Brasil inicia período de pico de síndromes respiratórias com recorde de casos de Covid-19

Publicado em 15/04/2020 21:54

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou que o Brasil terá um desafio maior do que países do hemisfério norte no enfrentamento ao coronavírus porque precisará lidar com a nova doença, que teve recorde de novos casos nesta quarta-feira, ao mesmo tempo em que ocorre o pico tradicional de hospitalizações por doenças respiratórias.

Segundo documento do ministério, no ano passado, quando não havia Covid-19, o pico das hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país deu-se entre 15 de abril e 30 de junho, isto é, entre as semanas epidemiológicas de números 16 e 26.

O pico das hospitalizações em 2019 ocorreu na semana de número 22, entre os dias 27 de maio e 2 de junho, quando o país ultrapassou a marca de 2 mil hospitalizações por síndromes respiratórias.

    O cenário das hospitalizações registrado no ano passado, segundo técnicos da pasta, refere-se aos leitos em que pacientes precisaram de suporte respiratório devido a uma série de infecções por vírus e bactérias, como Influenza A e B e o H1N1.

    A preocupação da pasta é que, em 2020, esse tradicional período mais crítico das hospitalizações por síndromes respiratórias seja ainda mais severo porque agora haverá a concorrência com pacientes portadores do novo coronavírus.

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira no Palácio do Planalto, o ministro da Saúde chamou a atenção para o fato e destacou que o Brasil vai ter um desafio a mais que outros países no combate ao coronavírus.

"Nós estamos no outono, entrando no inverno e vamos ter a nossa sazonalidade de influenza e vamos tê-la juntos, sobreposta com a de corona", disse.

Mandetta disse que no Sudeste, onde está a região de maior densidade populacional do país, o pico das síndromes respiratórias é no mês de maio. Puxada pelos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a região é a que lidera o número de casos e mortes pelo novo coronavírus. 

"É onde você está entrando com ela (síndrome respiratória) e com o corona juntos. A gente sempre soube que maio seria o nosso mês mais complexo porque elas potencializam, uma potencializam a outra", disse. 

Nesta quarta-feira, o secretário de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, disse que os leitos das unidades de terapia intensiva (UTI) do Estado podem atingir sua lotação no final de maio ou no final de julho por causa da pandemia de Covid-19.

Não bastasse, o ministro da Saúde disse que em junho e julho o pico das síndromes respiratórias chega à Região Sul, onde há proporcionalmente o maior número de idosos em relação à população no país.

A chegada ao pico das hospitalizações por questões respiratórias no Brasil se dá ainda em um momento delicado politicamente, no qual Mandetta, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, e o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, admitem publicamente que devem deixar os cargos nos próximos dias.

Sob Mandetta, o ministério tem defendido a manutenção de medidas de isolamento social adotada por parte dos Estados e municípios para evitar uma elevação rápida de internados pelo Covid-19 e um colapso dos sistemas de saúde.

    O presidente Jair Bolsonaro, com quem Mandetta travou duros embates nos últimos dias, quer um relaxamento de medidas de contenção social por defender que é preciso contrabalançar ações de saúde e manutenção da atividade econômica e do emprego.

Gestores de saúde receiam que esse afrouxamento pode levar a uma explosão do número de casos, o que pode levar até a uma falta de leitos para internações de tratamento de Covid-19 e demais síndromes respiratórias.

Segundo boletim do ministério divulgado nesta quarta-feira, o Brasil registrou um recorde de casos de infecção pelo novo coronavírus, com 3.058 pessoas, o maior número diário desde o dia 8 de abril, chegando a um total de 28.320 portadores da doença.

    Nesta quarta, o Brasil igualou o recorde da véspera de mortes pelo novo coronavírus em 24 horas, com 204 óbitos, totalizando 1.736 mortes em decorrência da Covid-19.

Todos os níveis de governo têm se mobilizado para ampliar a oferta de leitos hospitalares e de UTI antes da chegada do pico da doença. Entretanto, alguns Estados, como Amazonas e Amapá, já apresentam saturação dos leitos ocupados.

Com longa fila de testes para Covid-19, laboratórios do país não são usados por falta de materiais

  • Por Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) - Apesar do acúmulo de mais de 90.000 amostras aguardando testes de coronavírus e um número crescente de mortos no Brasil, existem laboratórios no país ociosos devido à falta de materiais para análise de casos de Covid-19, segundo o Ministério da Agricultura.

A pasta disse à Reuters que sete laboratórios disponibilizados para testes de coronavírus e autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não estão sendo usados por falta de insumos.

São cinco Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA) e dois da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de acordo com respostas enviadas à Reuters nesta segunda-feira.

Em nota, o ministério afirma que essas instalações podem processar inicialmente 12.000 testes por semana, mas não estão recebendo os reagentes e os insumos necessários para a realização do trabalho.

Separadamente, a Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, informou a possibilidade de uso de 47 laboratórios seus, o que permitiria, potencialmente, o processamento de quase 43.000 testes de Covid-19 por dia.

Em resposta por e-mail, o Ministério da Saúde não abordou diretamente o motivo de os laboratórios oferecidos ainda não estarem sendo utilizados.

A pasta comandada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta disse que se esforça para aumentar os testes "mesmo diante da falta de insumos e da alta procura mundial por kits de testagem".

O sistema público de saúde realizou 89.000 testes para Covid-19, segundo o comunicado do Ministério da Saúde. Na segunda-feira, o ministério disse que havia um total de 93.000 testes pendentes.

Há uma demora no Brasil para a realização de testes em massa, apesar da recomendação da Organização Mundial da Saúde de "testar, testar, testar".

A falta de testes significa que o Brasil pode ter 12 vezes mais casos do novo coronavírus do que está sendo oficialmente divulgado, segundo um estudo.

Na quarta-feira, o governo anunciou que existem 28.320 casos confirmados de Covid-19 no Brasil e 1.736 mortes.

O Ministério da Agricultura informou: "Os laboratórios estão aguardando a compra de reagentes e insumos para a realização dos testes."

Segundo o Ministério da Saúde, 451.432 testes foram distribuídos aos Estados, mas a pasta não esclareceu se alguns deles seriam usados nos laboratórios do Ministério da Agricultura.

Uma fonte do governo disse que um dos principais problemas é a ausência de coordenação entre os ministérios da Saúde e da Agricultura. A fonte, que pediu anonimato, afirmou que a falta de reagentes pode ser superada através do desenvolvimento de novos protocolos usando bioquímicos alternativos.

O Ministério da Agricultura confirmou na quarta-feira que novos protocolos, ou ritos laboratoriais, poderiam ser adotados, ampliando a capacidade da rede.

O Ministério da Saúde não abordou a questão dos protocolos em sua resposta.

Fonte: Reuters

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