Rússia disse à Opep que novos cortes de produção não funcionariam
Por Olesya Astakhova e Katya Golubkova
MOSCOU (Reuters) - A forte queda de preços do petróleo verificada nesta semana havia se tornado inevitável, disse à Reuters nesta quarta-feira o vice-ministro de Energia da Rússia, acrescentando que cortes de produção da commodity deixaram de fazer sentido, uma vez que ainda não é claro o quão profundo será o impacto do coronavírus sobre a demanda.
Em reunião na semana passada, que culminou com o colapso do acordo entre a Rússia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para redução de oferta, a Opep propôs cortes adicionais de 1,5 milhão de barris por dia (bpd), pedindo que os russos realizassem um corte extra de 300.000 bpd.
Sem acordo com os russos, a Arábia Saudita tem ameaçado inundar o mercado com petróleo, o que levou os preços a uma forte queda na segunda-feira, que chegou a mais de 30%, com novo recuo nesta quarta-feira.
Pavel Sorokin, vice-ministro de Energia da Rússia, descreveu a tarefa de ampliar os cortes --que teria dobrado o compromisso de restrição de oferta do país para 600.000 bpd-- como tecnicamente difícil.
Ele afirmou que não havia sentido em novos cortes até que todos pudessem entender o quão acentuada pode ser a queda da demanda por petróleo.
"Nós não podemos lutar contra uma situação de queda de demanda quando não há clareza sobre qual ponto seria o fundo do poço (para a demanda)", disse Sorokin. Ele esteve em todas as reuniões conjuntas ao lado de seu chefe, o ministro Alexander Novak, e concedeu à Reuters a primeira entrevista desde os encontros da semana passada.
"É muito fácil ficar rodando em círculos quando, cortando uma vez, você entraria em uma situação ainda pior em, digamos, duas semanas: os preços do petróleo se recuperariam brevemente antes de cair de novo, à medida que a demanda continua a diminuir."
A Rússia propôs a extensão dos cortes de produção que já estavam em vigor na Opep+, aliança do país com o cartel, de 1,7 milhão de bpd, por pelo menos mais um trimestre, para que o real impacto do coronavírus sobre a demanda fosse avaliado.
A Opep, no entanto, não aceitou a sugestão. Com isso, a partir de 1º de abril, todos os produtores da Opep+ poderão bombear petróleo sem restrições.
"Nós vemos a (atual) situação do mercado como previsível, embora desagradável... (Mas) o mercado e as forças do mercado vão regulá-lo rapidamente", disse ele, acrescentando que a Rússia acredita que os preços encontrarão equilíbrio em torno de 45 dólares a 55 dólares por barril.