China começa a esvaziar regiões; OMS volta a avaliar se declara coronavírus emergência global

Publicado em 29/01/2020 18:07

PEQUIM/GENEBRA (Reuters) - Governos estrangeiros retiraram seus cidadãos do epicentro do surto do coronavírus na China nesta quarta-feira, enquanto o número de mortos pela doença saltou para 133 e a Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou "grave preocupação" sobre a contaminação de pessoa para pessoa em três outros países. 

A OMS afirmou que seu Comitê de Emergência se reuniria novamente a portas fechadas na quinta-feira para decidir se a rápida propagação do novo vírus a partir da China constitui agora uma emergência global. 

"Nos últimos dias o progresso do vírus, especialmente em alguns países, especialmente na transmissão de humano para humano, nos preocupa", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra, citando Alemanha, Vietnã e Japão como os países que registraram transmissão de pessoa a pessoa. 

"Embora os números fora da China ainda sejam relativamente pequenos, eles possuem o potencial para um surto muito maior." 

Foram registrados 6.065 casos do vírus análogo ao da gripe em 15 países pelo mundo --todos, exceto cerca de 70, na China-- de acordo com os últimos números da OMS. Todas as mortes até agora aconteceram na China, onde a Comissão Nacional de Saúde informou 132 fatalidades até o final da terça-feira. Mais uma morte foi reportada na província de Sichuan na quarta-feira. 

A situação permanece "sombria e complexa", disse o presidente chinês, Xi Jinping, que na terça-feira havia prometido derrotar o vírus "demoníaco". O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ter falado com Xi e seu governo e que estava trabalhando de perto com a China para conter o surto. 

Algumas grandes companhias aéreas suspenderam voos para a China, e um importante economista previu um grande impacto do surto do vírus no crescimento econômico do país.

O painel da OMS composto por 16 especialistas independentes recusou duas vezes na semana passada declarar a situação como emergência internacional, mas irá reavaliar a situação novamente na quinta-feira. 

"Estamos em uma conjuntura importante neste episódio. Acreditamos que essas cadeias de transmissão ainda possam ser interrompidas", disse Mike Ryan, diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS. 

Ryan também elogiou a resposta da China ao surto do coronavírus: "Estão tomando medidas extraordinárias diante de um desafio extraordinário". 

Em muitas das cidades chinesas, as ruas estavam quase completamente desertas. Atrações turísticas estão fechadas e lojas da rede de cafés Starbucks exigiam que as pessoas medissem suas temperaturas e usassem máscaras. 

"É a minha primeira viagem à Ásia, me sinto muito azarada", disse a turista brasileira Amanda Lee, de 23 anos, que estava encurtando sua viagem. "Eu não consegui ver os lugares que gostaria, como a Grande Muralha." 

Quase todas as mortes até agora aconteceram na província central de Hubei, que abriga população de cerca de 60 milhões de pessoas e se encontra agora virtualmente isolada. O vírus surgiu no mês passado em um mercado de animais selvagens em Wuhan, capital da província.

  • Equipe médica trata paciente com pneumonia causada por novo coronavírus em hospital de Wuhan, na China 27/01/2020 China Daily via REUTERS

  • Pequim confirma mais 9 casos de coronavírus; número na China passa dos 6 mil

    São Paulo - Pequim confirmou nesta quarta-feira, 29, mais nove casos confirmados de contaminação por coronavírus, elevando para 111 o número de infectados na cidade, informa o jornal chinês Global Times. Em Hong Kong, de acordo com o jornal South China Morning Post, 10 casos já foram confirmados, dois deles nesta quarta-feira.

    O número de pessoas infectadas na China já passou dos seis mil, superando o total registrado durante a crise da Sars, entre 2002 e 2003, que foi de 5.327.

    Segundo a TV chinesa CGTN, já são 6.078 os infectados no país asiático. As mortes permanecem em 132.

    Globalmente, as contaminações por coronavírus já foram confirmadas em 15 países, além da China.

    São eles Tailândia, Japão, Malásia, Cingapura, Austrália, Estados Unidos, França, Alemanha, Coreia do Sul, Canadá, Vietnã, Camboja, Nepal, Sri Lanka e Emirados Árabes.

    A companhia aérea British Airways anunciou nesta quarta que cancelou seus voos com destino à China continental.

    A United Airlines informou na terça que decidiu suspender rotas para o país.

    Também a alemã Lufthansa decidiu nesta quarta-feira suspender seus voos para e da China até o dia 9 de fevereiro.

    Brasil tem 9 casos suspeitos de coronavírus, diz Ministério da Saúde

    Brasília - O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira, 29, a existência de nove casos suspeitos de infecção pelo coronavírus no Brasil, mas sem confirmação de nenhum deles. Os dados foram atualizados nesta quarta-feira pela pasta. Segundo o ministério, diariamente, haverá um boletim de atualização divulgado às 16h.

    Além dos casos já divulgados em Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), estão sendo investigadas suspeitas no Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Santa Catarina.

    No total, a pasta foi notificada de 33 casos. Mas apenas pacientes que apresentam sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar e têm histórico de viagem para a China nos últimos 14 dias, mesmo antes de apresentarem os possíveis sinais de infecção, são considerados suspeitos.

    Os pacientes que estão sob investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a divulgação do resultado dos exames. Outros quatro 4 casos foram descartados pelo governo.

    Saúde: Não haverá bloqueio de pessoas que vêm da China

    Brasília - O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, afirmou nesta quarta-feira, 29, que não haverá bloqueio de brasileiros que retornem de viagem da China, epicentro da infecção do coronavírus.

    A expectativa do governo é que haja redução do fluxo de viagens para o país asiático. "Esse número vai reduzir, pois a recomendação é que os brasileiros pensem três vezes antes de marcarem uma viagem para o país. Isso diminui o número de retornos", afirmou.

    O governo também espera que haja menos chineses viajando para o Brasil nos próximos dias. Isso porque o governo chinês fez recomendações sobre viagens para o exterior para a população.

    "Temos a informação de que essa recomendação pode mudar de status e ter uma restrição maior por parte do país. Mas não é atribuição nossa e não haverá interferência nessa questão", afirmou.

    Segundo dados apresentados pelo ministério, foram confirmados 6.065 casos no mundo. Desse total, 5.997 foram China, onde o vírus já causou a morte de 132 pessoas. Outros 68 casos foram identificados em outros 15 países. No Brasil, nenhum caso foi confirmado até o momento. Os dados atualizados apresentados hoje pelo Ministério da Saúde são de que há no País nove pacientes com suspeita do coronavírus, mas nenhuma confirmação.

    Surto do novo coronavírus poderá atingir seu pico máximo em uma semana ou 10 dias, diz especialista

    Zhong Nanshan, renomado cientista respiratório chinês, dá entrevista à Xinhua em Guangzhou, Província de Guangdong, no sul da China, em 28 de janeiro de 2020. (Xinhua/Liu Dawei)

    Guangzhou, 29 jan (Xinhua) -- O surto do novo coronavírus (2019-nCoV) poderá atingir seu pico máximo em uma semana ou cerca de 10 dias, disse nesta terça-feira o famoso especialista chinês em doenças respiratórias, Zhong Nanshan, em entrevista exclusiva à Xinhua.

    "É muito difícil calcular definitivamente quando o surto atingirá seu pico máximo. Mas acredito que em uma semana ou cerca de 10 dias atingirá o clímax e depois não haverá aumentos de grande escala", indicou Zhong.

    Zhong é chefe de uma equipe nacional de especialistas estabelecida para o controle e prevenção da pneumonia causada pelo novo coronavírus e acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia.

    "Existem duas chaves para abordar a epidemia: a detecção precoce e o isolamento rápido. São os métodos mais primitivos e mais efetivos", assegurou.

    Zhong disse que a febre e fadiga continuam sendo os sintomas típicos da infecção com o novo coronavírus para a maioria dos pacientes.

    Entre 10 e 14 dias é um bom período para o isolamento e a observação: quando o período de incubação termina, quem adoece receberá tratamento oportuno e quem não, simplesmente estará bem.

    O especialista sugeriu que os hospitais não só contem com especialistas em doenças infecciosas mas também com especialistas no tratamento de casos severos para salvar melhor os pacientes.

    Epidemiologicamente, o novo coronavírus é homólogo ao vírus descoberto em um tipo de morcego em 2017, disse Zhong, acrescentando que o 2019 nCoV provavelmente tem um anfitrião intermediário que poderia ser um certo tipo de animal selvagem.

    "O surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) durou cerca de seis meses, mas eu não acredito que o surto do novo coronavírus durará tanto tempo", disse Zhong.

    O país tomou uma série de medidas poderosas, especialmente a detecção precoce e o isolamento rápido. "Nós temos plena confiança que vamos prevenir um grande surto ou a sua recorrência desde que as duas medidas estejam em vigor, embora nós ainda precisemos de muita pesquisa científica", disse.

    Observando a importância de Wuhan em reduzir as infecções dentro dos hospitais, Zhong disse que ele apoia a construção de hospitais provisórios na cidade para controlar a doença infecciosa.

    Zhong disse que a ativação da resposta de emergência de nível superior de saúde pública visa reduzir a chance de infecção.

    O desenvolvimento de vacina deve precisar de três ou quatro meses, ou mais tempo, disse Zhong. "Atualmente os cientistas estão acelerando a pesquisa de anticorpos do vírus, mas é necessário tempo."

    "Com a ajuda de todo o país, Wuhan, uma cidade heroica, se recuperará", destacou Zhong.

 

Fonte: Reuters/Agencia Estado/Xinhua

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Brasil condena ataques do Irã contra Israel
Campos Neto cita taxa neutra de 4,75% do Brasil, maior que em outros países
Dólar à vista cai após Moody's elevar nota do Brasil
Ibovespa fecha em alta com ajuda de Moody's e commodities
Taxa futuras de juros caem após Moody's elevar nota de crédito do Brasil
Juros estavam "fora de sincronia" antes de corte do Fed e luta contra inflação ainda não terminou, diz Barkin