Cenário externo empurra Ibovespa para 2º dia de queda e para 2º mês de baixa
Pelo segundo mês consecutivo, o Ibovespa caminha para encerrar com perdas, só que desta vez o estrago deve ser maior que o verificado em janeiro, quando acumulou declínio de 1,63%. As crescentes notícias de disseminação da epidemia de coronavírus em vários países continuam reforçando temores de desaceleração da economia mundial e no setor corporativo. E, pelo segundo dia seguido, a B3 deve amargar perdas consideráveis, mas talvez não na intensidade da véspera, quando fechou em queda de 7%.
Até as 11h18 desta quinta-feira, 27, a variação negativa acumulada em fevereiro é de 8,52%.
Na quarta, recorda, Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença DTVM, a retração foi uma correção em relação às perdas em torno de 6% no mercado acionário norte-americano na segunda e na terça-feira. Nesses dias, a B3 ficou fechada por conta do feriado de carnaval.
"No entanto, o quadro negativo prossegue com várias empresas fazendo alertas em relação a possíveis reduções em seus lucros", diz o operador que não descarta o principal índice à vista da B3 caindo para os 100 mil pontos em breve.
O ambiente externo desfavorável para os emergentes e incertezas políticas internas, que podem comprometer a agenda econômica, devem o tom negativo dos últimos dias, reforça em nota a MCM Consultores.
Para William Teixeira, sócio e head de Renda Variável da Messem Investimentos, a instabilidade política é um fator a mais de cautela entre investidores, que pode interferir na evolução da agenda reformista. "Se não atrapalha totalmente, coloca uma pedra na frente. O governo acaba se atropelando nas palavras, mas é preciso bom senso. É importante a sintonia com o Congresso", diz. Esta semana, vídeos públicos pelo presidente Jair Bolsonaro conclamavam a população para se manifestar contra o Congresso no dia 15.
Além das ações de companhias ligadas a commodities, as do setor de transporte são as que mais estão sofrendo os impactos do espalhamento de coronavírus pelo globo, sobretudo as aéreas, já que muitas pessoas estão postergando ou mesmo deixando de planejar viagens. "Enquanto não tivermos uma noção clara dos efeitos da epidemia sobre a economia mundial, o cenário deve prosseguir incerto, e provocando perdas", afirma Monteiro.
Perto de 11h30, Azul PN cedia 5,60%, enquanto Gol PN caía 2,93%. Já Ambev ON liderava a lista de maiores perdas (-9,10%), após informar balanço aquém do esperado. A companhia registrou lucro líquido atribuído ao controlador de R$ 4,099 bilhões no quarto trimestre de 2019, alta de 22% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, ficou quase 7% abaixo do previsto por analistas. Vale On tinha declínio de 2,76% e Petrobrás perto de 3,00%.
Hoje, as cotações do minério e do petróleo já sugerem um pouco o que pode ser o dia para as ações relacionadas a matérias-primas. No porto de Qindgdao, na China, o minério de ferro fechou em queda de 2,70% nesta quinta-feira, a US$ 85,72 a tonelada. Em Londres e em Nova York, o petróleo recuava entre 4,84% e 4,02%, respectivamente, perto de 11h30. Neste horário, o Ibovespa caía 1,78%, aos 103.839,49 pontos. Em Nova York, a queda era perto de 2,00%.
Entretanto, Teixeira pondera que mantém sua projeção de Bolsa aos 140 mil pontos no fim de 2020. "É cedo para mudar. Precisamos esperar para saber os reais impactos na economia. Esperamos que isso coronavírus seja passageiro, o ciclo tende a se encerrar", estima.