Jair circula por Brasília, Dória quer prisão em S. Paulo; Sair ou não sair de casa?, a dúvida domina o País

Publicado em 10/04/2020 06:09 e atualizado em 12/04/2020 11:13

O presidente Jair Bolsonaro voltou a circular por Brasília na manhã de sexta-feira, quebrando as regras de isolamento social determinadas pelo próprio governo federal para conter a disseminação do coronavírus. O presidente se posiciona contra o isolamento alegando que os impactos econômicos serão piores do que o próprio coronavírus.

Segundo Bolsonaro, a politica de manter as pessoas presas em casa é um "veneno" que poderá provocar mais mortes pelas consequencias econômicas do que o próprio vírus.

O passeio de Bolsonaro foi entendida como uma resposta ao governador de S. Paulo, João Doria, que lidera um movimento para que as pessoas fiquem mais dois meses em casa, ou pelo menos até o fim de maio. Na quinta-feira,  João Doria prometeu prisão para quem desrespeitar a recomendação. Bolsonaro já classificou o governador de S. Paulo como um "extermindor de empregos".

E enquanto João Doria quer que 70% da população fique em casa, o próprio Sistema de Monitoramento do governo paulista mostrou que o porcentual de isolamento na região metropolitana na quinta-feira caiu para apenas 47% da população, como resultado da desaceleração no crescimento da doença depois da quarentena decretada a partir de 24 de março. 

-- "Hoje, uma pessoa passa para um pouco mais de uma. Isso comprova que há um crescimento mais lento. A questão é como ficará daqui duas semanas se não decretar prorrogação no isolamento social. Poderemos ter crescimento exponencial", avaliam especialistas que defendem maior fechamento das pessoas em suas casas. 

Segundo o Ministério da Saúde, o País deve alcançar o pico da covid-19 entre o fim de abril e início de maio. 

Para o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emilio Ribas, o pico da doença já deveria estar acontecendo agora, mas o Brasil conseguiu adiar. "Essas curvas foram desaceleradas pelas quarentenas e, em paralelo, pela otimização dos hospitais de campanha, com leitos de UTI e aparelhos", diz o especialista.

-- "Se crescer de forma acentuada, medidas terão de ser estabelecidas para garantir que pessoas não tenham risco de vida, não só para não sobrecarregar o sistema de saúde", avalia

O médico afirma que nos últimos dez dias, houve aumento da circulação de pessoas. "Isso pode fazer com que haja mais circulação do vírus e contaminação, que pode levar a quem é mais vulnerável", diz. 

--"À medida que circula, mais casos haverá e, consequentemente, mais mortes."

Segundo o médico Carlos Magno Castelo Branco, ouvido pelo jornal O Estado de S. Paulo, "se nenhuma medida fosse adotada, em 30 dias já não haveria leitos em São Paulo. Nesse cenário de isolamento mais ou menos, a incerteza é muito grande. No entanto, uma coisa ficou clara: quando decreta limitação social há a diminuição de casos."

-- "Não vejo nenhuma possibilidade segura de abertura antes de meados ou fim de maio. Precisamos ainda manter a quarentena", diz o médico.

Novo coronavírus no Brasil

O Brasil passou das mil mortes pelo novo coronavírus nesta sexta-feira, 10, e tem quase 20 mil pessoas diagnosticadas com a covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde. Nas últimas 24 horas, foram registradas 115 novas mortes (acréscimo de 12%) e 1 781 casos a mais (aumento de 10%), elevando os números totais para 1.056 óbitos e 19.638 casos confirmados da doença em todas as unidades federativas.

O Estado de São Paulo segue sendo o mais afetado, com 8.216 casos e 540 mortes, seguido por Rio de Janeiro (2.464 e 147 óbitos) e Ceará (1.478 e 58 óbitos). 

Também na quinta-feira, o Estado mostrou que a quarentena afrouxou em todas as capitais do País entre a última semana de março e os primeiros dias de abril. Entre as dez maiores capitais, a que apresentou maior proporção de pessoas circulando nas últimas semanas foi Manaus. O Estado do Amazonas registra, hoje, 981 casos confirmados e 50 mortes por covid-19.

Bolsonaro defende direito constitucional de "ir e vir"

Na manhã de sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a circular por Brasília  provocando aglomeração de pessoas e cumprimentando apoiadores, apesar das regras de isolamento social determinadas pelo próprio governo Federal e defendidas por especialistas de saúde para conter a disseminação do coronavírus.

-- "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir", afirmou o presidente. Ao sair, ele foi até uma drogaria, onde parou provocando aglomeração de simpatizantes e profissionais da imprensa que o acompanhavam.

Na véspera, Bolsonaro já havia descumprido as regras de isolamento social ao ir até uma padaria e abraçar apoiadores que se reuniram para cumprimentá-lo.

Cercado por seguranças, Bolsonaro deixa farmácia em Brasília nesta sexta-feira, 10 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Bolsonaro afirmou que espera a normalização da atividades do país em menos de "três ou quatro" meses, para não haver, segundo ele, uma complicação no cenário econômico. Ele defende o fim do isolamento social amplo para pessoas fora dos grupos de risco da covid-19, como idosos e pessoas com doenças crônicas.

--"Por mim, quem tem menos de 40 anos já estaria trabalhando, porque nós deveríamos, no meu entender, partir para o isolamento vertical", disse.

De acordo com presidente, alguns estados e cidades já estão retomando as atividades, como ele defende.

"Eu tenho certeza que brevemente isso tudo estará resolvido. Tenho notícias que alguns governadores, alguns prefeitos também, [em] cidades que não tem ninguém detectado com o vírus, está sendo liberado [o comércio] pelo respectivo governador", afirmou.

O presidente Jair Bolsonaro tira foto com funcionários de farmácia em Brasília Foto: Adriano Machado/Reuters

Diante das críticas de Bolsonaro às medidas de isolamento social, e do próprio comportamento do presidente, governadores têm alertado a população que poderão reforçar as restrições uma vez que afirmam que está havendo queda de adesão da população às quarentenas.

Dados desta semana analisados pela Reuters apontaram que o isolamento social imposto nas maiores cidades brasileiras contra a epidemia está começando a perder força.

  • Presidente Jair Bolsonaro em bairro residencial de Brasília 10/04/2020 REUTERS/Adriano Machado

  • Bolsonaro defende cloroquina e manda recado: paciente pode trocar de médico

  • (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro voltou a defendero uso da cloroquina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus em quaisquer estágio da doença, o que contraria o atual protocolo do Ministério da Saúde, e falou que paciente pode trocar de médico, no que pode ser visto como um recado indireto para o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta, com quem tem protagonizado embates nas últimas semanas.

    Em transmissão em rede social, Bolsonaro citou uma série de argumentos para reforçar o uso da cloroquina, destacando que, pelo que "tudo indica", o medicamento tem salvado vidas.

    O presidente argumentou que, se um médico não quiser lhe prescrever esse remédio, "você tem todo direito de trocar de médico".

    "Médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico", disse.

    Em S. Paulo, Doria prorroga quarentena até 22 de abril e ameaça prender

    • Ponte Octavio Frias de Oliveira, vazia, durante quarentena em São Paulo (24/03/2020) 

    -- "Eu quero deixar claro à opinião pública e à população do Estado de São Paulo que, sim, a prorrogação da quarentena será feita em São Paulo por mais 15 dias, do dia 8 até o dia 22 de abril", disse João  Doria em entrevista coletiva na quinta-feira. 

    O decreto inicial de quarentena venceria na terça-feira, mas a prorrogação foi anunciada por Doria em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O governador disse que todos as prefeituras do Estado têm obrigação de seguir o decreto, e que a decisão foi tomada com base em informações científicas.

    Doria e o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), também presente na entrevista, disseram que mais medidas de restrição à circulação de pessoas podem ser adotadas caso a população não respeite a quarentena.

    O governador disse ainda que a Polícia Militar paulista está orientada a dissipar aglomerações.

    "A Polícia Militar do Estado de São Paulo está autorizada a agir para evitar aglomerações, primeiro na advertência, na orientação", disse Doria.

    "Tenho convicção que as pessoas saberão seguir essa orientação, até porque, se não fizerem, a segunda etapa será medidas coercitivas, podendo penalizar essas pessoas com as penas previstas em lei, que vão inclusive à prisão."

    A quarentena em São Paulo determina o fechamento de bares, cafés e restaurantes, podendo funcionar apenas através de serviços de entrega, assim como diversos outros estabelecimentos comerciais.

    Serviços essenciais nas áreas de saúde pública, saúde privada, alimentação, abastecimento, segurança e limpeza deverão seguir funcionando, no entanto. Assim, seguirão abertos hospitais, clínicas, supermercados, padarias (sem serviços de alimentação pronta) e açougues, de acordo com o governo.

Fonte: Estadão Conteúdo/Reuters

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