Ibovespa fecha quase estável com cena comercial ofuscando PIB acima do esperado no Brasil

Publicado em 03/12/2019 19:02

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou com o Ibovespa praticamente estável nesta terça-feira, conforme receios relacionados ao comércio global contrabalançaram números melhores do que o esperado da economia brasileira.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa teve variação positiva de 0,03%, a 108.956,02 pontos. O volume financeiro da sessão somou 17,4 bilhões de reais.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a adicionar volatilidade nos mercados ao afirmar nesta terça-feira que um acordo comercial com a China pode ficar para depois da eleição presidencial norte-americana, em novembro de 2020.

"Eu não tenho prazo", disse Trump a repórteres em Londres, onde participava de reunião com líderes da Otan, enfraquecendo esperanças de uma rápida solução para a disputa que pesa sobre a economia mundial.

Um dia depois de ameaçar restabelecer tarifas para aço e alumínio da Argentina e Brasil, Trump também afirmou que as coisas podem ficar bastante difíceis com a União Europeia (UE) a menos que o bloco melhore as relações comerciais.

Em Wall Street, os comentários respaldaram ajustes nos principais índices. O S&P 500, que renovou máximas históricas na semana passada, caiu 0,66%.

As bolsas na Europa também terminaram o dia com perdas.

Mas o cenário externo foi amortecido pelo crescimento acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que cresceu 0,6% no terceiro trimestre, na base sequencial, acima da previsão média de analistas ouvidos pela Reuters, de 0,4%.

"Mais uma vez superando a estimativa de consenso, a aceleração do crescimento do PIB no Brasil reforçou a visão de que a atividade econômica deve realmente ver melhores dias pela frente", escreveu a equipe do Bradesco BBI.

Na visão do economista Dalton Gardiman e equipe, a melhoria significativa do consumo das famílias e o crescimento contínuo do investimento sugerem que a confiança do setor privado cresceu e deve poder para continuar liderando o crescimento do PIB.

Eles ponderaram, contudo, que os gastos e as exportações do governo provavelmente não ajudarão promover resultados da atividade econômica nos próximos trimestres, devido aos desafios fiscais do Brasil e ao arrefecimento global atividade econômica.

A equipe do Bradesco BBI revisou estimativa de crescimento do PIB em 2019 para 1,1% (de 0,9%) após os dados, mas manteve projeção de expansão de 2,3% para 2020.

DESTAQUES

- VALE ON caiu 1,79%, acompanhando o movimento de mineradoras e siderúrgicas no exterior em meio ao noticiário mais negativo sobre o comércio global, com CSN recuando 3,77%, GERDAU PN perdendo 2,29% e USIMINAS PNA cedendo 0,92%, após ganhos na véspera.

- PETROBRAS PN e PETROBRAS ON cederam 0,31% e 0,29%, respectivamente, apesar da melhora dos preços do petróleo no mercado global.

- SMILES ON desabou 8,85%, com as cotações tocando mínimas desde 2018, após a administradora de programa de fidelidade estimar na véspera desaceleração de receitas e queda de margens em 2020. O "pesadelo está se tornando realidade", disse o Bradesco BBI em relatório. GOL PN, controladora da Smiles, subiu 4,01%.

- BANCO DO BRASIL ON avançou 2,02%. Agentes financeiros citaram notícia do jornal O Globo de que a equipe econômica se prepara para começar um processo que pode levar à privatização do BB. Autoridades do governo e o próprio presidente-executivo do banco já sinalizaram esse objetivo, mas ressalvaram as dificuldades para os planos avançarem. BB SEGURIDADE, controlada pelo BB, subiu 3,88%.

- BRADESCO PN avançou 0,36%. ITAÚ UNIBANCO PN ganhou 0,03%. SANTANDER BRASIL caiu 0,34%, enquanto BTG PACTUAL UNIT recuou 0,99%.

- MRV ON fechou em alta de 7,16%, tendo de pano de fundo expectativas de que o governo anuncie ainda neste mês a reformulação do programa habitacional Minha Casa Minha Vida. O índice do setor imobiliário avançou 1,8%.

- VIA VAREJO ON subiu 3,6%, engatando a nona sessão seguida de alta, maior série de ganhos da história do papel, com a valorização acumulada no período superando 25%. De pano de fundo, entre outros fatores, relatos de desempenho forte da varejista na Black Friday. No setor, B2W ON avançou 1,62%, mas MAGAZINE LUIZA ON cedeu 0,73%.

- HYPERA ON recuou 2,05%. O analista Thiago Macruz, do Itaú BBA, cortou a recomendação da ação para 'market perform' após evento da empresa com analistas e investidores na véspera, com preço-alvo de 35 reais para o final de 2020, apoiado, entre outros fatores, em uma avaliação pouco inspiradora, dada as perspectivas de crescimento da empresa.

- NOTRE DAME INTERMÉDICA subiu 2,42%. A empresa anunciou na sexta-feira que o conselho de administração aprovou oferta de até 87,75 milhões de ações com esforços restritos de colocação. A precificação está prevista para 11 de dezembro.

Wall St fecha em baixa com menor otimismo comercial

NOVA YORK (Reuters) - Os mercados de ações dos Estados Unidos fecharam em baixa pela terceira sessão consecutiva nesta terça-feira, depois que comentários do presidente Donald Trump e do secretário de Comércio Wilbur Ross jogaram água fria na esperança de uma possível trégua a curto prazo na guerra comercial entre EUA e China.

O índice Dow Jones teve o pior dia desde 8 de outubro, e os três principais índices se afastaram ainda mais dos recentes recordes, que haviam sido sustentados pelo otimismo de que um acordo provisório entre EUA e China estava em andamento.

Esse otimismo foi reduzido, já que Trump sugeriu que um acordo teria que esperar até as eleições de 2020 e, separadamente, Ross confirmou que novas tarifas sobre as importações chinesas entrariam em vigor em 15 de dezembro, conforme programado, a menos que progressos substanciais fossem feitos.

Essas declarações --na esteira da ameaça de retaliação pela França sobre possíveis novas taxas dos EUA sobre produtos franceses, esta já uma retaliação à proposta francesa de um "imposto digital"-- sugeriram que a guerra tarifária dos EUA contra seus principais parceiros comerciais continuará a dominar os mercados num futuro previsível.

"O revés nas negociações comerciais chinesas, associado às tarifas francesas em relação aos impostos digitais e tarifas no Brasil e na Argentina para o aço, foi decepcionante para os mercados", disse Stephen Massocca, vice-presidente sênior na Wedbush Securities em San Francisco.

"O impacto a longo prazo dessas negociações pode muito bem ser positivo, mas a implicação a curto prazo pode antecipar uma desaceleração da economia e isso não está bem nas contas do mercado", acrescentou Massocca.

Ações de empresas fabricantes de chips, sensíveis às tarifas, caíram, com o índice Philadelphia de semicondutores em queda de 1,5%, pior dia desde 23 de outubro.

O Dow Jones caiu 1,01%, para 27.502,81 pontos. O S&P 500 perdeu 0,66%, para 3.093,2 pontos. E o Nasdaq Composto cedeu 0,55%, para 8.520,64 pontos.

Nove dos 11 principais setores do S&P 500 fecharam em baixa, com Apple Inc e Intel Corp exercendo a maior pressão negativa sobre o S&P 500.

As ações de energia e dos setores financeiro e industrial --este sensível às questões comerciais-- sofreram a maior queda percentual diária.

Fonte: Reuters

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