Prioridade do governo é corrente de comércio e não saldo comercial, diz secretário

Publicado em 02/01/2020 16:27

BRASÍLIA (Reuters) - O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, disse nesta quinta-feira que a "métrica" da política comercial brasileira é a corrente de comércio, não o saldo da balança comercial.

Dados divulgados pelo ministério há pouco mostram que, em 2019, o saldo comercial do país recuou 20,5% frente ao ano anterior e foi o mais baixo desde 2015.

Em entrevista à imprensa, Ferraz ressaltou que o Brasil, como o resto do mundo, está sendo influenciado negativamente por má conjuntura e baixo dinamismo comercial.

Ele frisou que as vendas externas brasileiras foram prejudicadas no ano passado pelo aprofundamento da crise argentina --com impacto avaliado em 5,2 bilhões de dólares sobre as exportações de manufaturados-- e da crise da febre suína na China --com impacto de 6,7 bilhões de dólares sobre os embarques de soja.

Em apresentação, o ministério informou que o governo espera a conclusão até julho do acordo comercial Mercosul-Canadá e, até dezembro, dos acordos Mercosul-Coreia do Sul, Mercosul-Cingapura e Brasil-México.

Obtenção de superávit comercial não é objetivo, diz secretário Lucas Ferraz

Depois de anunciar uma redução no saldo da balança comercial em 2019, o secretário de comércio exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, afirmou que o objetivo do governo federal não é aumentar esse saldo, mas ampliar a corrente total de comércio do país, que é a soma das importações com a exportações. No ano passado, essa cifra foi de US$ 401,34 bilhões - um valor 5,7% menor em relação ao ano anterior.

"A nossa variável objetiva seria o aumento da chamada corrente de comércio do país sobre o PIB [Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país]. Então, a gente tá visando aumentar a exportação mais importação sobre o PIB nacional. Hoje, esse número gira ao redor de 24%, 23%, a gente sabe que numa comparação internacional isso é muito aquém do que se esperaria das dimensões da economia brasileira, estamos falando da oitava economia do mundo. Ele é muito mais um parâmetro para macroeconomia do que para temas de comércio", disse Ferraz.

Em países de economia semelhante ao Brasil, como México, o percentual da corrente de comércio sobre o PIB é superior a 70%. Na China, ultrapassa 40% e no Chile chega aos 30%. "Estamos bem aquém. A média mundial é maior para países similares ao Brasil", acrescentou o secretário.

Segundo Ferraz, o governo não deve se preocupar em obter saldos comerciais muito positivos e citou o caso dos Estados Unidos, país que tem déficit em sua balança comercial. "O foco central da agenda comércio do governo Jair Bolsonaro não passa pela obtenção de saldos comerciais. O nosso objetivo fundamental é aumentar o grau de integração da economia brasileira e com isso contribuir para o aumento da nossa produtividade, com o crescimento de longo prazo, geração de emprego e renda. Essa é a nossa meta principal. Se saldo comercial fosse importante, eu costumo dizer sempre isso, os Estados Unidos seria economia com pior desempenho comercial do planeta, porque há décadas eles têm déficit comercial na sua balança. Fundamentalmente, balança comercial é o resultado líquido de quanto um país poupa e do quanto ele investe", disse.

Balanço positivo

Mesmo com um resultado pior na balança comercial brasileira no ano passado, o secretário de Comércio Exterior fez um balanço positivo sobre 2019. Ele citou a conclusão de acordos comerciais importantes, como o do Mercosul com a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, bloco que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein).

"Basicamente estamos falando de 25% do PIB global, 780 milhões de consumidores, um acordo extremamente importante, que levou 20 anos para ser negociado e conseguimos concluir em 2019. Concluímos o acordo Mercosul-Efta, uma das regiões mais prósperas do mundo, com PIB [Produto Interno Bruto] do tamanho do México", afirmou.

Ferraz também mencionou o estágio avançado das negociações para um acordo de livre comércio com o Canadá, Coreia do Sul e Singapura, que devem ser assinados em 2020. Ele ainda citou a retomada do acordo automotivo com o México e a conclusão de acordos semelhantes com Paraguai e Argentina.

Fonte: Reuters/Agencia Brasil

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