de governadores e prefeitos.

Em transmissão em suas redes sociais ao lado do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, Bolsonaro disse que, com "muita responsabilidade", o Brasil vai ter que voltar a trabalhar.

O presidente disse que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta tinha um foco mais voltado para a questão da saúde, e voltou a afirmar que o efeito colateral de uma quarentena mais rígida é as pessoas perderem emprego -- o que poderia ocasionar problemas sérios para o Brasil.

Na quarta-feira, o Supremo garantiu que Estados e municípios têm poderes para tomar medidas no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, como fixar regras de isolamento social, quarentena e restrição no uso de transporte público, na prática derrubando medida provisória do governo Bolsonaro que visava a concentrar poderes no Executivo Federal de tomar determinadas decisões durante a pandemia.

"DIVÓRCIO AMIGÁVEL"

O presidente teve uma reunião na manhã desta quinta-feira com Teich, o primeiro dos indicados a substituir Mandetta, e havia planejado encontros com pelo menos outro médico, Claudio Lottemberg, para sexta-feira.

No entanto, de acordo com uma fonte, Bolsonaro ficou muito bem impressionado com a apresentação do médico e o convidou no início da tarde para assumir o cargo. 

Em seu pronunciamento ao lado de Teich, Bolsonaro admitiu que as divergências entre ele e Mandetta vinham se avolumando, mas afirmou que a situação terminou em um "divórcio amigável".

"Não condeno, não recrimino e não critico o ministro Mandetta. Ele fez aquilo que, como médico, ele achava que devia fazer", afirmou. "Ao longo desse tempo, a separação cada vez mais se tornava uma realidade, mas nós não podemos tomar decisões de forma que o trabalho feito por ele até o momento fosse perdido."

Apesar de ter defendido o oposto de Mandetta nas últimas semanas, Bolsonaro evitou criticar seu ex-ministro que, nas últimas pesquisas, conseguiu uma aprovação no combate à epidemia de mais de 70%, maior que a do próprio presidente, que ficou em 33%.

"É direito do ainda ministro (Mandetta) defender seu ponto de vista como médico, e a questão de entender a questão do emprego não foi da forma que eu, como chefe do Executivo, achava que deveria ser tratada", disse o presidente.

Mesmo com os cuidados de não ofender seu ex-ministro, o pronunciamento de Bolsonaro atraiu panelaços em várias cidades do Brasil. No Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo foram registrados protestos contra o presidente e gritos de "fica, Mandetta".

NOVO MINISTRO

Em sua primeira declaração pública após a indicação para o cargo, Teich rejeitou a polarização entre economia e saúde no combate ao coronavírus, afirmando ao lado de Bolsonaro que as duas áreas caminham juntas, e se disse completamente alinhado com o presidente

Apesar de ter sido encarregado de buscar formas de permitir a retomada gradual da economia, o oncologista defendeu recentemente medidas para conter a epidemia de coronavírus semelhantes às que o ministério vem adotando atualmente.

Em um artigo publicado na rede LinkedIn, ele destaca a necessidade de “reduzir o volume de entrada simultânea” no Sistema Único de Saúde —o chamado achatamento da curva— e do isolamento horizontal.

Teich disse que, em um primeiro momento, não vai haver qualquer "definição brusca" sobre o isolamento social, mas afirmou que vai trabalhar para que sociedade retome de forma cada vez mais rápida a vida normal.

O novo ministro anunciou que uma de suas medidas será ampliar o programa de testes de Covid-19 do ministério, envolvendo tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) como a saúde complementar, de forma a entender melhor a doença.

"Temos que entender mais da doença para administrar o momento, planejar o futuro e sair dessa política de isolamento", afirmou.

  • Presidente Jair Bolsonaro e novo ministro da Saúde, Nelson Teich 16/04/2020 REUTERS/Adriano Machado

  • Bolsonaro diz que fará indicações de cargos a novo ministro da Saúde

  • BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que o recém-escolhido ministro da Saúde, Nelson Teich, tem opiniões muito parecidas às dele e destacou que vai fazer algumas indicações para a pasta, após ter demitido Luiz Henrique Mandetta.

    Bolsonaro disse, em entrevista à CNN, que a economia vai começar a começar a ser aberta devagar e "claro que de forma pensada". Para ele, não tem como o Brasil manter o atual nível de distanciamento social por muito tempo. "No meu entender, chegamos no limite", disse.

    O presidente afirmou ainda que quem vai ter que convencer os governadores a respeito do relaxamento de medidas de restrição social não é ele, mas sim o povo. Frisou ainda que tem que tratar a doença e cuidar do desemprego, que cresceu muito.

    Bolsonaro disse que a população como um todo é quem vai pagar essa conta e não ele. Avaliou que, se puder estender, vai ampliar o prazo de pagamento do auxilio emergencial de R$ 600 reais para os informais -- previsto para durar três meses. Disse que já conversou sobre o assunto com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Fonte: Reuters

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