"Com reformas, país cresce mais de 2% em 2020", diz ministro da economia Paulo Guedes

Publicado em 04/03/2020 17:07 e atualizado em 05/03/2020 06:08

BRASÍLIA (Reuters) - A despeito do coronavírus, a economia brasileira vai crescer acima de 2% este ano se as reformas avançarem, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta quarta-feira, ressaltando que o país tem "uma dinâmica própria de crescimento".

"O que eu havia dito no início do governo? Primeiro ano vamos crescer 1%. Saiu 1,1%, então, está dentro do previsto. Segundo ano, prosseguindo reformas, nós vamos crescer acima de 2%", afirmou Guedes a jornalistas ao deixar o ministério.

O Produto Interno Bruto do país cresceu 1,1% em 2019, o desempenho mais fraco desde 2016, mostraram dados do Ibge divulgados nesta quarta.

Questionado se o crescimento superará 2% este ano mesmo diante do surto de coronavírus, Guedes confirmou. "Mesmo com o coronavírus", afirmou, acrescentando que o impacto econômico do surto é menor na economia brasileira pelo fato de o país ser menos integrado globalmente.

"O mundo está desacelerando rapidamente, e o Brasil está começando a reacelerar", afirmou o ministro.

"O Brasil não é uma folha ao vento, a sabor das ondas internacionais, Brasil tem uma dinâmica própria de crescimento. Vamos fazer as nossas reformas e vamos crescer", acrescentou.

Composição do PIB preocupa e evidencia urgência de reformas, dizem economistas

BRASÍLIA (Reuters) - O crescimento da economia brasileira em 2019 veio em linha com expectativas do mercado, mas economistas mostraram desconforto com a composição dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, que revelou retração do investimento e desaceleração do consumo, os dois fatores que sustentaram a atividade no ano passado.

A frustração com os números levou alguns economistas a reduzir sua projeção para PIB de 2020 nesta quarta-feira, reforçando movimento que já vinha ocorrendo desde a semana passada em meio a temores sobre o impacto da epidemia de coronavírus sobre a demanda e a produção globais.

O PIB brasileiro cresceu 0,5% no último trimestre do ano frente ao terceiro trimestre e acumulou alta de 1,1% no ano. Na comparação com o período de julho a setembro, os investimentos caíram 3,3% no quarto trimestre e o consumo das famílias teve alta de 0,5%, após um crescimento de 0,7% no terceiro trimestre.

Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, o fraco desempenho do consumo chamou particularmente a atenção tendo em vista os efeitos positivos que eram aguardados com a liberação de recursos do FGTS. Ela reduziu a expectativa de PIB para 2020 a 1,8%, de 2,2% antes.

"O que está mudando a perspectiva para 2020 é a não concretização da retomada do investimento no primeiro trimestre e também da produção, com a indústria também decepcionando. Isso não tem a ver com coronavírus", disse ela, avaliando que ainda é cedo para estimar o impacto do surto na economia brasileira.

Ao anunciar, em julho, regras que permitiram a liberação de parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o Ministério da Economia disse esperar que a iniciativa impulsionaria e economia em 0,35 ponto percentual em um prazo de 12 meses.

Srour também citou a decepção com o andamento da agenda econômica no Congresso e as turbulências políticas, com efeitos sobre a confiança, como fatores que estão pesando nas revisões do PIB.

"Apesar de o Congresso dizer que vai apoiar a agenda, a gente vê florescer muitas pautas bombas, o governo enrolado em assuntos que deveriam ser triviais, como a votação dos vetos do Orçamento, e as PECs que foram enviadas no ano passado e que completariam o ajuste fiscal estão atrasadas. A PEC tributária e a administrativa nem enviadas foram", disse ela.

André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, disse que, a partir dos novos dados, vai revisar "fortemente para baixo" sua projeção para o PIB de 2020, ante projeção de 3%. À Reuters, indicou que o novo patamar deve ser de "1,6% ou menos".

"Trabalhávamos com a hipótese que a Formação Bruta do Capital Fixo mantivesse o bom resultado, no entanto foi uma decepção os números apresentados", afirmou em nota a clientes, acrescentando que também previa um melhor resultado para o consumo das famílias.

Para a pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV/IBRE Luana Miranda, a queda do investimento no quarto trimestre joga ainda mais luz sobre a necessidade de reformas estruturais no Brasil para impulsionar a atividade em 2020.

"A consolidação do ambiente macro, a reforma tributária, isso é algo essencial para que os investidores venham", disse. "É preciso uma consolidação também no ambiente político, de modo que a incerteza política se reduza de forma consistente, isso atrapalha bastante decisões de investimento."

Nesse sentido, o estrategista da INVX Global Partners Eduardo Velho destaca que os próximos dois meses serão fundamentais para uma definição sobre o ritmo de evolução das reformas e da possibilidade de uma retomada mais consistente da economia.

Seu cenário central, que prevê crescimento de 1,92% este ano, considera que o pacto federativo e a reforma administrativa avançarão ao longo do ano e que os juros básicos, hoje na mínima recorde de 4,25%, cairão em pelo menos 0,25 ponto percentual.

"Agora com certeza abre espaço para cair um pouco mais os juros, sem comprometer a meta (de inflação)", afirmou Velho. "O que também vai contribuir para uma melhora do consumo das famílias."

 

GRADUALISMO

Velho pondera que o crescimento do ano passado está compatível com o PIB potencial do país e aponta para a continuidade de um crescimento modesto, mas sustentado.

Carlos Lopes, economista do banco BV, afirma que sua projeção ainda é de recuperação gradual para 2020, ainda que a expectativa de crescimento de 2,5% vá ser revisada para menos de 2% por causa dos efeitos do coronavírus e de dados fracos da atividade nos primeiros dois meses do ano.

Os números do PIB de 2019, segundo Lopes, "não mudam a história". "Vemos o setor de serviços ainda resiliente e a indústria fraquejando, sem uma tendência clara de recuperação."

Pelo lado da oferta, Miranda, da FGV/IBRE, chamou atenção também para o desempenho ainda fraco da construção civil no quarto trimestre, apesar da melhora que havia sido apontada pelos indicadores antecedentes, reforçando incertezas para o desempenho do setor neste ano.

A construção cresceu 1,6% em 2019, após cinco anos sem resultados positivos, mas no quarto trimestre amargou uma retração de 2,5% sobre os três meses anteriores.

Fonte: Reuters

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