Coronavírus força varejistas brasileiras a fechar portas e dobrar apostas no comércio eletrônico

Publicado em 20/03/2020 03:44

SÃO PAULO (Reuters) - Varejistas brasileiras começaram a sentir o impacto da epidemia de coronavírus, conforme shopping centers fecham as portas e a população atende aos apelos de autoridades para ficar em casa, mas um segmento da indústria ainda pode se beneficiar da crise: o comércio eletrônico.

A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) informou nesta quinta-feira que deve em breve revisar a estimativa de faturamento em 2020, já que alguns sites têm registrado desde 12 de março alta de até 180% nas vendas, em especial de itens alimentares e farmacêuticos.

Antes do coronavírus, a ABComm previa alta de 18% da receita do comércio eletrônico do país em 2020, a 106 bilhões de reais.

Com o número de casos confirmados subindo para 621 ante 193 na quarta-feira, os brasileiros estão restringindo hábitos de consumo a mercadorias essenciais encontradas especialmente em farmácias e supermercados, os chamados setores "defensivos".

As ações da subsidiária local do grupo varejista francês Carrefour subiram mais de 12% em relação ao fechamento de sexta-feira, superando o desempenho do rival GPA, cujos papéis caíram 1,6% no mesmo período.

Ainda assim, ambas vem tendo desempenho significativamente melhor que outras varejistas de bens duráveis como Via Varejo e Magazine Luiza, cujas ações desabaram mais de 47% e 27%, respectivamente, entre o fechamento do dia 13 de março e o desta quinta-feira.

"Eletrodoméstico, eletrônicos e vestuário são hábitos de compra que podem ser adiados, diferentemente de alimentos e remédios que são sempre necessários", explicou a co-chefe de renda variável da Eleven Financial Research, Daniela Bretthauer.

Ela também observou que muitas das varejistas de eletrônicos e eletrodomésticos têm lojas dentro de shopping centers, que agora estão fechando as portas para cumprir com as recomendações de autoridades para evitar a concentração de pessoas.

Somente nesta quinta-feira, o fluxo de visitantes em shopping centers brasileiros desabou quase 50% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme levantamento da FX Retail Analytics em parceria com a startup de finanças F360º e com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).

Desde 14 de março, a queda acumulada beira 26% ano a ano.

Considerando lojas físicas de rua, a pesquisa aponta recuo superior a 22% no fluxo de visitantes entre 14 e 18 de março, em relação a igual intervalo de 2019.

Enquanto algumas varejistas são forçadas a suspender as atividades, outras estão tomando a iniciativa de fechar as lojas físicas para concentrar as operações no comércio eletrônico.

Uma delas é a Lojas Renner, maior varejista de moda do país, que mais cedo anunciou o fechamento de todas as lojas no Brasil, Argentina e Uruguai por tempo indeterminado a partir de 20 de março. A operação de comércio eletrônico da empresa seguirá funcionando no Brasil, com menos colaboradores.

McDonald's vai atender apenas via delivery, drive-thru e viagem no Brasil

SÃO PAULO (Reuters) - A Arcos Dorados, maior franqueada independente do McDonald's do mundo, vai atender no Brasil apenas via delivery, drive-thru e pedidos para viagem a partir de 23 de março, informou a companhia nesta quinta-feira.

A companhia opera mais de 1.000 lojas no Brasil e afirmou que tomou a decisão por conta da expansão da pandemia de coronavírus no país. O McDonald's anunciou decisão semelhante nos Estados Unidos na segunda-feira.

Nesta quinta-feira, o número de mortos pela doença no Brasil subiu para 7, com 621 casos confirmados, um avanço de 193 em relação à véspera, segundo dados do Ministério da Saúde.

BRF vê maior suprimento a supermercados em meio a vírus, diz fonte

RIO DE JANEIR/SÃO PAULO (Reuters) - A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil, tem operado normalmente apesar das restrições impostas para a contenção do coronavírus no país, mas se prepara para realizar uma mudança nos canais de suprimento, com supermercados e mercearias demandando mais do que o segmento de "food service", que atende consumidores que comem fora de casa.

"O que admitimos que pode haver é mudança de canal. Como as pessoas vão deixar de comer fora, você diminui suprimento para 'food service' e aumenta para supermercados e mercearias", disse a fonte próxima da companhia, que pediu para não ser identificada.

"O que muda é mix do canal de venda", acrescentou.

Após ser procurada, a empresa afirmou que "está atendendo ao mercado, que apresentou migração entre canais, no entanto sem expectativa de alterações relevantes na demanda agregada neste momento".

"A BRF tem um compromisso com o atendimento da demanda da população por alimentos no Brasil e no mundo", acrescentou.

Segundo a fonte, a companhia não registrou aumento da produção neste momento em que há maior demanda de supermercados, mas opera dentro de relativa normalidade, adotando as práticas recomendadas para evitar a disseminação da doença.

Na semana passada, a empresa disse em nota que diversas medidas e protocolos vêm sendo adotados para preservar a segurança de todas as pessoas envolvidas em seu contexto operacional, "além de se determinar planos de contingência para sustentação de suas operações".

Apesar dos protocolos, a empresa está "entregando normalmente, embarcando e suprindo clientes", disse a fonte.

"Do lado da BRF, não vemos risco de falta de produtos ou desabastecimento e não há preocupação", destacou, ressaltando que os governos precisam de coordenação, para evitar medidas que eventualmente possam interromper fluxos de mercadorias.

Com relação ao mercado externo, mesmo no auge da crise do coronavírus na China, principal mercado do Brasil, os contratos asseguraram a entrega sem problema, completou.

AURORA TAMBÉM NORMAL

A Cooperativa Central Aurora Alimentos --outra grande produtora e exportadora de alimentos, incluindo carnes de aves e suínos, como a BRF-- afirmou em nota nesta quinta-feira que sua base produtiva no campo, com o apoio das 11 cooperativas agropecuárias filiadas, opera normalmente para a geração das matérias-primas essenciais, como aves, suínos, leite e grãos, e que tem seguido as orientações das autoridades para evitar a disseminação do coronavírus.

A companhia disse que "aliando-se aos esforços da sociedade brasileira no combate à pandemia de coronavírus e atendendo orientações do Ministério da Saúde e das autoridades sanitárias, adotou todas as providências para assegurar a saúde, a segurança e o bem-estar de seus mais de 31.000 empregados diretos, bem como o universo de parceiros e terceirizados".

Declarou também que, "nesse momento particularmente preocupante da vida nacional, a Aurora manifesta seu inarredável compromisso de continuar produzindo alimentos de qualidade para o Brasil e o mundo".

Na avaliação da Aurora, "essa postura é essencial, pois a eventual falta ou escassez de comida na mesa dos brasileiros tornaria caótico e imprevisível --sob o aspecto de segurança alimentar-- um quadro que já é delicado e preocupante sob o aspecto de saúde pública".

Ford suspenderá produção no Brasil e Argentina em resposta ao coronavírus

SÃO PAULO (Reuters) - A Ford vai temporariamente suspender a produção em suas fábricas no Brasil e na Argentina para miminizar o imapacto da pandemia de coronavírus, anunciou a montadora norte-americana nesta quinta-feira.

A produção nas 3 fábricas da empresa no Brasil será suspensa entre 23 de março e 12 de abril. Na unidade industrial na Argentina a interrupção ocorrerá entre 25 de março e 5 de abril.

Fonte: Reuters

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