BNDES anuncia pacote de R$ 55 bi para proteção de empregos; Bolsonaro fala em vencer crise

Publicado em 22/03/2020 13:49 e atualizado em 22/03/2020 17:24

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou neste domingo, em videoconferência com a participação do presidente Jair Bolsonaro, um pacote de medidas totalizando 55 bilhões de reais para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia de coronavírus, com foco na preservação de empregos.

O pacote inclui a suspensão dos pagamentos de empréstimos diretos e indiretos concedidos pelo banco, a transferência de valores para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a disponibilidade de mais recursos para micro, pequenas e médias empresas, que são grandes geradoras de postos de trabalho no Brasil.

As medidas emergenciais aprovadas pela diretoria do banco de fomento têm como objetivo ajudar cidadãos e empresas a minimizar os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus, disse o BNDES.

“O banco se preparou, se ajustou, para um ação anticíclica. É um primeiro passo no enfrentamento dessa crise“, disse o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, em entrevista coletiva virtual. “Estamos trabalhando já em medidas setoriais, e tão logo tivermos segurança vamos vir a público para anunciar”, acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro também participou da transmissão online do anúncio de medidas do BNDES, e afirmou que o objetivo do governo é preservar empregos em meio à crise global causada pelo Covid-19.

Depois de dizer nos últimos dias que havia uma histeria em relação ao coronavírus e suas consequências, Bolsonaro declarou que a doença é "algo que nos aflige" e motivo de preocupação.

"Daremos uma resposta a esse mal que nos aflige. O coronavírus é uma coisa preocupante sim, estamos focados nessa questão", disse o presidente no encerramento da coletiva virtual conduzida pelo presidente do BNDES.

"Tenho certeza que essas medidas suas (do BNDES) virão no sentido em especial na manutenção de empregos, que é uma coisa extremamente importante... Vamos vencer essa crise do coronavírus com a manutenção de empregos, por que a vida continua", acrescentou.

O pacote de medidas do BNDES prevê a transferência de 20 bilhões de reais em recursos do Fundo PIS-PASEP para o FGTS.

O programa prevê ainda a suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamentos diretos para empresas no valor de 19 bilhões de reais e de 11 bilhões de reais nos financiamentos indiretos do banco.

O BNDES vai promover também a ampliação do crédito para micro, pequenas e médias empresas no valor de 5 bilhões de reais.

“As medidas adotadas pelo BNDES visam a apoiar o trabalhador diretamente com a possibilidade de novos saques do FGTS, e indiretamente, ao ajudar na manutenção de mais de 2 milhões de empregos com aumento da capacidade financeira e preservação de 150 mil empresas”, disse comunicado do banco de fomento.

“Os 55 bilhões de reais que serão injetados na economia representam quase a totalidade dos desembolsos do BNDES em todo o ano de 2019”, acrescentou.

Segundo Montezano, as empresas adimplentes com o banco e que não estejam em falência ou recuperação judicial poderão fazer uma espécie de refinanciamento de seus empréstimos contraídos junto ao banco.

As medidas podem ser estendidas para além de seis meses de suspensão do pagamento de financiamentos, e também estão sendo estudadas e devem ser anunciadas em breve propostas setoriais, especialmente para os setores aéreo, hoteleiro e de bares e restaurantes.

Em 2019, os desembolsos do BNDES somaram 55 bilhões de reais, o valor mais baixo desde 1996. A previsão para este ano era de financiar entre 60 bilhões e 70 bilhões de reais, antes da pandemia.

Ao lado de Mandetta, Bolsonaro volta a criticar 'alarmismo'

Em reunião com prefeitos de capitais na manhã deste domingo, 22, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o que chama de "alarmismo" na crise do novo coronavírus. "Há um alarmismo muito grande por grande parte da mídia. Alguns dizem que estou na contramão. Eu estou naquilo que acho que tem que ser feito. Posso estar errado, mas acho que deve ser tratado dessa maneira", afirmou.

Bolsonaro fez as declarações ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem liderado as ações do governo federal no combate à pandemia. O presidente também disse que a situação da doença no Brasil não deve ser comparada à de países da Europa

"Não podemos nos comparar com a Itália. Lá o número de habitantes por quilômetro quadrado é 200. Na França, 230. No Brasil, 24. O clima é diferente. A população lá é extremamente idosa. Esse clima não pode vir pra cá porque causa certa agonia e causa um estado de preocupação enorme. Uma pessoa estressada perde imunidade", afirmou o presidente.

Bolsonaro deixou a reunião antes do fim. Chegou à sede do Ministério da Saúde às 9h42 e deixou o local às 11h26. Ao deixar a videoconferência, o presidente parabenizou os prefeitos por colocarem "o interesse público acima de qualquer coisa".

Bolsonaro nega colapso na saúde por coronavírus e diz que ministro Mandetta exagerou (Reuters)

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em entrevista à CNN Brasil transmitida na noite de sábado, que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, inicialmente exagerou na reação ao coronavírus, e disse que não vai acontecer um colapso no sistema, apesar do aumento de casos e de mortes em decorrência da doença no país.

Bolsonaro tem criticado governadores, em especial do Rio de Janeiro e de São Paulo, por terem adotado medidas rígidas de restrição de movimentação de pessoas como forma de reduzir a disseminação do coronavírus. Segundo o presidente, as medidas são exageradas e estão provocando desemprego.

O ministro da Saúde também defende o isolamento da população como forma de contenção do coronavírus, apesar da posição do presidente. Bolsonaro disse que, em sua avaliação, Mandetta estava exagerando, e afirmou que ambos têm conversado para acertar os ponteiros.

"O Mandetta, num primeiro momento, eu estava achando que ele estava exagerando", disse Bolsonaro na entrevista.

"Tanto é que ele foi bastante questionado ontem quando falou uma palavra que não era adequada para aquele momento, foi o colapso, e ele explicou perfeitamente. É isso apenas que tenho conversado com ele, acertando os ponteiros", acrescentou.

Na sexta-feira, o ministro da Saúde disse que as medidas de restrições de circulação de pessoas visam evitar um eventual colapso do sistema de saúde no Brasil em função da pandemia do novo coronavírus, como ocorreu na Itália.

O ministro afirmou que o Brasil tem alguns pontos fortes, como a antecipação das medidas de enfrentamento ao coronavírus, mas ressaltou que, mesmo assim, o sistema pode entrar em colapso em pouco mais de um mês. 

Questionado sobre um possível colapso, Bolsonaro disse não acreditar que vai acontecer.

"Não acredito. O que estamos fazendo é alongar a curva de infecção", afirmou. "Não acredito em colapso, a curva vai aumentar."

Bolsonaro, que voltou a criticar as medidas de governadores para conter o coronavírus devido ao impacto econômico, afirmou ainda na entrevista que o governo só deve falar sobre previsões econômicas quando o pico da doença passar, dentro de alguns meses.

Na semana passada, o Ministério da Economia anunciou corte na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 a 0,02%, ante alta de 2,1% indicada há dez dias, numa mostra da rápida deterioração das expectativas em meio ao avanço do coronavírus e seu dramático impacto na economia. 

"Não quero fazer previsões. Tenho falado que devemos evitar falar em números, porque, afinal de contas, depois vem a crítica por parte da imprensa quando esses números não atingem o valor que havíamos previsto", afirmou.

"Alguns acham que haverá um crescimento negativo do Brasil, vamos esperar, faltam acho que poucos meses para atingir aqui o pico na questão dessa contaminação, ou até mesmo a cura dessa doença, só aí nós podemos falar em economia. No momento, minha grande preocupação é com a vida das pessoas, e bem como o desemprego que está proporcionado por esses governadores irresponsáveis".

De acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados no sábado à noite, o Brasil tem 1.128 casos confirmados do novo coronavírus, com 18 mortes (15 em São Paulo e 3 no Rio de Janeiro).

Em reunião, Mandetta defende adiar eleições de 2020 para conter coronavírus

O ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o Congresso deveria adiar as eleições municipais deste ano, marcadas para outubro, para conter o avanço do novo coronavírus no País. O comentário foi feito durante reunião por videoconferência com prefeitos de capitais, neste domingo, 22.

Para Mandetta, a disputa eleitoral pode comprometer o foco dos gestores e causar uma "tragédia". "Faço aqui até uma sugestão. Está na hora de o Congresso falar: 'adia', faz um mandato desses vereadores e prefeitos. Eleição no meio do ano... uma tragédia, por que vai todo mundo querer fazer ação política", disse.

O ministro fez o comentário em resposta a um dos prefeitos que mencionou dificuldades políticas com outros atores da região para adotar algumas medidas de contenção.

"Não é hora de falar sobre isso", cortou o prefeito de Campinas, Jonas Donizette, presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Em seguida, foi dada a palavra a um outro gestor, e não se tocou mais no assunto.

Desde que se intensificaram as consequências da pandemia, líderes do Congresso começaram a falar na possibilidade de adiar o pleito que escolherá os novos prefeitos e vereadores.

Fonte: Estadão Conteúdo/Reuters

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