Alta da carne não vai impedir BC de fazer novo corte de juros, diz consultoria inglesa Oxford Economics

Publicado em 11/01/2020 10:34

São Paulo - A alta da carne, que pressionou a inflação em 2019, não vai impedir o Banco Central de fazer novo corte de juros, avalia a consultoria inglesa Oxford Economics. A previsão da consultoria inglesa é que ocorra nova redução da taxa básica na reunião de fevereiro do Comitê de Política Monetária (Copom), de 0,25 ponto porcentual. A Oxford vê espaço ainda para cortes adicionais pela frente, mas acredita que esta deve ser a última redução, com a Selic ficando em 4,25%.

A Oxford destaca que o IPCA de 2019, que subiu 4,31%, acabou ficando acima da meta de inflação do BC, de 4,25%. Mas a culpa foi quase que totalmente da carne, em meio a maior demanda da China por conta da febre suína. Apenas em dois meses, a carne subiu 28% no Brasil, observa a consultoria em relatório.

"Nossas estimativas sugerem que esse choque adicionou 0,7 ponto porcentual ao IPCA", ressalta o economista da Oxford para a América Latina, Marcos Casarin. "Com a provável reversão deste choque nos próximos dois meses, esperamos que a inflação caia de volta para um nível abaixo da meta em 2020", completa.

A consultoria observa que o núcleo do IPCA (excluindo os preços mais voláteis), que ficou em 2,8% em 2019, permanece abaixo do centro da meta do BC. O relatório destaca ainda que a alta do dólar e o aumento da tensão no Oriente Médio nos últimos meses de 2019 também pesaram na inflação.

'Inflação não causa preocupação, pois foi concentrada', diz coordenador do IPC

Rio - O cenário de inflação em 2020 não preocupa, na avaliação do pesquisador André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), porque a aceleração da inflação no fim de 2019 foi concentrada em poucos itens.

A carne, tanto vermelha quanto de aves e de porco, os bilhetes lotéricos da Caixa e os combustíveis foram os vilões dessa aceleração final da inflação, que acabou levando o IPCA, índice oficial calculado pelo IBGE, a fechar o ano passado com alta de 4,31%, ligeiramente acima da meta de 4,25% perseguida pelo Banco Central (BC).

Justamente por serem poucos os vilões, o quadro climático favorável e a demanda fraca em meio à recuperação lenta da economia deverão manter a inflação comportada em 2020, disse Braz. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que foi destaque na inflação ao consumidor em 2019?

A carne chamou muito atenção, a taxa do IPCA acumulado em 12 meses até outubro estava com alta de 2,54%. Aí, quando observamos as variações no último trimestre do ano, há uma aceleração mais forte dos preços, principalmente em torno das proteínas. Estamos falando muito da carne bovina, mas a carne de aves e a suína também subiram bastante. Não na magnitude da bovina, mas avançaram bastante também.

Só as carnes foram as vilãs?

Em paralelo, tivemos também, em novembro, o reajuste dos jogos lotéricos. Pouco ouvimos falar disso, mas ali estão as loterias da Caixa. Elas não sobem de preço todo ano. A Caixa fica alguns anos sem reajustar e, aí, quando promove o reajuste, é um choque e tanto. Este ano, o reajuste médio foi de 40%. Mesmo que tenha um peso pequeno, faz diferença. Dois terços desse reajuste ficaram em novembro e um terço, em dezembro. Fora isso, tivemos também a aceleração do preço da gasolina e do etanol, que ajudaram um pouco a engrossar esse caldo.

A aceleração da gasolina e do etanol não tem nada a ver com as tensões recentes no Oriente Médio, certo?

Não. Está por trás disso aquela desvalorização cambial, em que o dólar chegou a R$ 4,20 e tantos (em novembro). Agora, o câmbio está mais estável, em R$ 4,09, mas ele estava R$ 3,99 num dia (até 5 de novembro) e, no outro (em 11 de novembro), já estava em R$ 4,15. Tanto o câmbio quanto o preço do barril do petróleo ajudam a promover reajustes na gasolina.

Então é um choque passageiro? Preocupa a inflação como um todo?

Não preocupa. O que preocupa a inflação de um modo geral é quando os preços começam a aumentar de maneira mais persistente e espalhada, quando começamos a perceber que a inflação não está concentrada em carnes, gasolina e jogos lotéricos, mas está em tudo. Quando a inflação espalha muito, com o processo inflacionário persistindo em vários segmentos, é quando precisamos acender a luz amarela. Só que ela está muito concentrada em itens que sabemos explicar por que subiram.

E como fica a inflação de 2020, diante desses itens que subiram muito?

É provável que as carnes continuem na pauta de desafios, mas o resto é tranquilo.

Tranquilo por quê?

Não temos nenhuma previsão meteorológica que desafie a agricultura. Não é ano de El Niño nem de La Niña ou de falta de água. Isso é bom para a agricultura e bom para a geração de energia elétrica, porque vamos poder contar com os reservatórios (das usinas hidrelétricas) cheios. Então, nesses pontos, não teremos nem pressão de preços administrados (por causa da conta de luz) nem de alimentos. Além disso, como a inflação de 2019, apesar de um pouquinho acima da meta, foi baixa, para 2020, a inércia inflacionária é menor, ou seja, o reajuste de preços indexados será feito por uma inflação mais baixa, e isso não realimenta o processo inflacionário.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Agência Estado

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