Dólar futuro salta quase 4% e supera R$ 4,83 após revés fiscal do governo no Congresso
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A derrota sofrida pelo governo no Congresso Nacional na tarde desta quarta-feira fez o futuro de dólar da B3 disparar quase 4%, superando 4,83 reais, depois de as cotações no mercado à vista já terem mostrado forte alta pelo mau humor nos mercados globais após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o coronavírus uma pandemia mundial.
Ao término dos negócios, às 18h, o dólar futuro subiu 3,63%, a 4,8235 reais, após saltar 3,88%, para 4,835 reais.
O Congresso Nacional derrubou o veto presidencial a projeto que amplia o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), com impacto estimado em cerca de 20 bilhões de reais já no primeiro ano.
Com isso, o mercado enfrenta agora outro vetor de risco, do lado fiscal brasileiro, em meio ao caos nos mercados globais por causa do coronavírus. A incerteza sobre os passos de autoridades para conter os efeitos econômicos do surto de coronavírus pesou sobre o sentimento neste pregão.
"Estamos profundamente preocupados tanto com os níveis alarmantes de disseminação e gravidade quanto com os níveis alarmantes de inação. Fizemos, portanto, a avaliação de que o Covid-19 pode ser caracterizado como uma pandemia", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesusem, em coletiva de imprensa nesta quarta.
A declaração acirrou os ânimos de um mercado que já vinha com o sentimento bastante fragilizado e intensificou a venda de ativos de risco, como ações e moedas emergentes.
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York confirmou ingresso em território baixista (bear market), com tombo de pelo menos 20% desde a máxima recorde. E a principal referência do mercado de ações do Brasil desabou 7,64% nesta sessão, que viu os negócios serem interrompidos por novo circuit breaker, o segundo apenas nesta semana.
"Enquanto se entender que (as autoridades de governo) estão lavando as mãos com relação a suas responsabilidades, os mercados vão continuar tendo dificuldades para encontrar um chão firme", disseram estrategistas do Credit Suisse em nota a clientes.
Os profissionais estão "bearish" (com visão negativa) para o real, assim como para outras divisas que se beneficiam de ciclos de crescimento econômico, enquanto veem o dólar em queda frente a iene, franco suíço e euro, tidas como defensivas.
No fechamento das operações à vista, o dólar saltou 1,61%, a 4,7207 reais na venda, segunda mais alta cotação de fechamento da história, menor apenas que a do último dia 9 (4,7256 reais na venda).
Na máxima intradiária, a cotação bateu 4,7592 reais na venda. A volatilidade implícita nas opções de dólar/real --uma medida do grau de incerteza do mercado-- saltou ao pico desde o fim de outubro de 2018.
O UBS revisou sensivelmente para cima sua estimativa para a cotação do dólar ante o real ao fim deste ano, passando a ver a moeda em 4,5 reais, ante prognóstico anterior de 4,0 reais. "O real sofre com o crescimento (econômico) mais fraco, os termos de troca e a aversão a risco", disse Tony Volpon, economista do UBS.
A equipe econômica cortou sua projeção de crescimento econômico neste ano em 0,3 ponto percentual, a 2,1%. Mas algumas casas, como o UBS, já consideram cenários em que a expansão do PIB pode ficar abaixo de 1%.
Também o Bradesco elevou a expectativa para o dólar a 4,30 reais ao término de 2020. "O fortalecimento do dólar em escala global se soma a vetores domésticos conjunturais (frustração com atividade econômica de curto prazo) e estruturais (associados à realocação de portfólios derivada da queda do diferencial de juros entre Brasil e o resto domundo)", disse o banco em relatório em que alterou projeções para indicadores brasileiros.
No documento, o Bradesco destaca a importância do ajuste fiscal via corte de despesas. "As propostas de revisão das despesas obrigatórias do governo são indispensáveis para preservar a meta fiscal e manter o teto de gastos, possibilitando uma redução permanente do déficit primário e, consequentemente, da dívida bruta", afirmou o banco privado.
BC retoma leilão de dólar à vista com oferta de até US$ 1,5 bi nesta 5ª
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central fará nesta quinta-feira, dia 12 de março, oferta líquida de até 1,5 bilhão de dólares em moeda à vista, voltando a recorrer a essa ferramenta depois de nesta quarta ter utilizado contratos de swap cambial, numa sessão marcada por preocupações globais e reveses domésticos do lado fiscal que fizeram o dólar futuro saltar quase 4% e superar 4,80 reais.
O lote de até 1,5 bilhão de dólares em moeda à vista será ofertado entre 9h10 e 9h15.
O BC voltou a oferecer recursos das reservas nesta semana diante da disparada da volatilidade e da tensão no mercado de câmbio, seguindo deterioração nos mercados internacionais.
Apenas nesta semana, a autoridade monetária já vendeu 5,465 bilhões em dólar à vista, sendo 2 bilhões de dólares na terça-feira e 3,465 bilhões de dólares na segunda-feira --este o maior volume a ser liquidado em um único dia desde pelo menos o começo de maio de 2009.
Antes da atual rodada de leilões, desde 20 de dezembro do ano passado o BC não realizava esse tipo de operação --retomada em agosto de 2019 depois de uma década sem ser utilizada.
Entre agosto e dezembro de 2019, o BC colocou no mercado um total de 36,860 bilhões de dólares em moeda física.
Os atuais leilões de dólar das reservas têm ocorrido de forma alternada a ofertas de swap cambial. Nesta quarta, o BC vendeu todo o lote de 1 bilhão de dólares disponibilizado em swaps tradicionais --derivativo cuja colocação equivale a uma venda de dólar no mercado futuro de câmbio.
Neste ano, o BC já vendeu o equivalente a 10,50 bilhões de dólares em swaps cambiais --todo esse montante em colocações líquidas, ou seja, na forma de dinheiro novo.
Na segunda-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse que Banco Central interviria no câmbio com instrumentos e montante necessários para acalmar o mercado e promover a funcionalidade das operações.
O leilão de até 1,5 bilhão de dólares à vista previsto para quinta ocorrerá após o dólar interbancário subir 1,6% nesta quarta, enquanto contratos de dólar futuro na B3 saltarem quase 4%.
Além do exterior arisco, a pressão no mercado futuro, especialmente, refletiu um mau humor após sinais de acirramento na relação entre Congresso e Executivo, depois que parlamentares derrubaram veto presidencial a projeto que amplia o acesso ao BPC, com impacto estimado em 20 bilhões de reais no primeiro ano.