SP manda fechar lojas e shoppings; mercados e farmácias ficam abertos

Publicado em 19/03/2020 07:05

Em decreto inédito, a Prefeitura de São Paulo determinou o fechamento do comércio de toda a cidade para tentar retardar o avanço do novo coronavírus. Lojistas estão proibidos de atender presencialmente o público por 15 dias, a partir de amanhã. Locais que tenham como realizar entregas poderão funcionar. A medida não vale para farmácias, mercados, feiras livres, lojas de conveniência e postos de combustível, entre outros estabelecimentos. Bares, padarias e restaurantes poderão funcionar, mas com regras adicionais de higiene.

A capital paulista já teve quatro mortes pelo novo coronavírus. A decisão foi tomada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) após contatos com lojistas de regiões como a Rua 25 de Março e de outras associações. A nova regra é um complemento ao decreto de emergência publicado na segunda-feira. Esse decreto permite à Prefeitura ainda fazer compras urgentes sem licitação e a confiscar bens e serviços em prol da saúde pública.

Casas noturnas, salões de festas e espaços de eventos também deverão permanecer fechados até 20 de abril. A gestão Covas não descarta que o período seja prorrogado, a depender da evolução do surto.

Há dúvidas ainda sobre a prestação de serviço. Técnicos da Prefeitura informaram que a medida excluiria serviços, citando agências bancárias, mas o decreto não traz essa exceção - mas há brecha para alterações nos setores afetados, que serão definidas pelas secretarias de Governo, Saúde e Desenvolvimento Econômico.

A fiscalização será feita pelas subprefeituras, que aplicarão sanções nos estabelecimentos como se estivessem funcionando sem alvará. As subprefeituras também devem suspender, a partir de amanhã, as licenças de trabalho de todos os vendedores ambulantes da cidade.

Bares, padarias e restaurantes abertos terão de cumprir regras adicionais: espaçamento mínimo de 1 metro entre as mesas, oferta gratuita de álcool em gel a clientes, reforçar a limpeza e distribuir informações sobre a covid-19, a serem definidas pela Prefeitura. Segundo o Município, o esforço é para manter as pessoas em casa, evitando infecções e o colapso nos sistemas de saúde.

Estado

O decreto foi publicado horas após o governador João Doria (PSDB) anunciar recomendação para que shoppings das 39 cidades da Grande São Paulo fechassem as portas. A recomendação não tinha força de lei e valeria para segunda-feira. A ação de Covas atropelou a medida de Doria.

Prefeitura e Estado foram questionados sobre eventual descompasso. "As medidas das duas esferas são complementares e dinâmicas, com possibilidade de revisão a qualquer momento, de acordo com a gravidade da situação", diz a gestão Doria, em nota Ainda segundo o Estado, "governador e prefeito conversaram por telefone antes dos anúncios da manhã e da tarde e não há "atropelo", mas ação coordenada. A Prefeitura disse que a resposta valeria para as duas esferas do Executivo.

Reação. As medidas foram criticadas pelo presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah. Ele diz não ser contrário a medidas que preservem a saúde das pessoas, mas defende mais negociação para evitar risco de redução de salários e desemprego.

A Associação Brasileira de Lojistas Satélites teme por grande colapso, com falência de empresas. A entidade já se organiza para pedir moratória a donos de shoppings, além da isenção do aluguel ou cobrança equivalente ao porcentual de vendas.

Outros governos decretaram o fechamento de serviços não essenciais, entre eles Belo Horizonte e o governo de Santa Catarina. O governo catarinense vetou, ainda, a entrada de novos hóspedes no setor hoteleiro e a circulação de veículos de transporte coletivo urbano municipal, intermunicipal e interestadual. (Colaboraram Mariana Durão e Márcia de Chiara)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Prefeitura de SP manda fechar lojas até 5 de abril (Reuters)

SÃO PAULO (Reuters) - A prefeitura de São Paulo determinou nesta quarta-feira o fechamento de estabelecimentos comerciais da cidade para atendimento presencial de 20 de março até 5 de abril.

A decisão do prefeito Bruno Covas foi tomada com "base na lei federal que lhe confere poderes para enfrentamento de emergência de saúde", segundo comunicado da prefeitura enviado à imprensa.

A medida autoriza a manutenção dos serviços administrativos e a realização de vendas por meio de aplicativos, internet ou instrumentos similares.

Ficam isentos da medida farmácias, supermercados, feiras livres, lojas de conveniência e de venda de alimentação para animais, padarias, restaurantes, lanchonetes e postos de combustível.

Ainda segundo o comunicado, cabe às subprefeituras suspender atividades de autônomos e à guarda civil metropolitana, intensificar a retirada de comércio ambulante ilegal.

A decisão acontece horas depois de o governador de São Paulo, João Doria, ter recomendado que os shoppings da capital e da região metropolitana do Estado fechem a partir de 23 de março, até 30 de abril como parte do combate ao avanço do coronavírus.

Com corrida às compras, supermercados já têm redução de produtos nas prateleiras

A corrida do brasileiro ao supermercado para fazer estoques de alimentos e itens de higiene e limpeza por causa da pandemia do novo coronavírus já provoca a falta de alguns produtos nas lojas, especialmente mercadorias básicas. O índice de falta de itens nas prateleiras dos supermercados chegou a 11,3% no último sábado em cerca 20 mil lojas espalhadas pelo País, segundo pesquisa feita pela Neogrid, empresa de tecnologia que monitora os pedidos do varejo para a indústria.

"Quando o indicador passa de 10% já é considerado muito alto", afirmou o vice-presidente da empresa e responsável pelo estudo, Robson Munhoz. Dados preliminares mostram que no domingo esse indicador continuou subindo e atingiu 11,7%. O executivo destacou que a trajetória ascendente reflete o pânico que houve na população nos últimos dias para fazer estoques. Em épocas normais, a ruptura, como é chamada a falta de produtos pelos supermercados, varia entre 7% e 8%.

Munhoz ressaltou que não há desabastecimento no varejo, mas sim um descompasso entre a velocidade de vendas nas lojas e a logística para transferir os estoques dos centros de distribuição para os pontos de venda de itens mais procurados neste momento. "Grandes varejistas fizeram a lição de casa e aumentaram as compras da indústria. O problema é que leva tempo para entregar o produto no centro de distribuição e depois fazer a entrega na loja", disse o executivo.

Um recorte especial da pesquisa mostra que, de uma cesta de 28 itens mais vendidos e mais escassos, o antisséptico para mãos foi o campeão: as vendas cresceram 630,5% em março ante janeiro, os estoques caíram quase pela metade (47%) e o índice de redução na oferta do produto na loja chegou a 31% no fim de semana. No mesmo período, as vendas de álcool aumentaram 322,7%, os estoques caíram quase 30% e a escassez beirava também os 30%. No caso do papel higiênico, as vendas dobraram de fevereiro para março e a falta chega a 10%. Alimentos básicos como leite em pó, leite longa vida, açúcar e massas também estão na lista dos mais procurados e que enfrentam escassez, com índices de 9,4%, 19,4%, 7,9% e 9,9%, respectivamente.

A reportagem percorreu as lojas de hipermercados e constatou a escassez dos produtos apontados pela pesquisa e também de vários outros. Era possível ver espaços vazios nas prateleiras nas lojas do Big e do Carrefour. Já no hipermercado Extra, há cartazes informando o limite de compra de unidades por pessoa para itens como feijão, arroz, leite em pó, fraldas e macarrão.

O Grupo GPA, dono das bandeiras Extra e Pão de Açúcar, informou, por meio de nota, que estabeleceu um limite de unidades vendidas por cliente para itens de higiene pessoal e alimentos de primeira necessidade. A determinação vale para todas as lojas das duas bandeiras por tempo indeterminado. O GPA informou também que a partir de hoje terá atendimento exclusivo para clientes com mais de 60 anos das 6h às 7h nas lojas do Pão de Açúcar, exceto nas que ficam em shoppings.

O Grupo BIG esclareceu, por meio de nota, que "o abastecimento de suas lojas segue normalizado, mesmo com o aumento do fluxo de clientes e incremento nas vendas acima da média registrados na última semana". A rede destaca que, por causa da alta demanda no mercado, o álcool em gel é o produto que apresenta a maior dificuldade de reabastecimento, porque a indústria não tem capacidade para atender os pedidos do mercado como um todo. Procurado, o Carrefour não se manifestou.

O presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Ronaldo dos Santos, informou que houve um salto de 34% nas vendas dos supermercados do Estado de São Paulo na terça-feira, 17, em relação ao mesmo período de fevereiro. Na avaliação dele, o problema está na velocidade da reposição dos itens na prateleira, o que é um problema de logística, e não de falta de produto na indústria - ao menos por enquanto.

Esse movimento foi constatado pela reportagem nas lojas. Além da grande quantidade de consumidores indo às compras em plena manhã quarta-feira, normalmente um dia fraco de vendas, a reportagem se deparou com inúmeros funcionários, tanto da indústria como dos supermercados, repondo mercadorias.

O presidente da Apas admitiu que os supermercados estão faturando mais com a crise, porém acredita que essa antecipação de compras para formação de estoques pode significar um consumo menor nas próximas semanas. No entanto, ele acredita que o ganho maior de vendas vem da migração para o preparo dos alimentos em casa. Como as pessoas estão deixando de sair de casa para comer fora, os supermercados estão ganhando a fatia de gastos que iriam para os bares e restaurantes.

 

Fonte: Estadão Conteúdo

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