Isolamento atual pode levar ao caos e permitir que "aproveitadores" assumam poder, diz Bolsonaro

Publicado em 30/03/2020 13:18 e atualizado em 30/03/2020 14:20

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro reafirmou nesta segunda-feira sua intenção de aliviar o isolamento social no país e disse que o atual cenário está destruindo empregos e pode levar ao caos social que permitirá a “aproveitadores chegarem ao poder e não mais sair”.

“Quando a situação vai para o caos, com desemprego em massa, fome, é um terreno fértil para aproveitadores buscarem uma maneira de chegar ao poder e não mais sair dele”, disse Bolsonaro.

Quando perguntado sobre a posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estendeu o isolamento social no país para conter a propagação do coronavírus até 30 de abril, Bolsonaro afirmou que não iria discutir essa posição e que o Brasil é um país diferente.

Há menos de uma semana, depois de seu pronunciamento em que pediu às pessoas que voltassem ao trabalho, Bolsonaro se defendeu de críticas dizendo que sua posição estava alinhada com a do presidente norte-americano.

Ao ser questionado sobre dados que mostrariam o aumento do desemprego nessa velocidade que ele afirma e o risco de caos, Bolsonaro não respondeu e disse aos jornalistas que deveriam ir às ruas para falar com as pessoas.

“Você já foi nas ruas, foi buscar relatos de pessoas que estão passando dificuldades?”, perguntou aos jornalistas em frente ao Palácio do Alvorada.

Depois, pela insistência do repórter, disse que tinha levantamentos que mostrariam que a situação já havia chegado “ao limite”, sem dar quaisquer detalhes que embasasse essa afirmação.

“Queira Deus que eu esteja errado, mas eu não vou me furtar da minha responsabilidade para ser bem tratado por vocês”, afirmou.

'Brasil é diferente', diz Bolsonaro ao evitar comentar isolamento nos EUA

O presidente Jair Bolsonaro reagiu a críticas após ter saído às ruas na manhã de domingo, 29, na contramão de recomendações do Ministério da Saúde. "Atiram numa pessoa só. O alvo sou eu. Se o Bolsonaro sair e entrar o (Fernando) Haddad (PT, candidato derrotado por Bolsonaro em 2018) ou outro qualquer, está resolvido o problema. Esta realidade tem que ser mudada", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada nesta segunda-feira, 30.

O presidente também evitou comentar a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de mudar o rumo no combate à covid-19. Trump estendeu o isolamento social no país norte-americano até o dia 30 de abril. "Eu vou não vou discutir. Brasil é diferente de qualquer outro país", declarou Bolsonaro.

O presidente reforçou que está trabalhando com responsabilidade tanto em relação ao novo coronavírus quanto aos impactos na economia. A apoiadores, ele declarou que é preciso resolver o problema e, com ironia, questionou se seria necessário trocar o presidente da República.

"Parece que o problema é o presidente. É que o presidente tem responsabilidade, tem que decidir. Não é apenas a questão de vida, é a questão da economia também, a questão do emprego. Se o emprego continuar sendo destruído da forma como está sendo, mortes virão outras por outros motivos", declarou, citando depressão e suicídio.

No domingo, Bolsonaro foi às ruas de Brasília um dia após o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pedir, em reunião tensa noticiada pela colunista do jornal O Estado de S. Paulo Eliane Cantanhêde, que o presidente não menosprezasse a gravidade da pandemia em suas manifestações públicas. A ida de Bolsonaro a comércios da capital causou aglomerações de pessoas que queriam tirar selfies com o presidente.

"O que eu tenho conversado com o povo: eles querem trabalhar. É o que eu tenho falado desde o começo. Vamos tomar cuidado, a partir dos 65 fica em casa...", disse o presidente.

Partidos de esquerda querem acionar Bolsonaro na Justiça por passeio em meio à pandemia

Nove partidos, em sua maioria siglas de esquerda, emitiram uma nota conjunta criticando o passeio do presidente Jair Bolsonaro pelas ruas de Brasília neste domingo, 29. Ele cumprimentou comerciantes e se posicionou contra o isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a pandemia de coronavírus.

"Estamos estudando medidas judiciais cabíveis contra a atitude do Presidente da República, no intuito de salvaguardar vidas em nossa cidade, bem como mobilizando-nos em diversas ações de natureza política", diz a nota assinada por PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB, PCB, PV, Rede e Unidade Popular. Também assinam os grupos Consulta Popular e PRC.

"O DF é, hoje, a terceira Unidade da Federação com o maior registro de casos. Assim, essa apologia ao descumprimento de orientações sanitárias pode fazer com que os números cresçam em nossa cidade e que cheguemos ao completo colapso do sistema de saúde", dizem os partidos. "O discurso criminoso e irresponsável do presidente custará vidas, principalmente dos mais pobres, vulneráveis e moradores das periferias.

Leia na íntegra da nota:

"Nós, partidos políticos que subscrevemos esta nota, vimos a público para repudiar a atitude do Presidente da República Jair Bolsonaro de ter feito visitas a feiras populares e comércios do Distrito Federal, incentivado a população a descumprir as medidas sanitárias decretadas localmente, orientadas pelo seu próprio Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Presidente da República insiste em ir na contramão de todas as ações que têm sido tomadas por chefes de Estado de todo o mundo no enfrentamento à pandemia do COVID-19. O DF é, hoje, a terceira Unidade da Federação com o maior registro de casos. Assim, essa apologia ao descumprimento de orientações sanitárias pode fazer com que os números cresçam em nossa cidade e que cheguemos ao completo colapso do sistema de saúde. O discurso criminoso e irresponsável do presidente custará vidas, principalmente dos mais pobres, vulneráveis e moradores das periferias.

É preciso frisar que não há dicotomia entre saúde e economia. Os países que melhor enfrentaram até o momento a crise do COVID-19 adotaram medidas de isolamento social, aumento no número de UTIs e realização de testes massivos em sua população, e o Estado atuou de forma a garantir o emprego e a renda das pessoas.

Por isso, estamos estudando medidas judiciais cabíveis contra a atitude do Presidente da República, no intuito de salvaguardar vidas em nossa cidade, bem como mobilizando-nos em diversas ações de natureza política. Momentos como o que estamos vivendo no Brasil, e em especial no Distrito Federal, materializam e reforçam ainda mais os elos de união das forças progressistas na defesa da vida e de uma sociedade livre, justa e solidária", diz o texto.

Assinam a nota:

- Consulta Popular*

- PCB

- PCdoB

- PDT

- PRC*

- PSB

- PSOL

- PT

- PV

- Rede Sustentabilidade

- Unidade Popular

* Não são partidos com registro no TSE

 

 

 

Fonte: Reuters/Estadão Conteúdo

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