Retenciones: Confederaciones Rurales Argentinas declara estado de alerta e de mobilização

Publicado em 18/12/2019 16:32
Principais cadeias produtivas da Argentina se manifestam: "não há espaço para mais impostos"

As novas informações sobre o aumento das retenciones não param de chegar e, nesta quarta-feira (18), em uma coletiva de imprensa, o ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán, anunciou um aumento extra à tarifações sobre os principais cultivos do país. A notícia parte do site argentino Chacra. 

No projeto de Guzmán, já enviado ao Congresso, as taxas para a soja chegam a 33% e 15% para grãos e cereais, um aumento de 3% em relação aos números anteriores. Para produtos agroindustriais das economias regionais, as retenciones deverão ser mantidas nos 5%. 

No momento da eleição de Alberto Fernández para o lugar de Maurício Macri como presidente da Argentina, o mercado já especulava o aumento das retenciones como uma das principais ferramentas que seria utilizada para aumentar a arrecadação do país e ajuda na amenização da crise. Em menos de 10 dias após a posse, as primeiras notícias começam a chegar. 

Relembre:

>> Política e Clima: Os desafios do produtor da Argentina para finalizar 2019 e começar 2020

De outro lado, o grupo das Confederaciones Rurales Argentinas (CRA) já declarou estado de alerta e de mobilização depois das medidas anunciadas pela equipe de Fernández. Em um comunicado oficial, expressando toda sua preocupação com o presente momento, a insituição disse: 

"Estamos profundamente preocupados com as últimas medidas tomadas pelo governo e com as declarações feitas após a reunião realizada ontem com autoridades do gabinete nacional. 

Na entidade, muitos líderes e presidentes de confederações ficaram surpresos com o rápido processo e a a falta de consulta (ao setor) da medida, apesar dos esforços feitos pela entidade nesse sentido.

Por tudo isso, o CRA se declara em estado de alerta e mobilização". 

Há alguns dias, o presidente da CRA, Jorge Chemes, já havia se manifestado com crescente preocupação e descontentamento sobre as novas medidas. "O governo nacional começou mal com o campo. A medida é um freio à produção, aos invesitmentos e á criação de empregos". Mais do que isso, disse ainda que "havia um compromisso de diálogo (antes do anúncio de tarifas mais altas) que não se cumpriu. 

Da mesma maneira, as quatro principais cadeias produtivas da agroindústria argentina também expressaram sua preocupação frente às tarifas mais altas em sua reunião de final de ano realizada nesta quarta-feira. Estiveram reunidas Acsoja (Associação da Cadeia de Soja Argentina), Maizar (Associação Milho e Sorgo Argentino), Asagir (Asssociação Argentina de Girassol) e Argentrigo (Associação Argentina de Trigo) deixando claro, como noticia o portal local Infocampo, um temor sobre impostos mais altos e a demanda de uma redução dos 'custos políticos'. 

No evento, o novo secretário de Agricultura do país, Julián Echazarreta, assegurou o setor que a intenção do governo "não é chegar aos limites" em relação ao aumento das tarifas sobre as exportações. Mais do que isso, o representante do governo diz que o objetivo é intensificar o diálogo com as lideranças do agronegócio argentino para que se chegue a um meio-termo. 

"A decisão política não é atingir esses limites, mas encontrar uma solução temporária para tirar proveito dos recursos e superar a insegurança alimentar", disse Echazarreta, atualmente vice-presidente da Bolsa de Cereais de Buenos Aires e diretor da ACA (Associação das Cooperativas Argentinas). Complementando, o secretário classificou as retenciones como "tarifas antipáticas", e voltou a dizer que o objetivo é fazer com que o aumento das taxas não seja tão pesado como parece agora. "A racionalidade irá nos guiar". 

Na outra ponta, as cadeias representadas no encontro se posicionaram dizendo "não haver espaço para novos impostos" e pediram ainda que o governo "busque outras alternativas" para aumentar sua arrecadação e antes de efetivar o aumento das retenciones. Afinal, suas perspectivas já indicam uma menor produção ao passo em que isso comece a valer. 

"Os impostos de exportação acabam sendo transferidos logicamente pela cadeia, impactando mais fortemente no setor primário, justamente o elo mais relacionado ao desenvolvimento territorial. Se o elo básico do agronegócio for decapitalizado através do aumento da pressão tributária, a produção total cairá. Pequenos produtores e regiões periféricas serão prejudicados, removendo-os do sistema produtivo" disseram os representantes da soja, milho, sorgo, trigo e girassol. 

Ainda nesta semana, o Notícias Agrícolas entrevistou Sebastian Gavalda, diretor da Globaltecnos, direto de 9 de Julio, na Argentina, para entender o mecanismo de alta das retenciones, em que período pode acontecer e de que forma poderia deixar o produtor argentino cada vez menos competitivo. Veja:

>> Com elevação nas taxas de exportação, produtor argentino pode perder, em média, US$20/t na soja,

Em uma publicação recente, o jornal La Nación mostrou que diante dos atuais patamares de preços das commodities e as produtividades médias das cinco últimas safras, não será possível que o produtor argentino cubra seus custos de produção em culturas como o milho e o trigo caso as retenciones, para ambos os produtos, se confirmem em 12%. 

Com informações dos portais Infocampo e Chacra

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Na Reuters: Dívida "insustentável" da Argentina não deveria ser difícil de reestruturar, diz chefe do BC local

BUENOS AIRES (Reuters) - A dívida da Argentina é "insustentável", mas não deveria ser difícil de se reestruturar, considerando que o problema está principalmente nos cronogramas de pagamento e nos valores dos cupons de juros, disse o presidente do banco central, Miguel Ángel Pesce, em discurso nesta quarta-feira.

Ele também chamou as taxas de juros argentinas de "exorbitantes" e disse que "certamente" cairiam no curto prazo. A taxa básica de juros do banco central é de cerca de 63%, uma vez que os formuladores de política monetária tentam aliviar a inflação, estimada em 55% este ano.

Pesce afirmou ainda que medidas --entre as quais um projeto de lei apresentado pelo governo e apelidado de "Solidariedade Social e Reativação da Produção"-- precisam ser aprovadas pelo Congresso para conter a inflação e preparar o cenário para taxas de juros mais baixas.

"Estamos novamente com um problema de insustentabilidade de nossa dívida, mas é um problema de agenda de pagamento e valor de cupom que não será tão difícil de resolver", disse Pesce, que iniciou os trabalhos na semana passada após o novo presidente da Argentina, o peronista moderado Alberto Fernández, ter assumido o poder.

Pesce disse que as transferências do banco central de reservas em dinheiro para o Tesouro devem ser as menores possíveis e durar o menor tempo possível.

O governo precisa de dinheiro para pagar uma melhora no bem-estar, prometida por Fernández, e renegociar cerca de 100 bilhões de dólares em títulos e empréstimos soberanos.

Um grupo de cerca de 80 detentores de títulos da Argentina criou formalmente um grupo de credores antes das negociações de reestruturação da dívida, que devem começar em breve.

(Reportagem de Eliana Raszewski e Cassandra Garrison)

 

 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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